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Como o BNDES empresta a outros países, avalia o risco de calote e o que acontece quando os governos não pagam a conta

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 17/09/2025 às 21:22
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BNDES empresta via crédito à exportação, com cobertura do FGE. Mas o que acontece quando países não honram bilhões em dívidas?

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é um dos principais instrumentos financeiros do Brasil.

Embora seu papel central seja financiar projetos industriais e de infraestrutura dentro do país, o banco também atua no exterior, sobretudo apoiando exportações brasileiras de bens e serviços.

Esse modelo abriu mercados internacionais para construtoras e fornecedores nacionais, mas também gerou polêmica quando os países receptores não cumpriram os pagamentos, como ocorreu com a Venezuela.

Créditos à exportação: a porta de entrada

Quando o BNDES financia operações internacionais, não concede um empréstimo direto ao governo estrangeiro. A modalidade mais comum é o crédito à exportação, no qual o banco financia a empresa brasileira responsável por obras ou serviços, enquanto o pagamento final recai sobre o país importador.

Esse formato, conhecido como BNDES Exim, tem duas fases: pré-embarque, para que a empresa produza o que será exportado, e pós-embarque, quando o cliente externo assume o compromisso financeiro.

Dessa forma, projetos como portos, rodovias, aeroportos e metrôs na América Latina e na África foram executados com apoio do BNDES, que buscava não apenas estreitar laços diplomáticos, mas também fortalecer a internacionalização das companhias brasileiras.

 Hidrelétrica de San Francisco (Equador) , Valor da obra – US$ 243 milhões – Empresa responsável – Odebrecht
Após a conclusão da obra, o governo equatoriano questionou a empresa brasileira sobre defeitos apresentados pela planta. A Odebrecht foi expulsa do Equador e o presidente equatoriano ameaçou dar calote no BNDES

As garantias e o papel do Estado brasileiro

Como o risco de inadimplência em operações internacionais é elevado, o BNDES exige garantias do importador e, em muitos casos, o uso do Seguro de Crédito à Exportação (SCE). Esse seguro é coberto pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE), criado pela Lei 9.818/1999.

O mecanismo funciona assim: se o país ou empresa estrangeira deixar de pagar, o FGE indeniza o BNDES, mas a dívida passa a ser responsabilidade do Tesouro brasileiro, que depois tenta recuperar os valores por meio de renegociações ou ações internacionais.

Em outras palavras, o risco é socializado e acaba impactando as contas públicas.

Avaliação de risco e controle institucional

O BNDES aplica critérios técnicos de análise de risco que incluem indicadores econômicos, situação fiscal, estabilidade institucional e a capacidade histórica de pagamento do país receptor. As operações são revisadas por comitês internos e aprovadas pela diretoria colegiada do banco.

Além disso, o Tribunal de Contas da União (TCU) audita regularmente esses processos. Em 2024 e 2025, o TCU arquivou investigações sobre operações passadas por falta de irregularidades comprovadas, embora tenha mantido recomendações para reforçar metodologias e transparência.

O sistema busca equilibrar a necessidade de abrir mercados para as empresas brasileiras com a proteção do dinheiro público.

Barragem de Moamba Major (Moçambique) – Valor da obra – US$ 460 milhões (US$ 350 milhões por parte do BNDES)
Empresa responsável – Andrade Gutierrez –

Venezuela: do financiamento ao calote

O caso mais emblemático é o da Venezuela. O país recebeu recursos significativos do BNDES para obras de infraestrutura durante a década passada. No entanto, com a intensificação da crise política e econômica, deixou de pagar seus compromissos em 2018.

Segundo dados do Ministério da Fazenda brasileiro, em fevereiro de 2025 a dívida venezuelana com o Brasil superava os R$ 10,3 bilhões, incluindo coberturas do FGE e juros de mora. Até o momento, não existe negociação efetiva para a devolução do dinheiro, o que torna essa operação uma das mais custosas para os cofres brasileiros.

Esse calote se soma ao fato de que a Venezuela também está em default de sua dívida externa desde 2017, o que reduz ao mínimo as chances de pagamento no curto prazo.

Lições e perspectivas

O episódio venezuelano se transformou em um símbolo dos riscos das operações internacionais do BNDES. Embora o modelo tenha permitido que empresas brasileiras conquistassem contratos no exterior, os custos da inadimplência recaem sobre o Tesouro Nacional quando os devedores não cumprem suas obrigações.

Atualmente, as regras para novas operações são mais rígidas e priorizam a transparência e a avaliação de riscos políticos e financeiros.

O objetivo é manter a possibilidade de abrir mercados para as exportações nacionais, mas com maior controle para evitar que casos como o da Venezuela voltem a comprometer recursos públicos em escala tão significativa.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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