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Com sabor de chocolate? Cientistas brasileiros criam mel feito com casca de cacau e prometem revolucionar o mercado com um produto saudável e sustentável

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 20/10/2025 às 10:33
Mel com sabor de chocolate desenvolvido pela Unicamp a partir de casca de cacau e abelhas nativas.
Mel com sabor de chocolate criado por pesquisadores da Unicamp a partir da casca do cacau.
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Pesquisadores da Unicamp transformaram o resíduo da produção de chocolate em uma inovação saborosa e ecológica: um mel enriquecido com cafeína e teobromina, que alia sabor, nutrição e sustentabilidade

Um grupo de cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acaba de desenvolver uma criação surpreendente: um mel com sabor de chocolate. A inovação nasceu da combinação entre mel de abelhas nativas sem ferrão e a casca da amêndoa do cacau, um resíduo que normalmente é descartado na produção de chocolate. O resultado é um alimento funcional, cheio de compostos bioativos e com grande potencial para uso nas indústrias alimentícia e cosmética.

De acordo com o estudo publicado na revista ACS Sustainable Chemistry & Engineering, o mel atua como um solvente comestível natural, extraindo das cascas compostos estimulantes como teobromina e cafeína — substâncias conhecidas por seus efeitos positivos sobre a saúde cardíaca e pela ação energética. O método utilizado, chamado de extração assistida por ultrassom, não apenas manteve as propriedades do mel original, como o enriqueceu com compostos fenólicos, potentes antioxidantes e anti-inflamatórios naturais.

Um mel que lembra chocolate e pode mudar o futuro da alimentação saudável

Embora os pesquisadores ainda estejam conduzindo testes sensoriais para avaliar o sabor e a textura do novo mel, os primeiros resultados empolgaram o time da Unicamp. Segundo os próprios cientistas, a depender da proporção entre mel e casca de cacau, o produto apresenta um sabor marcante de chocolate, além de textura agradável e cor mais intensa.

Felipe Sanchez Bragagnolo, primeiro autor do estudo e pesquisador de pós-doutorado na Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) da Unicamp, afirmou que a ideia não é apenas oferecer um novo sabor ao público, mas criar um alimento funcional de alto valor nutricional. “Claro que o apelo maior para o público é o sabor, mas nossas análises mostraram que ele tem uma quantidade de compostos bioativos que o tornam interessante também do ponto de vista nutricional e cosmético”, explicou o pesquisador, que desenvolveu o trabalho com apoio da FAPESP.

Cascas de amêndoas de cacau contêm teobromina e cafeína, compostos transferidos para o mel de abelhas sem ferrão por meio de extração ultrassônica — Foto: Felipe Bragagnolo/FCA-Unicamp

A informação foi divulgada pelo portal Globo Rural, que destacou que o projeto se enquadra nos princípios da química verde, já que reutiliza um resíduo agroindustrial e substitui solventes químicos por um ingrediente 100% natural.

Abelhas nativas e biodiversidade brasileira como aliadas da inovação

Um dos diferenciais mais interessantes do estudo é o uso de abelhas nativas brasileiras, conhecidas por não possuírem ferrão e por produzirem méis com maior teor de água e menor viscosidade. Essas características tornam o mel mais adequado para funcionar como solvente natural durante o processo de extração.

Os cientistas testaram méis de cinco espécies comuns no Brasil: borá (Tetragona clavipes), jataí (Tetragonisca angustula), mandaçaia (Melipona quadrifasciata), mandaguari (Scaptotrigona postica) e moça-branca (Frieseomelitta varia). Entre elas, o mel da mandaguari apresentou equilíbrio ideal entre água e viscosidade, sendo o escolhido para otimizar a técnica.

Segundo Bragagnolo, o método pode ser facilmente adaptado a outros tipos de mel, conforme a disponibilidade regional e as condições climáticas. “O mel é muito sensível às condições externas, como temperatura e armazenamento. Por isso, o processo pode ser ajustado para cada variedade local”, explica o pesquisador, reforçando o potencial sustentável e de baixo impacto ambiental da técnica.

Tecnologia limpa: como funciona a extração por ultrassom

O processo de extração assistida por ultrassom é considerado um marco na chamada química verde, por ser mais rápido, seguro e ecológico. Ele utiliza uma sonda metálica — semelhante a uma caneta — que vibra em alta frequência dentro do recipiente contendo o mel e as cascas de cacau. Essas vibrações geram microbolhas que implodem, elevando a temperatura local e rompendo as paredes celulares do material vegetal. Assim, os compostos bioativos migram para o mel, enriquecendo-o.

Além da eficiência, o método reduz a necessidade de produtos químicos e energia, tornando-se uma alternativa ambientalmente amigável para a indústria de alimentos e cosméticos. Os cientistas também planejam novos estudos para entender o impacto do ultrassom sobre a microbiologia do mel, já que o processo pode eliminar microrganismos indesejáveis e prolongar a vida útil do produto.

Segundo o artigo da Unicamp, essa técnica reforça o papel da pesquisa científica brasileira na criação de soluções que unem inovação, sustentabilidade e aproveitamento de resíduos naturais. Com isso, o país se posiciona na vanguarda de uma nova geração de alimentos funcionais e ingredientes naturais de alto valor agregado.

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Felipe Alves da Silva

Sou Felipe Alves, com experiência na produção de conteúdo sobre segurança nacional, geopolítica, tecnologia e temas estratégicos que impactam diretamente o cenário contemporâneo. Ao longo da minha trajetória, busco oferecer análises claras, confiáveis e atualizadas, voltadas a especialistas, entusiastas e profissionais da área de segurança e geopolítica. Meu compromisso é contribuir para uma compreensão acessível e qualificada dos desafios e transformações no campo estratégico global. Sugestões de pauta, dúvidas ou contato institucional: fa06279@gmail.com

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