Em menos de dois séculos, São Paulo passou de uma região periférica a centro econômico do Brasil, impulsionado por infraestrutura, imigração e transformações industriais, tornando-se referência de riqueza e desenvolvimento na América Latina.
Se fosse uma nação independente, São Paulo superaria em riqueza quase todos os países da América Latina.
Essa realidade, segundo reportagem publicada pelo site BBC Brasil, é resultado de uma profunda transformação que se iniciou há pouco menos de dois séculos, período em que o estado figurava entre as regiões de menor destaque econômico, político e populacional do país.
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Contexto histórico e desafios logísticos
No início do século XIX, São Paulo ainda era uma província discreta, distante das lideranças que Bahia, Pernambuco e Maranhão exerciam devido à exportação de produtos como açúcar e algodão.
Em 1872, a capital paulista contava com cerca de 30 mil habitantes, ocupando apenas a nona posição em população no ranking nacional.
Cidades como Belém tinham o dobro de moradores, enquanto o Rio de Janeiro era quase dez vezes mais populoso.
Conforme apuração do site BBC Brasil, o cenário de pouca relevância se manteve por cerca de 300 anos após a chegada dos portugueses, período em que São Paulo era considerada uma região periférica em relação ao Rio de Janeiro.
A economia paulista, nesse contexto, enfrentava desafios logísticos que limitavam a exportação de produtos agrícolas.
O trajeto entre o interior fértil do estado e o litoral era dificultado pela presença da Serra do Mar, uma barreira natural conhecida como “A Muralha” pelos portugueses.
O transporte de mercadorias se dava por trilhas indígenas e, posteriormente, por uma estrada sinuosa inaugurada no fim do século XVIII, composta por mais de 130 curvas.
Essas limitações restringiam o escoamento de açúcar, tornando a produção paulista menos competitiva em relação a outras províncias.
A virada com a infraestrutura e o café
A virada começou a tomar forma no século XIX, especialmente após a abdicação de Dom Pedro I em 1831, que resultou em maior autonomia para as províncias brasileiras.
Aproveitando a oportunidade, autoridades de São Paulo instituíram pedágios para o transporte de cargas por mulas, medida que gerou recursos direcionados à melhoria das estradas.
Esse investimento em infraestrutura permitiu a expansão das lavouras de café, que passaram a ocupar áreas cada vez mais distantes do litoral e impulsionaram o crescimento econômico local.
O cultivo do café se consolidou como o principal vetor do desenvolvimento paulista, especialmente após a chegada da ferrovia, financiada em grande parte por produtores rurais.
A nova modalidade de transporte facilitou o escoamento da produção até o porto de Santos, conectando São Paulo ao mercado internacional em um momento de forte demanda global pela bebida, com destaque para os Estados Unidos.
O avanço das plantações de café favoreceu o surgimento de cidades no entorno das estações ferroviárias e estimulou a urbanização.
Imigração e transformação do mercado de trabalho
A crescente demanda por mão de obra nas lavouras coincidiu com a proibição do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas em 1850.
Inicialmente, houve migração interna de trabalhadores escravizados do Nordeste para o Sudeste.
Porém, com o fortalecimento do movimento abolicionista e a pressão internacional, a elite paulista precisou buscar alternativas para suprir o déficit de trabalhadores.
Foi então incentivada, a partir do final do século XIX, a chegada em massa de imigrantes estrangeiros, sobretudo europeus.
Entre 1886 e 1956, cerca de 3 milhões de pessoas passaram pela Hospedaria dos Imigrantes, espaço criado para acolher recém-chegados ao estado.
De acordo com a análise publicada pela BBC Brasil, esses imigrantes, oriundos principalmente da Itália, Portugal, Espanha, Alemanha, além de países como Japão, Síria e Líbano, encontraram em São Paulo uma oportunidade de reconstruir suas vidas em meio a crises econômicas e conflitos na Europa.
Sua presença foi fundamental para o desenvolvimento de uma economia baseada no trabalho assalariado, diferente da escravidão predominante em outras regiões do país.
Com salário e poder de compra, esses trabalhadores passaram a impulsionar também o setor industrial, substituindo gradativamente produtos importados por itens fabricados localmente, como tecidos e gêneros alimentícios.
Industrialização e liderança política
O processo de industrialização paulista ganhou impulso adicional durante o período da chamada República Café com Leite, em que as elites de São Paulo e Minas Gerais alternavam o controle do poder político nacional.
Minas Gerais liderava a produção de leite e São Paulo, de café, formando uma aliança estratégica que moldou o cenário político brasileiro entre o final do século XIX e o início do século XX.
No entanto, a crise econômica de 1929 reduziu drasticamente a demanda global por café, afetando o modelo econômico do estado.
O contexto nacional também se alterou com a chegada de Getúlio Vargas ao poder em 1930, que centralizou o governo e nomeou interventores para os estados, limitando sua autonomia.
Em resposta, São Paulo protagonizou a Revolução Constitucionalista de 1932, movimento derrotado militarmente, mas que resultou em avanços importantes para o estado, como a fundação da Universidade de São Paulo (USP) em 1934, referência nacional em pesquisa e ensino superior.
Migração interna e diversidade cultural
Ainda segundo informações destacadas pelo site BBC Brasil, a década de 1930 marcou o início de políticas federais de proteção à indústria nacional, favorecendo o parque industrial paulista.
Com a industrialização em curso, São Paulo tornou-se destino de um intenso fluxo migratório interno, principalmente de nordestinos.
O auge dessa migração ocorreu nas décadas de 1970 e 1980, período em que trabalhadores vindos do Nordeste ocuparam postos fundamentais na construção civil e nas fábricas do estado.
Segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mais de 5 milhões de pessoas residentes em São Paulo nasceram na região Nordeste, representando cerca de 11% da população estadual.
O crescimento populacional e a diversidade cultural trazidos por imigrantes estrangeiros e migrantes de outras regiões brasileiras consolidaram São Paulo como um centro econômico, industrial, científico e multicultural.
Liderança simbólica e poder econômico
Especialistas, no entanto, alertam para o risco de interpretações que atribuam superioridade intrínseca ao estado, especialmente no contexto da valorização de raízes europeias.
Conforme apontado pela reportagem da BBC Brasil, parte da elite paulista utilizou o poder simbólico para consolidar influência política e econômica, promovendo uma visão de liderança diante de outras regiões do país.
Resumidamente, São Paulo construiu sua riqueza ao resolver entraves logísticos por meio de investimentos em infraestrutura, aproveitar o ciclo do café, adotar políticas de atração de imigrantes e estimular a industrialização.
Essas decisões criaram bases sólidas para um desenvolvimento econômico que atravessa séculos e se renova constantemente.
Diante dessa trajetória, quais outros fatores você acredita que contribuíram — ou poderiam ter contribuído — para transformar São Paulo no estado mais rico do Brasil?