A medida do governo Lula, que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, deve injetar bilhões na economia, aumentar o poder de compra da classe média e impulsionar o consumo em 2026, segundo especialistas
A nova faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil promete ser um dos maiores impulsos de renda da última década. Segundo o economista sênior do Inter, André Valério, a medida representa um verdadeiro “choque positivo de renda disponível”, capaz de movimentar cerca de R$ 32,8 bilhões em 2026.
De acordo com o G1, cerca de 65% dos declarantes deixarão de pagar o tributo, o que deve gerar uma onda de consumo concentrada principalmente nas faixas de renda média e média-baixa, justamente as que mais gastam quando têm dinheiro extra no bolso.
Para o analista Leonardo Costa, esse impulso deve ajudar o PIB brasileiro a crescer entre 0,1 e 0,2 ponto percentual em 12 meses, com destaque para os setores de educação, higiene, serviços pessoais, restaurantes e transporte. “O efeito é positivo, mas transitório”, ressalta o economista, destacando que o impacto será limitado enquanto os juros reais permanecerem elevados.
Economia mais aquecida, preços mais altos
Embora o benefício alivie o bolso de milhões de contribuintes, ele também traz um efeito colateral: o risco de aumento da inflação. Isso porque o aumento do poder de compra tende a pressionar a demanda por bens e serviços.
André Valério alerta que o impacto dependerá da resposta do mercado e do comportamento dos mais ricos, que podem reduzir o consumo e afetar a arrecadação. Nesse cenário, o governo poderia ter dificuldade em compensar a perda de receita, elevando a percepção de risco fiscal e levando a uma alta nos juros e no câmbio.
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Leonardo Costa concorda e destaca que os efeitos inflacionários devem ser mais perceptíveis nos serviços, especialmente em alimentação fora de casa, cuidados pessoais e transporte.
Em suas palavras, “juros e dólar mais altos poderiam anular parte do estímulo econômico esperado pela medida”.
Selic alta, Copom cauteloso e atenção redobrada do Banco Central
Mesmo com o risco inflacionário, especialistas acreditam que o atual nível da taxa Selic — o mais alto em quase 20 anos — é suficiente para conter a escalada dos preços. Segundo Valério, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve adotar uma postura ainda mais cautelosa nas próximas reuniões.
“O aumento dos gastos vai na contramão do que o Banco Central tenta fazer, que é frear o ritmo da economia para conter a inflação”, explicou. Ainda assim, ele acredita que os cortes de juros devem começar em janeiro, sinalizando um equilíbrio entre estímulo e controle monetário.
Impactos diretos nas empresas e no mercado de trabalho
A mudança também trará reflexos para o mundo corporativo. De acordo com Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, empresas terão de revisar contratos, benefícios e estruturas internas para se adaptar ao novo cenário.
“A elevação da faixa de isenção exige revisão de custos trabalhistas e incentivos fiscais. Já a taxação das altas rendas deve acelerar reestruturações patrimoniais”, afirmou.
Leonardo Costa, do ASA, acrescenta que o impacto sobre os salários é ambíguo. Por um lado, o aumento do salário líquido pode reduzir a pressão por reajustes; por outro, o aquecimento do consumo de serviços pode fortalecer sindicatos e categorias que buscam aumentos.
“O resultado dependerá do equilíbrio entre renda e demanda, mas é provável uma moderação apenas parcial nas pressões de custos”, concluiu.
Uma medida popular com efeitos incertos
A ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil é vista como uma estratégia para impulsionar o consumo e aliviar famílias de baixa renda, mas economistas alertam para o efeito em cadeia na inflação, juros e contas públicas.
A curto prazo, o consumidor deve sentir o bolso mais leve e o comércio mais aquecido. Mas, no médio prazo, os riscos de descontrole fiscal podem cobrar a conta dessa generosidade tributária.
E você, acredita que a ampliação da isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil será capaz de estimular o crescimento econômico sem elevar a inflação?