A história automotiva é repleta de tentativas inusitadas de alimentar veículos. Dos carros a lenha (gasogênio) utilizados no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial aos protótipos movidos a vento, explore alguns dos mais estranhos combustíveis bizarros e tecnologias alternativas já imaginadas.
A busca por energia para mover automóveis nem sempre seguiu o caminho convencional da gasolina ou do diesel. Ao longo da história, especialmente em tempos de crise ou de grande otimismo tecnológico, a criatividade humana deu origem a soluções energéticas verdadeiramente inusitadas, algumas engenhosas, outras desesperadas, e muitas que hoje consideramos combustíveis bizarros.
No Brasil, a escassez imposta pela Segunda Guerra Mundial fez com que carros fossem adaptados para queimar lenha através do sistema de gasogênio. Houve até mesmo protótipos ousados, como um carro movido por uma hélice gigante, testando os limites da engenharia nacional. Vamos relembrar alguns dos combustíveis bizarros e tecnologias alternativas que já tentaram (ou ainda tentam) impulsionar nossos veículos ao redor do mundo.
O carro a vento brasileiro: o curioso protótipo FEI X-1 e sua propulsão por hélice gigante
Em uma demonstração de criatividade paulista, um notável protótipo surgiu de uma faculdade de engenharia: o FEI X-1. Este veículo peculiar, com carroceria de madeira para ser leve (380 kg), não dependia da combustão tradicional. Sua propulsão principal vinha de uma hélice, similar à de um avião, e era capaz até de navegar na água.
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Para iniciar o movimento, utilizava um motor Gordini, mas sua caixa de câmbio era rudimentar, com apenas primeira marcha e ré. Embora fosse um exercício de engenharia interessante, o FEI X-1 enfrentava desvantagens óbvias de segurança e eficiência para uso prático, permanecendo como um curioso capítulo da busca por alternativas aos combustíveis bizarros ou convencionais no Brasil.
Gasogênio: o combustível da crise que fez carros brasileiros e de outras nações queimarem lenha e carvão
A Segunda Guerra Mundial impôs uma severa escassez de combustíveis, forçando nações a buscar alternativas drásticas. No Brasil, uma solução foi o gasogênio, um sistema que permitia a veículos rodarem com carvão vegetal, mineral ou lenha. O famoso piloto Chico Landi chegou a vencer campeonatos usando carvão de nó de pinho em seu Buick adaptado.
O sistema funcionava através da combustão incompleta da matéria-prima em um gerador, produzindo um “gás de síntese” para alimentar o motor. Ligar era um ritual complexo, e os veículos sofriam perda de potência (cerca de 35%), além de exigirem manutenção diária e apresentarem risco de vazamento de gases tóxicos. Apesar de ser um retrocesso tecnológico, o gasogênio foi crucial para manter o transporte funcionando.
Balões no teto e o sonho da energia atômica: outros combustíveis bizarros e ideias futuristas que marcaram época
Na Europa, durante as Guerras, veículos foram adaptados para usar “gás de cidade” (subproduto do carvão mineral), armazenado em enormes sacos de tecido emborrachado, como balões, no teto dos carros. A baixa densidade energética resultava em pouca autonomia (um saco de 13 m³ para 50 km) e a aerodinâmica era péssima.
Já nos anos 50, a Ford apresentou o conceito do Ford Nucleon, um carro que prometia 8000 km de autonomia com um reator nuclear compacto na traseira. A ideia, alinhada à “Era Atômica”, esbarrou em desafios intransponíveis de peso da blindagem, segurança e descarte do material nuclear, nunca passando da fase de maquete, sendo um dos mais lembrados entre os combustíveis bizarros (ou fontes de energia) já propostos.
Quando esterco, esgoto e até tequila viraram combustíveis bizarros (ou nem tanto assim)
O inventor britânico Harold Bate, nos anos 70, adaptou seu carro para rodar com gás metano de esterco de galinha. Mais recentemente, a francesa ARM Engineering usa resíduos orgânicos para produzir biocombustível (G-H3) para um Renault Zoe elétrico com célula de combustível, quebrando recordes de autonomia. O lodo de esgoto também gera biometano, usado no Brasil em ônibus, e a Hyundai pesquisou hidrogênio de fezes humanas.
O próprio Rudolf Diesel usou óleo de amendoim em seu motor em 1900, e hoje o biodiesel e o diesel renovável são realidades. Curiosamente, um Chrysler com motor a turbina nos anos 60 teria funcionado com tequila e até perfume Chanel Nº5, mais como demonstração de versatilidade do que uma alternativa viável.
Das promissoras algas marinhas às valiosas lições dos combustíveis bizarros do passado
Atualmente, a Mazda, em parceria com universidades japonesas, investe em biocombustíveis a partir de microalgas, otimizadas por edição de genoma para aumentar a produção de óleo. A vantagem é não competir com culturas alimentares e ter um ciclo potencialmente neutro em carbono.
A história dos combustíveis bizarros ensina sobre a importância da necessidade (crises) e da visão de futuro para a inovação. Muitas ideias, como o uso de resíduos orgânicos, que pareceram excêntricas, encontram nova relevância hoje, impulsionadas pela busca por sustentabilidade e pelas lições aprendidas sobre segurança, viabilidade econômica e aceitação pública.