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Como o cinturão de água de 1.250 km está vencendo a seca?

Escrito por Carla Teles
Publicado em 20/06/2025 às 11:32
Como o cinturão de água de 1.250 km está vencendo a seca?
Como um “rio” de concreto vence a seca? Conheça o Cinturão de Água do Ceará, a megaobra que usa a gravidade para levar a água do São Francisco ao sertão. Imagem: Canal Construction Time.
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Com mais de 1.250 km planejados, o sistema hídrico usa a gravidade para levar a água do Rio São Francisco ao semiárido cearense, combatendo décadas de seca.

O Ceará, um dos estados mais secos do Brasil, conviveu por décadas com a seca. A água era um recurso escasso, muitas vezes dependente de carros-pipa. Esse cenário está mudando com o Cinturão das Águas do Ceará (CAC). Trata-se de uma das obras hídricas mais ambiciosas do país. Sua missão é redistribuir a água do Rio São Francisco por centenas de quilômetros no território cearense.

O que é o cinturão de água do Ceará (CAC)?

O Cinturão de Águas do Ceará, ou CAC, é um gigantesco sistema hídrico. Ele foi desenhado para cruzar o estado de sul a norte. O objetivo é levar água para regiões que historicamente sofrem com a estiagem. O projeto representa a maior obra hídrica do Ceará e uma das mais importantes do semiárido nordestino.

O investimento total supera R$ 2 bilhões. Desse valor, R$ 1,7 bilhão já foi pactuado com recursos federais. O projeto começa na barragem de Jati, no sul cearense. É lá que a água do Rio São Francisco entra no estado, vinda do eixo norte da transposição. A partir dali, ela se espalha para abastecer dezenas de municípios e grandes reservatórios.

Como o cinturão de água funciona?

A estrutura foi projetada para funcionar de forma prioritariamente gravimétrica. Isso significa que a água desce naturalmente na maior parte do trajeto, sem a necessidade de bombeamento. Essa escolha diminui os custos de operação e torna o cinturão de água mais sustentável a longo prazo. O sistema combina diferentes tecnologias adaptadas à geografia local.

  • Canais: São o coração do CAC. No Trecho 1, somam cerca de 119 km. Eles são escavados no solo, com formato trapezoidal, e revestidos com geomembrana plástica e concreto para evitar vazamentos. A estrutura tem 4,8 metros de altura e capacidade para conduzir até 30.000 litros de água por segundo.
  • Sifões Invertidos: Para atravessar vales, estradas e ferrovias, o sistema usa sifões. São tubos de aço carbono com 2,8 metros de diâmetro que “mergulham” no solo. O Trecho 1 possui 29 sifões, totalizando mais de 19 km de extensão.
  • Túneis: Em regiões montanhosas, como a Serra do Araripe, a solução foi escavar túneis. Foram construídos nove túneis no primeiro trecho, com um total de 5,7 km. A água também flui por gravidade dentro deles, com total segurança.

Os trechos do cinturão de água

A execução do CAC foi dividida em trechos e ramais para otimizar a construção e a operação.

  • Trecho 1: É o mais avançado, com 83,49% de avanço físico. Possui 145,3 km de extensão, ligando a barragem de Jati ao rio Carius. Ele já beneficia diretamente 24 municípios e mais de 5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de Fortaleza por meio de um ramal emergencial em operação desde 2021.
  • Trecho 2: Terá 271 km de extensão, levando a água a partir do fim do Trecho 1 para as regiões mais centrais do estado.
  • Trecho 3: Está projetado com 137 km, conectando o final do Trecho 2 a importantes bacias hidrográficas cearenses.

A estrutura modular permite que cada trecho funcione de forma independente. Isso garante o abastecimento gradual de áreas prioritárias enquanto outras partes ainda estão em construção.

A segurança hídrica para o Ceará

Quando finalizado, o cinturão de água terá uma extensão total estimada em 1.252,65 km. Isso equivale à distância de Fortaleza a Salvador por terra. A obra beneficiará direta e indiretamente mais de 4,5 milhões de pessoas em todo o Ceará. O projeto garante água para o consumo humano, a irrigação agrícola e o suporte a polos industriais.

Embora a Transposição do Rio São Francisco seja mais conhecida, o CAC é a estrutura que garante a distribuição capilar da água dentro do Ceará. Em escala global, o projeto se compara ao National Water Carrier de Israel e ao sistema Sul-Norte da China. A diferença é que o projeto brasileiro foi feito sob medida para o semiárido, com soluções inteligentes e de baixo custo energético, mostrando a capacidade da engenharia nacional de transformar realidades.

Com informações do Canal Construction Time.

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Carla Teles

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