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Como a decisão de um grupo de países em Viena pode fazer o preço da gasolina no Brasil subir ou despencar na semana seguinte

Publicado em 19/06/2025 às 19:16
A "arma" da OPEP+: como uma decisão em Viena afeta o preço da gasolina no seu bolso
A “arma” da OPEP+: como uma decisão em Viena afeta o preço da gasolina no seu bolso
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Um grupo de países produtores de petróleo, liderado pela Arábia Saudita e Rússia, tem o poder de controlar a oferta mundial e ditar os preço da gasolina

Uma decisão tomada em uma sala de reuniões em Viena, na Áustria, por um cartel de países produtores de petróleo, tem o poder de fazer o preço da gasolina no Brasil subir ou despencar em questão de dias. Essa conexão direta, embora pareça distante, é o que dita o custo de um dos produtos mais essenciais para a economia brasileira.

No centro de tudo está a OPEP+, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados. Usando cortes ou aumentos coordenados na produção como uma verdadeira “arma” econômica, o grupo manipula o preço do barril de petróleo no mercado internacional. Essa decisão inicia uma complexa corrente: o preço do barril sobe ou desce no mercado global, a Petrobras filtra parte do impacto e, no final, a conta chega à bomba.

OPEP+, o supercartel que controla o petróleo mundial

Para entender o impacto no preço da gasolina, primeiro é preciso conhecer quem aperta o gatilho. A OPEP+ é uma aliança formada em 2016 que une os 12 países da OPEP, como Arábia Saudita e Venezuela, a outras 10 nações produtoras, com a Rússia como principal aliada. Juntos, eles formam um supercartel que controla cerca de 60% da produção mundial de petróleo e 90% das reservas provadas do planeta.

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A principal “arma” do grupo é o gerenciamento da oferta. Quando querem que o preço do barril de petróleo suba, eles se reúnem em Viena e combinam um corte na produção. Com menos produto no mercado, o preço sobe. Quando querem o contrário, aumentam a produção. Esse poder de fogo torna suas reuniões eventos cruciais para a economia global.

O efeito imediato no mercado, a reunião de maio de 2025 que derrubou os preços

Como a decisão de um grupo de países em Viena pode fazer o preço da gasolina no Brasil subir ou despencar na semana seguinte

As decisões da OPEP+ têm impacto imediato no preço do barril de petróleo Brent, a principal referência mundial. Um exemplo claro aconteceu na reunião de 31 de maio de 2025. Contrariando algumas expectativas, o grupo anunciou um plano para aumentar gradualmente sua produção a partir de outubro desse ano.

A reação do mercado financeiro foi instantânea e brutal, principalmente no preço da gasolina. Com a perspectiva de mais petróleo inundando o mercado, o preço do Brent despencou, chegando a ficar próximo de US$ 60 por barril, a cotação mais baixa em quatro anos. Esse movimento mostra como uma única decisão do cartel pode definir a direção dos preços em todo o mundo.

A barragem da Petrobras, como a estatal segura a onda dos preços internacionais

Depois que o preço do Brent é definido lá fora, o sinal chega ao Brasil, mas ele não é transmitido diretamente para a bomba. Ele primeiro passa pelo filtro da Petrobras. Em maio de 2023, a estatal abandonou a Política de Paridade de Importação (PPI), que repassava a volatilidade internacional e do dólar quase que diariamente para as refinarias.

A nova estratégia comercial é mais complexa e menos transparente. Na prática, ela permite que a Petrobras segure os reajustes e absorva parte dos choques externos, criando uma “defasagem” em relação ao preço internacional. Isso explica por que, muitas vezes, o petróleo sobe lá fora, mas o reajuste aqui demora alguns dias ou semanas para acontecer, ou vem com menor intensidade.

Por que o preço não cai na mesma proporção

Mesmo quando a Petrobras anuncia uma redução, o alívio na bomba nunca é na mesma proporção. Isso acontece porque o valor definido pela estatal é apenas uma parte do preço final. Em junho de 2025, por exemplo, a parcela da Petrobras no preço da gasolina era de apenas 42,7%.

O restante do valor é uma soma de outros fatores: o custo do etanol anidro, que é misturado à gasolina, as margens de lucro das distribuidoras e dos postos e, principalmente, uma pesada carga de impostos. Tributos como o ICMS (estadual) e PIS/COFINS (federal) são valores fixos cobrados por litro. Ou seja, mesmo que o preço do petróleo caia pela metade, o valor do imposto continua o mesmo, limitando a queda do preço da gasolina para o consumidor.

Em resumo: mais da metade do que você paga no posto não tem relação direta com o preço do petróleo, e sim com impostos e outros custos fixos.

A subida rápida e a descida lenta do preço da gasolina

Essa estrutura explica um fenômeno bem conhecido pelo consumidor brasileiro: o efeito “foguete e pena”. Os preços sobem rapidamente, como um foguete, mas caem lentamente, como uma pena. Quando a Petrobras anuncia uma alta, os postos repassam o aumento imediatamente para não ter prejuízo.

No entanto, quando há uma queda, a história é outra. A combinação da rigidez dos impostos fixos e a possibilidade de os postos e distribuidoras aumentarem suas margens de lucro faz com que a redução de preço seja muito mais lenta e, por vezes, nem chegue integralmente ao consumidor.

É o último elo da corrente, onde a decisão tomada em Viena finalmente se dilui, deixando o motorista com a frustrante sensação de que o preço sobe de elevador, mas desce de escada.

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Maria Heloisa Barbosa Borges

Falo sobre construção, mineração, minas brasileiras, petróleo e grandes projetos ferroviários e de engenharia civil. Diariamente escrevo sobre curiosidades do mercado brasileiro.

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