Mineral encontrado apenas no Vale de Jadar possui alto teor de lítio e boro, mas sua extração levanta polêmicas sobre impactos ambientais e sociais
Com uma fórmula química quase idêntica à da criptonita fictícia, a jadarita é um mineral raro com potencial para abastecer um milhão de veículos elétricos por ano. Ela foi encontrada apenas no Vale de Jadar, na Sérvia, mais de 20 anos após sua descoberta.
Em 2004, durante a prospecção de boratos no oeste do país, geólogos da empresa australiana-britânica Rio Tinto identificaram um mineral macio, branco e pulverulento que não correspondia a nenhum registro conhecido.
A composição revelou lítio e boro, além de uma fórmula química única: LiNaSiB3O7(OH).
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Michael Page, cientista da Organização de Ciência e Tecnologia Nuclear da Austrália, destacou que, embora não possua poderes sobrenaturais, a jadarita tem grande potencial como fonte desses elementos.
O depósito de Jadar é considerado um dos maiores do mundo em lítio, podendo se tornar um divisor de águas para a transição energética.
Potencial econômico e características
O que a Rio Tinto encontrou sob o vale foi o maior depósito de lítio da Europa. A estimativa é de 2,3 milhões de toneladas, suficientes para abastecer um milhão de carros por décadas.
Além disso, a extração do lítio presente na jadarita pode ser feita com mais facilidade que nas fontes convencionais.
Pesquisadores afirmam que o mineral contém até 3,39% em peso de lítio e 14,65% em peso de boro. Este último pode ser recuperado como coproduto útil.
O teor de lítio é comparável ao do espodumênio, principal fonte mundial em rocha dura, mas a jadarita pode ser processada com métodos que consomem menos energia.
Os nódulos brancos que formam o mineral são encontrados em margas e folhelhos dolomíticos, depositados em uma bacia vulcano-sedimentar fechada. Esse tipo de bacia é comum nos Bálcãs, mas apenas Jadar contém jadarita.
Mineral com formação geológica única
A origem do mineral está ligada à formação da Bacia de Jadar. Cinzas vulcânicas ricas em lítio se acumularam em um lago raso.
Com o tempo, a evaporação da água tornou a área altamente alcalina. Isso transformou os depósitos vulcânicos em sílica gelatinosa, desencadeando reações químicas que formaram a jadarita.
Nesse processo, a argila esmectítica foi degradada, liberando lítio que se combinou para criar o mineral. É esse conjunto de condições geológicas específicas que faz do Vale de Jadar o único local conhecido onde ele ocorre.
Obstáculos para a mineração
Apesar do potencial, a jadarita permanece intocada. A Rio Tinto avançou com o Projeto Jadar e chegou a estabelecer um cronograma para mineração. No entanto, estudos de impacto ambiental apontaram riscos elevados.
A reação foi imediata. Protestos ocorreram em todo o país, e em janeiro de 2022 o governo cancelou as licenças da mineradora.
A decisão paralisou o projeto. Dezoito meses depois, ele foi reativado, mas ainda está em fase de planejamento.
Especialistas acreditam que a mineração não começará antes de 2028, se superar os desafios ambientais e sociais.
O dilema da energia limpa
A história da jadarita expõe um dilema atual: como extrair minerais essenciais para abandonar os combustíveis fósseis sem causar novos danos ambientais?
O Vale de Jadar, por exemplo, é uma área pitoresca e rural, e qualquer intervenção teria impacto significativo no ecossistema local.
O mais importante é que esse debate vai além da Sérvia. Em diferentes regiões do mundo, projetos de mineração para lítio e outros minerais estratégicos enfrentam resistência semelhante.
Pesquisas e alternativas
Há também sinais de esperança. No ano passado, cientistas anunciaram a criação de uma versão sintética da jadarita em laboratório.
Por enquanto, é apenas uma prova de conceito, mas abre caminho para a busca de materiais alternativos que possam reduzir a dependência de extrações tradicionais.
Essa possibilidade desperta interesse na indústria, porque poderia permitir um abastecimento mais sustentável de lítio.
No entanto, ainda será necessário muito desenvolvimento para que o material sintético alcance escala comercial.
Jadarita: um símbolo da raridade geológica
Mesmo que a jadarita nunca seja usada para abastecer veículos elétricos, ela já é um exemplo notável da complexidade e raridade da química da Terra.
Sua descoberta mostra como processos geológicos específicos podem criar minerais únicos e de grande valor econômico.
Além disso, serve como alerta sobre as compensações ambientais envolvidas na corrida por um futuro mais verde.
A transição energética exige matérias-primas estratégicas, mas a forma de obtê-las precisa ser equilibrada com a preservação ambiental e o respeito às comunidades locais.
O caso do Vale de Jadar segue aberto, com um mineral capaz de transformar a indústria ainda preso ao solo.
Enquanto isso, cientistas, empresas e ambientalistas observam atentamente os próximos capítulos dessa disputa entre riqueza mineral e proteção ambiental.
Com informações de New Atlas.