1. Início
  2. / Mineração
  3. / Como a China assumiu o controle absoluto sobre o setor de terras raras, consolidando mineradoras, impondo cotas e travando exportações de tecnologia estratégica
Tempo de leitura 4 min de leitura Comentários 0 comentários

Como a China assumiu o controle absoluto sobre o setor de terras raras, consolidando mineradoras, impondo cotas e travando exportações de tecnologia estratégica

Escrito por Jefferson Augusto
Publicado em 08/07/2025 às 12:50
Trabalhador chinês inspeciona minério em mina de terras raras com escavadeiras e refinaria ao fundo, sob controle estatal
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Medidas adotadas nos últimos 15 anos transformaram o maior produtor global em potência reguladora das terras raras, com impacto direto na indústria automotiva e tecnológica mundial

A China reforçou drasticamente seu domínio sobre o setor de terras raras nos últimos anos, consolidando mineradoras, restringindo exportações e impondo rastreamento total da cadeia de produção. As informações são da Reuters, com base em documentos e análises divulgadas em 7 de julho de 2025. Em abril deste ano, o país asiático impôs novas restrições ao comércio desses insumos estratégicos, provocando escassez global em menos de dois meses e obrigando montadoras a interromperem a produção.

Esse movimento contrasta com o cenário de 2010, quando, durante uma crise diplomática com o Japão, Pequim tentou conter exportações, mas acabou sendo sabotada por redes ilegais de mineração e contrabando. Hoje, o setor está completamente reformulado e sob rígido controle do governo chinês, responsável por 90% da capacidade global de processamento.

Por meio de fusões, cotas e rastreamento digital, o país transformou o que antes era um mercado caótico e fragmentado em uma ferramenta geopolítica poderosa, afetando diretamente a oferta global de elementos essenciais para a produção de ímãs, baterias, chips e equipamentos militares.

Consolidação eliminou centenas de mineradoras ilegais e fortaleceu estatais

Até 2010, a indústria de terras raras na China era composta por centenas de mineradoras e refinadoras independentes, muitas delas operando ilegalmente. Esse cenário começou a mudar com uma série de medidas que culminaram, em 2013, com a formação de dez grupos dominantes. Atualmente, restaram apenas duas gigantes estatais: China Rare Earth Group e China Northern Rare Earth Group High-Tech.

Essa consolidação deu ao governo controle direto sobre a produção e exportação, além de permitir a aplicação de normas ambientais mais rígidas. De acordo com o professor David Abraham, da Boise State University, o modelo chinês reduziu significativamente os danos ambientais provocados pela mineração ilegal.

No passado, redes clandestinas levavam minério bruto para instalações não autorizadas de separação e, posteriormente, exportavam os produtos processados como se fossem mercadorias legais. Em 2014, cerca de 40 mil toneladas de óxidos de terras raras foram contrabandeadas para fora do país — um volume 50% maior que o das exportações oficiais naquele ano.

Rastreamento de ímãs e cotas de produção reforçam controle total

Embora o setor de ímãs ainda não tenha sido totalmente consolidado como o de mineração e refino, novas regras entraram em vigor em junho de 2025, exigindo que fabricantes informem volumes produzidos, transações e dados dos clientes. A medida visa permitir o rastreio completo da cadeia, do minério à peça final.

Simultaneamente, as cotas de produção, criadas em 2006, se tornaram outro instrumento-chave para controlar o fornecimento global. Em 2024, apenas os dois conglomerados estatais receberam autorizações de produção, ante seis no período anterior. Além disso, o ritmo de crescimento da oferta foi severamente reduzido: enquanto em 2023 o aumento anual das cotas foi de 21,4%, no ano seguinte foi de apenas 5,9%.

Para 2025, analistas acreditam que o crescimento das cotas deve ser nulo ou inferior a 5%, o que reforça a intenção do governo chinês de manter os preços elevados e a oferta restrita.

Tecnologia para produção de ímãs também foi incluída nas restrições

Além das cotas físicas, a China também bloqueia exportações de tecnologia necessária para a separação e refino de terras raras. Desde 2023, essa proibição se estende às técnicas utilizadas na fabricação de ímãs, elementos essenciais para motores elétricos, turbinas e sistemas de guiagem de mísseis.

Com isso, países que dependem de importações — como Estados Unidos, Japão e membros da União Europeia — enfrentam dificuldades para diversificar sua cadeia de suprimentos. Mesmo com iniciativas para desenvolver produção própria, esses países esbarram na falta de tecnologia e infraestrutura, atualmente concentradas na China.

A medida é vista como parte de uma estratégia mais ampla de uso das terras raras como ferramenta diplomática, além de instrumento de retaliação econômica em disputas comerciais e geopolíticas.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Jefferson Augusto

Profissional com experiência militar no Exército, Inteligência Setorial e Gestão do Conhecimento no Sebrae-RJ e no Mercado Financeiro por meio de um escritório da XP Investimentos. Trago um olhar único sobre a indústria energética, conectando inovação, defesa e geopolítica. Transformo cenários complexos em conteúdo relevante sobre o futuro do setor de petróleo, gás e energia. Envie uma sugestão de pauta para: jasgolfxp@gmail.com

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x