Nova Lei de 2025 abre caminho para leilões de eólica offshore no Brasil em 2026. Projetos já somam 100 GW em análise no Ibama e podem atrair bilhões em investimentos.
O setor de energia eólica offshore — geração elétrica a partir de turbinas instaladas no mar — acaba de ganhar no Brasil o impulso decisivo que aguardava há anos. Em janeiro de 2025, foi sancionada a Lei nº 14.754, criando o marco legal para a exploração da fonte no país. A legislação estabelece diretrizes para a realização de leilões, definição de áreas marítimas e critérios ambientais, abrindo espaço para um dos maiores potenciais energéticos do mundo.
Apesar da expectativa, o governo optou por adiar o primeiro leilão oficial para 2026, com o objetivo de ajustar regras, consolidar estudos técnicos e permitir a entrada de investidores estrangeiros. Ainda assim, a simples aprovação da lei já provocou corrida de empresas nacionais e internacionais em busca de licenciamento ambiental junto ao Ibama.
Um potencial superior a 100 GW em análise
Segundo o próprio Ibama, até agosto de 2025 já haviam sido protocolados pedidos de mais de 100 GW em projetos de eólica offshore. Esse número é impressionante: equivale a quase toda a capacidade instalada atual do sistema elétrico brasileiro, que gira em torno de 200 GW.
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Entre os grupos interessados estão gigantes da energia, como Equinor, Shell, TotalEnergies e Iberdrola, além de empresas brasileiras que desejam diversificar sua matriz.
O interesse massivo reforça a atratividade do Brasil para investimentos em energias renováveis, especialmente diante do vasto litoral — com mais de 7.000 km de extensão e ventos estáveis em regiões estratégicas como Nordeste e Sul.
Por que o Brasil desperta tanto interesse?
O protagonismo brasileiro no setor energético já é reconhecido. O país possui uma das matrizes mais limpas do mundo, com mais de 80% da eletricidade gerada por fontes renováveis (principalmente hidrelétricas, seguidas de eólica onshore e solar).
A chegada da eólica offshore representa a possibilidade de diversificar ainda mais essa matriz e ampliar a segurança energética. Os fatores que tornam o Brasil atraente incluem:
- Condições naturais ideais: ventos fortes e constantes no litoral, com baixa sazonalidade.
- Proximidade da costa: reduz custos de transmissão em comparação a países com mares mais profundos.
- Experiência prévia: sucesso da eólica onshore, que já responde por mais de 14% da geração elétrica.
- Demanda crescente: necessidade de expandir a oferta para atender à eletrificação da frota de veículos e novos polos industriais.
O papel do Ibama e os desafios ambientais
O processo de licenciamento ambiental é hoje o principal gargalo para os projetos. Até agosto de 2025, nenhum empreendimento havia recebido licença definitiva, embora dezenas estivessem em análise.
Os estudos precisam avaliar impactos sobre a biodiversidade marinha, rotas de aves migratórias, pesca artesanal e comunidades costeiras. A conciliação entre desenvolvimento e preservação será determinante para o sucesso da eólica offshore no Brasil.
O Ibama já anunciou que publicará diretrizes específicas em 2026, com a primeira licença prevista para ser concedida ainda no mesmo ano, caso os projetos atendam aos critérios técnicos e ambientais.
Investimentos bilionários no horizonte
De acordo com estimativas do setor, cada 1 GW de capacidade eólica offshore demanda de US$ 2,5 a 3 bilhões em investimentos. Se mesmo metade dos projetos em análise avançar, o Brasil poderá atrair mais de US$ 150 bilhões nos próximos 15 anos.
Esses recursos movimentarão não apenas a geração de energia, mas também cadeias industriais estratégicas: fabricação de torres e turbinas, construção naval, serviços de operação offshore e infraestrutura portuária. Estados como Ceará, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul já se articulam para receber polos de produção e logística associados ao setor.
O impacto na transição energética global
O avanço da eólica offshore no Brasil tem significado além das fronteiras nacionais. A Agência Internacional de Energia (IEA) projeta que a fonte será uma das principais responsáveis por viabilizar a neutralidade de carbono até 2050, especialmente em países que buscam substituir o carvão e reduzir a dependência do gás natural.
Nesse contexto, o Brasil se posiciona como fornecedor estratégico de energia limpa para indústrias intensivas em carbono. Há estudos sobre a utilização da eletricidade offshore para produção de hidrogênio verde, que pode ser exportado para Europa e Ásia em larga escala.
Comparações internacionais
O Brasil não está sozinho na corrida pela energia eólica offshore. Outros países já avançaram significativamente:
- China: maior parque offshore do mundo, com mais de 30 GW instalados.
- Reino Unido: referência global, com quase 15 GW em operação.
- Alemanha e Holanda: líderes na União Europeia, integrando a produção offshore com políticas climáticas.
Se conseguir destravar licenças e leilões, o Brasil poderá entrar nesse grupo já na próxima década, consolidando-se como potência renovável global.
Gargalos e incertezas
Apesar do entusiasmo, o setor enfrenta alguns desafios:
- Custo elevado: projetos offshore são mais caros do que os onshore ou solares, exigindo linhas de crédito robustas.
- Infraestrutura portuária: poucos portos brasileiros estão preparados para receber equipamentos de grande porte.
- Integração ao sistema elétrico: será necessário reforçar a rede de transmissão para evitar gargalos no escoamento da energia gerada.
- Estabilidade regulatória: investidores aguardam regras claras sobre tarifas, subsídios e prazos de concessão.
Perspectivas para 2030
Com a lei já sancionada e o primeiro leilão marcado para 2026, especialistas projetam que o Brasil poderá ter entre 10 GW e 20 GW de eólica offshore instalados até 2035. Esse montante representaria uma revolução energética, capaz de suprir milhões de lares e reforçar a segurança do sistema nacional.
Se associado à produção de hidrogênio verde, o impacto pode ser ainda maior, colocando o Brasil no radar da nova geopolítica da energia limpa, ao lado de potências como China e Alemanha.
A aprovação da lei em 2025 e a previsão de leilões para 2026 marcam o início da década do vento no mar brasileiro. Com mais de 100 GW em projetos em análise, o país tem potencial para transformar seu litoral em um imenso corredor de energia limpa, atraindo investimentos bilionários e criando um novo eixo industrial.
A transição energética não será simples, mas o Brasil já demonstrou, com a expansão da eólica onshore e da solar, que pode se tornar referência mundial. Se conseguir repetir o sucesso no mar, entrará definitivamente para o grupo das potências renováveis globais, redefinindo seu papel no cenário internacional.