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Como a Vale vai eliminar o uso de água e reduzir barragens com teor metálico elevado e bilhões em tecnologia?

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 31/07/2025 às 21:33
Vale anuncia fim do uso de água no processamento de minério em Carajás até 2027 com tecnologia e projetos inovadores. Saiba mais.
Vale anuncia fim do uso de água no processamento de minério em Carajás até 2027 com tecnologia e projetos inovadores. Saiba mais.
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A Vale avança para operar com tecnologia de processamento seco em Carajás até 2027, apostando em investimentos bilionários e projetos pioneiros para minimizar riscos ambientais e transformar o cenário da mineração nacional.

A Vale anunciou que irá eliminar completamente o uso de água no processamento de minério de ferro em Carajás, no Pará, até 2027, como parte de um amplo esforço para modernizar e tornar mais sustentável sua operação mineral no Brasil.

A decisão foi apresentada durante visita de jornalistas à unidade da empresa em Parauapebas, quando executivos detalharam o cronograma para substituir os últimos 10% das operações ainda dependentes de água por processos totalmente secos.

A iniciativa ganhou força nos últimos anos, impulsionada por acidentes ambientais graves envolvendo barragens, como os de Brumadinho e Mariana, ambos em Minas Gerais.

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De acordo com a Vale, aproximadamente 90% do chamado Sistema Norte já adota métodos secos no beneficiamento do minério de ferro.

Das 17 linhas de peneiramento existentes na usina 1 da Serra Norte, seis ainda utilizam água.

Por outro lado, as atividades nas serras Sul e Leste já ocorrem integralmente por meio de processos a seco.

“Ao final de 2027 já estarão 100% a seco, aí todo o Sistema Norte será 100% umidade natural”, afirmou Gildiney Sales, diretor do Corredor Norte da Vale.

O Sistema Norte produziu 177,5 milhões de toneladas de minério de ferro em 2024, superando metade do total produzido pela mineradora no ano, que somou 327,7 milhões de toneladas.

Mina de Serra Sul (S11D) não utiliza água no seu processo de beneficiamento mineral/Foto: RicardoTeles
Mina de Serra Sul (S11D) não utiliza água no seu processo de beneficiamento mineral/Foto: RicardoTeles

Investimento bilionário e tecnologia viabilizam o processamento seco

A transição para o processamento a seco tornou-se viável em Carajás devido às características únicas das reservas da região e ao investimento maciço realizado pela empresa nos últimos 15 anos.

Segundo Tiago Leite, gerente de mina da Vale, o alto teor de ferro presente no minério local — entre 62% e 68% — permite adoção de rotas tecnológicas mais avançadas, que dispensam o uso intensivo de água.

“Carajás tem um teor metálico de reserva que permite uma rota tecnológica que poucos lugares permitem”, explicou Leite.

Embora a mineradora não tenha revelado o valor exato dos recursos aplicados, informou que foram investidas “dezenas de bilhões de reais” no desenvolvimento dessas soluções.

A eliminação do uso de água, de acordo com a Vale, traz ganhos ambientais expressivos ao evitar a geração de rejeitos no processo produtivo.

Isso elimina a necessidade de construção de novas barragens de rejeitos para armazenamento e contribui para uma operação mais sustentável e segura.

Outro ponto destacado pela companhia é a simplificação dos processos industriais, fator que pode reduzir custos e aumentar a competitividade, embora Gildiney Sales tenha preferido não detalhar o impacto econômico direto da medida, mantendo esses dados sob sigilo empresarial.

Regras mais rígidas após acidentes e o papel das barragens

O contexto em que a Vale promove essa mudança é marcado por um ambiente regulatório cada vez mais rigoroso para a mineração brasileira.

Após as tragédias de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), que envolveram barragens da própria Vale, órgãos como o Ministério Público Federal e a Agência Nacional de Mineração (ANM) intensificaram a fiscalização e impuseram regras mais estritas para o setor.

A Política Nacional de Segurança de Barragens, revisada em 2020, estabeleceu novos padrões técnicos e de monitoramento, elevando os custos de manutenção e operação dessas estruturas.

Neste cenário, eliminar barragens passa a ser também uma resposta estratégica às cobranças regulatórias e sociais por maior segurança nas operações.

Apesar do avanço em Carajás, a transição para o processamento seco ainda não resolve integralmente o passivo ambiental da mineradora.

A Vale mantém dezenas de barragens em operação em outros complexos minerários, algumas classificadas como de alto risco pelos órgãos de fiscalização, o que segue demandando vigilância e investimento contínuos.

Projeto Gelado reaproveita rejeitos e amplia produção sustentável

Além da mudança no beneficiamento, a Vale executa o Projeto Gelado, iniciativa voltada ao reaproveitamento de rejeitos acumulados desde 1985 na barragem de mesmo nome, situada na Serra Norte.

O projeto emprega dragas elétricas para extrair cerca de 120 milhões de toneladas de material depositado, com teor de ferro entre 62% e 64,5%.

O objetivo é transformar esse material em “pellet feed” — produto utilizado na fabricação de pelotas de minério —, ampliando o aproveitamento dos recursos minerais e reduzindo o impacto ambiental.

Em 2024, a produção de “pellet feed” proveniente do Gelado alcançou 2,5 milhões de toneladas, com previsão de crescimento para 5 milhões de toneladas em 2026 e 6 milhões em 2027.

Gildiney Sales avaliou o andamento do projeto como positivo, mas mencionou que “algumas adequações” foram necessárias após o início da operação, destacando o caráter inédito da iniciativa em escala industrial no Brasil.

Desafios de resultados econômicos e ambientais ainda em avaliação

A Vale argumenta que a eliminação do uso de água e de barragens para armazenamento de rejeitos representa um marco para a mineração nacional, sobretudo em relação à redução de riscos ambientais e operacionais.

No entanto, a companhia ainda não divulga informações detalhadas sobre os ganhos econômicos associados a essa transição.

Especialistas apontam que, sem dados abertos sobre margens de lucro ou competitividade do produto oriundo de rejeitos, não é possível mensurar integralmente os resultados econômicos do investimento.

A experiência recente do Projeto Gelado também evidencia que a adoção de tecnologias inovadoras pode enfrentar desafios inesperados, exigindo ajustes após a implementação inicial.

A capacidade da Vale em cumprir o cronograma de transição até 2027 dependerá, principalmente, do sucesso na conversão das últimas linhas que ainda utilizam água e da superação de obstáculos técnicos inerentes à escala industrial.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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