Com investimento de R$ 3 bilhões, o complexo AeroCITI, em Guaíba, promete transformar o Rio Grande do Sul em um polo aeronáutico e produzir o primeiro avião de transporte movido a etanol do mundo até 2032
O Rio Grande do Sul se prepara para receber um novo marco industrial. A Aeromot, empresa brasileira do setor aeronáutico, anunciou a construção de um megaprojeto, um grande complexo em Guaíba, na região metropolitana de Porto Alegre.
O espaço, batizado de AeroCITI (Aerocentro Integrado de Tecnologia e Inovação), promete transformar a região em um polo da aviação no país, com investimento total estimado em R$ 3 bilhões e meta de produzir 50 aeronaves por ano até 2032.
Além da fábrica, o projeto prevê hangares, um centro de pesquisa, áreas de lazer e até um Museu do Avião a céu aberto.
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Mas o destaque é outro: o desenvolvimento do primeiro avião de transporte movido a etanol do mundo, um passo inédito rumo à descarbonização da aviação.
Megaprojeto no RS: A “metrópole do avião” em Guaíba
O megaprojeto da Aeromot ocupará uma área de 540 hectares, com espaço suficiente para hangares de diversas empresas, parte deles custeados por companhias parceiras.
A infraestrutura também permitirá receber pousos comerciais em caso de emergência com o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
A obra conta com apoio público. O governo estadual aprovou uma lei para doar parte do terreno, enquanto o município de Guaíba concedeu incentivos fiscais para atrair investimentos.
Segundo a Aeromot, o AeroCITI será mais do que uma fábrica: um centro de inovação e cooperação tecnológica.
O CEO da empresa, Guilherme Cunha, afirmou que o complexo atenderá não apenas o Brasil, mas também países do Mercosul.
“A Diamond tem capacidade produtiva limitada. Trabalhamos em uma estratégia de transferência de tecnologia para criar uma base na América do Sul e dar suporte a todos esses países”, explicou.
Produção nacional e redução de prazos
O primeiro modelo a sair da linha de montagem será o Diamond DA62, um bimotor de luxo apelidado de “SUV dos ares”, com capacidade para sete passageiros.
Fabricado pela Diamond Aircraft, empresa austríaco-canadense controlada pelo grupo chinês Wanfeng Auto Holding Group, o modelo já é importado pela Aeromot desde 2016.
Atualmente, a empresa já trouxe ao país mais de 100 unidades do DA62, mas agora pretende fabricá-las em território nacional. Com isso, o tempo de espera por uma aeronave pode cair de 27 meses para cerca de nove.
A montagem inicial deve começar em janeiro de 2027, ainda com componentes importados. A previsão é de produzir três unidades no primeiro ano, ampliando gradualmente até ter toda a linha instalada no país em 2032.
Cunha acredita que o novo ciclo poderá impulsionar financiamentos nacionais e atrair mais compradores.
“Hoje, 90% das vendas são à vista. Não há incentivo. A ideia é transformar esse modelo em um produto brasileiro, com financiamento local”, afirmou.
O avião movido a etanol
Enquanto estrutura a produção do DA62, a Aeromot trabalha em outro projeto ousado: o primeiro avião de transporte movido a etanol.
A pesquisa é realizada em parceria com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), empresa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O modelo será bimotor e está em desenvolvimento há mais de um ano. Hoje, o etanol é usado quase exclusivamente em aeronaves agrícolas, mas a Aeromot quer levá-lo ao transporte de passageiros em até cinco anos.
Para o CEO, o investimento tem caráter estratégico. “A aviação vai passar por uma grande transformação nas próximas décadas, e a descarbonização é inevitável. É preciso estar preparado para isso”, declarou.
Parcerias com universidades e tecnologia nacional
A Aeromot mantém parcerias com universidades e centros de pesquisa que utilizarão o espaço do AeroCITI.
Entre eles estão a UFMG, o Instituto BI0S da Unicamp, a Ulbra, a UFRGS, o Parque Tecnológico de São José dos Campos e a PUC-RS.
Essas colaborações devem fortalecer a integração entre academia e indústria, acelerando o desenvolvimento de soluções voltadas à sustentabilidade e inovação tecnológica.
O complexo também contará com um Museu do Avião de 24 mil m², pista de caminhada e áreas de recreação, reforçando o caráter público e educativo do empreendimento.
Tradição e experiência no setor aéreo
Fundada há 58 anos, a Aeromot acumula uma longa trajetória no setor aeronáutico. Nas últimas décadas, concentrou-se em distribuição e modificação de aeronaves, adaptando modelos para missões de segurança pública, saúde e vigilância aérea.
Durante a Copa do Mundo de 2014, a empresa colaborou com o sistema de segurança e logística aérea em todo o país.
Antes disso, entre os anos 1980 e 2000, a Aeromot fabricou dois modelos próprios: o Guri e o Ximango, ambos com capacidade para até duas pessoas e amplamente utilizados por forças aéreas estrangeiras. Cada um contabiliza mais de 100 unidades vendidas.
Atualmente, os números ainda são pequenos se comparados a outras fabricantes brasileiras, como a Flyer Indústria Aeronáutica, com 2,3 mil aeronaves produzidas em 40 anos, e a Embraer, líder nacional, com centenas de aviões comerciais fabricados por ano.
Megaprojeto AeroCITI: perspectivas para o futuro
Com o megaprojeto AeroCITI, a Aeromot pretende recolocar o Brasil no mapa da aviação executiva, criando empregos, atraindo novas empresas e impulsionando o desenvolvimento tecnológico.
O projeto combina produção, pesquisa e sustentabilidade, e se destaca pela ambição de construir o primeiro avião movido a etanol, um marco que pode mudar o futuro da aviação mundial.
Como resume o CEO Guilherme Cunha, “é um projeto de longo prazo, mas com impacto que vai muito além da indústria — é sobre preparar o país para o futuro da mobilidade aérea”.
Com informações de Istoé Dinheiro.