Brasil amplia presença internacional do agronegócio com novas autorizações de exportação para quatro países e busca contornar tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos.
O Brasil ampliou o acesso do agronegócio a quatro novos mercados em Estados Unidos, Irã, Santa Lúcia e Uruguai, segundo anúncio do Itamaraty em 17 de outubro.
A decisão permite vender aos norte-americanos alimento para cães de origem vegetal, enviar ao Irã sementes de abobrinha e de melancia, atender Santa Lúcia com carne de aves, suína e bovina e seus derivados e fornecer ao Uruguai mudas de eucalipto, de oliveira e plantas de ora-pro-nóbis.
O movimento ocorre enquanto Brasil e EUA tratam de tarifa de 50% aplicada por Washington sobre parte dos produtos brasileiros, o que acrescenta peso político e econômico às aberturas.
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Abertura nos Estados Unidos: ração pet vegetal
De acordo com o governo federal, a expansão foi construída por negociações técnicas conduzidas em conjunto por Itamaraty e Ministério da Agricultura, com trocas de informações sanitárias, inspeções e harmonização de requisitos.
No caso dos Estados Unidos, as autoridades aceitaram importações de ração pet de base vegetal fabricada no Brasil, um nicho de alto crescimento impulsionado por consumidores que buscam formulações sem proteína animal.
Entre janeiro e setembro de 2025, as vendas do agro brasileiro aos EUA somaram mais de US$ 9 bilhões, patamar que reforça o potencial de diversificação mesmo sob ambiente tarifário mais duro.
Irã autoriza exportação de sementes brasileiras
Enquanto isso, o Irã autorizou a compra de sementes de abobrinha e de melancia.
A medida aprofunda o comércio já sustentado por itens como milho, responsável por parte relevante do fluxo.
As exportações do agronegócio brasileiro ao mercado iraniano ultrapassam US$ 1,8 bilhão no acumulado do ano, embora a corrente comercial ainda seja assimétrica, com predominância de embarques brasileiros de proteína bovina e derivados.
A liberação de sementes amplia o escopo de produtos e tende a reduzir a dependência de poucos itens.
Santa Lúcia e o papel estratégico no Caribe
Em Santa Lúcia, país da Comunidade do Caribe, houve validação sanitária para carne de aves, suína e bovina, além de seus processados.
Trata-se de um mercado pequeno em consumo interno, porém relevante como ponto de distribuição para ilhas da Caricom.
De janeiro a setembro de 2025, o Brasil exportou mais de US$ 216 milhões em produtos agropecuários para países do bloco caribenho.
A habilitação em Santa Lúcia pode funcionar como vitrine de conformidade sanitária para vizinhos, facilitando novas homologações na região.
Uruguai abre mercado para ora-pro-nóbis e mudas
Já o Uruguai autorizou a importação de mudas de eucalipto e de oliveira e da planta ora-pro-nóbis.
O comércio agropecuário bilateral soma mais de US$ 719 milhões no ano, em especial com proteína animal, produtos florestais, erva-mate, fibras e têxteis.
A inclusão do ora-pro-nóbis — espécie alimentícia não convencional utilizada em gastronomia e na indústria — reforça o intercâmbio de materiais propagativos e amplia oportunidades para viveiros e bioindústrias brasileiras.
Processo técnico e exigências sanitárias
Negociações desse tipo exigem dossiês técnicos, auditorias e a comprovação de equivalência sanitária.
No caso de ração pet vegetal aos EUA, pesaram a rastreabilidade dos insumos, os controles de micotoxinas e a padronização de rotulagem.
Para sementes destinadas ao Irã, o Brasil precisou demonstrar protocolos fitossanitários contra pragas quarentenárias e assegurar certificação de origem e de lotes.
Em Santa Lúcia, as aberturas para carnes dependeram da verificação de Serviço de Inspeção Federal, de programas de bem-estar animal e de sistemas de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle.
No Uruguai, as autorizações para mudas envolveram requisitos de viveiros livres de pragas, testes laboratoriais e quarentena vegetal.
Tarifas e tensão comercial com os EUA
As novas licenças chegaram em um contexto de tensão comercial com os Estados Unidos.
Em agosto, entrou em vigor a alíquota de 50% para parte das importações brasileiras, medida que o governo brasileiro tenta reverter por meio de negociação.
A abertura específica para ração pet de origem vegetal não elimina os efeitos do tarifaço, mas sinaliza disposição de manter canais técnicos abertos e desatar nós pontuais que interessam aos dois lados.
A leitura no setor é que, ao multiplicar concessões sanitárias e fitossanitárias, o Brasil reduz o risco de concentração em poucos destinos e produtos, o que ajuda a amortecer oscilações tarifárias ou políticas.
Impactos econômicos e oportunidades para o agronegócio
Há também efeitos práticos imediatos.
Para a indústria de pet food, a entrada no mercado norte-americano — que é o maior do mundo em faturamento — permite escalar linhas vegetais que vinham ganhando espaço no mercado doméstico.
Para o segmento de sementes hortícolas, a validação no Irã cria uma oportunidade de contratos recorrentes com distribuidores locais, sobretudo em culturas de ciclo curto e alta demanda.
As carnes aprovadas para Santa Lúcia podem ocupar nichos de hotéis, restaurantes e catering regional, com logística de contêineres a partir do Norte e do Nordeste.
E os viveiros brasileiros, com as mudas de eucalipto, oliveira e ora-pro-nóbis para o Uruguai, tendem a ampliar a carteira, inclusive com fornecimento para produtores vizinhos.
Reconhecimento internacional e desafios sanitários
Além de abrir portas, as habilitações reforçam a imagem sanitária do Brasil.
Cada auditoria concluída e cada termo de protocolo assinado funcionam como endosso internacional a sistemas de vigilância, laboratórios oficiais e rastreabilidade.
Ao mesmo tempo, exigem manutenção de padrões: qualquer incidente — seja contaminação, seja inconformidade documental — pode levar à suspensão.
Por isso, indústrias e governo costumam montar planos de contingência para responder a alertas e preservar a habilitação recém-conquistada.
Estratégia de expansão comercial e próximos passos
A estratégia do governo tem sido somar aberturas de baixo e médio risco regulatório — como sementes e ração vegetal — às negociações mais sensíveis, como as de proteína animal em mercados exigentes.
Em paralelo, reforça-se a diplomacia econômica para reduzir barreiras e buscar reconhecimento de equivalências.
Embora “novos mercados” não signifiquem vendas automáticas, a experiência mostra que, uma vez superada a etapa sanitária, empresas conseguem avançar com registros, certificações privadas e ajustes de rotulagem, aproximando-se de contratos.