1. Início
  2. / Curiosidades
  3. / Com apenas alguns quilos de urânio-235 enriquecido, um submarino nuclear pode cruzar o planeta por 30 anos sem recarga
Tempo de leitura 4 min de leitura Comentários 0 comentários

Com apenas alguns quilos de urânio-235 enriquecido, um submarino nuclear pode cruzar o planeta por 30 anos sem recarga

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 09/07/2025 às 09:29
urânio - submarinos
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Com reatores compactos e altamente eficientes, essas embarcações representam o ápice da engenharia militar e da dissuasão estratégica moderna

Com apenas alguns quilos de urânio-235 enriquecido a 90%, um submarino nuclear pode operar entre 20 e 30 anos sem precisar de uma única recarga de combustível. Parece ficção científica, mas essa é a realidade de uma das máquinas mais poderosas já construídas pelo ser humano.

Enquanto a maioria dos veículos depende de combustível constante, os submarinos nucleares carregam no interior um reator tão compacto quanto uma pequena sala, mas capaz de produzir energia suficiente para manter toda a estrutura funcionando por décadas. Estamos falando de um núcleo atômico que gera aproximadamente 24 milhões de kWh por quilograma de combustível, o bastante para abastecer uma cidade inteira por meses. E tudo isso, escondido sob as águas do oceano.

O coração invisível dessas máquinas

O que move um submarino nuclear não é apenas o motor, mas sim o reator – silencioso, oculto e incrivelmente eficiente. Dentro dele, o urânio altamente enriquecido sofre um processo de fissão controlada. Cada átomo partido libera uma quantidade absurda de energia térmica, que aquece a água e gera vapor. Esse vapor movimenta turbinas conectadas a geradores e sistemas de propulsão.

Tudo acontece num sistema fechado, protegido por camadas de aço e chumbo. Do lado de fora, nenhum som denuncia a presença daquele gigante. E é justamente esse silêncio que torna o submarino nuclear uma das armas mais letais do planeta: ele pode passar meses, ou até anos, submerso, percorrendo milhares de quilômetros sem ser detectado.

YouTube Video

Uma força invisível capaz de mudar o rumo de uma guerra

Na prática, isso significa que um país com submarinos nucleares pode monitorar zonas estratégicas do planeta sem que ninguém perceba. Eles cruzam continentes, vigiam costas inimigas e, no caso dos submarinos balísticos (SSBN), ainda carregam mísseis nucleares intercontinentais prontos para disparo. Esses mísseis, escondidos nas profundezas do oceano, são parte essencial da chamada “tríade nuclear”, ao lado dos silos terrestres e dos bombardeiros aéreos.

Nenhuma outra arma oferece tamanha autonomia, furtividade e poder de dissuasão ao mesmo tempo. Um submarino movido a diesel precisa emergir com frequência para reabastecer e renovar o oxigênio da tripulação. Já os nucleares podem literalmente desaparecer no oceano e só voltar quando quiserem. Por isso, são considerados a última linha de defesa — ou o primeiro ataque silencioso, dependendo da estratégia.

Engenharia de outro mundo

Colocar um reator nuclear funcional dentro de uma embarcação submersa é um dos maiores feitos da engenharia moderna. Esses reatores são menores do que os usados em usinas terrestres, mas exigem um nível de segurança e precisão ainda maior. Qualquer falha pode ser catastrófica a bordo.

O urânio utilizado nesses reatores costuma ter um grau de enriquecimento altíssimo — algo que normalmente só se encontra em armas nucleares. Isso garante maior densidade energética e menor necessidade de recarga. A vida útil do combustível pode ultrapassar os 25 anos sem manutenção externa, o que significa missões ininterruptas por décadas.

Apesar disso, o sistema é considerado extremamente seguro. A maioria dos reatores navais modernos conta com múltiplos sistemas de contenção, automação e resfriamento redundante. Além disso, toda a estrutura do submarino é projetada para resistir à pressão do fundo do mar, impactos e até ataques inimigos.

Quem tem acesso a essa tecnologia?

Atualmente, apenas seis países possuem submarinos nucleares em operação: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Índia. Todos eles fazem parte do seleto grupo que domina tanto o enriquecimento de urânio quanto a construção naval militar em alto nível. E esse poder não é barato.

Um submarino da classe Virginia, dos Estados Unidos, custa mais de US$ 3 bilhões. Já a classe Borei, da Rússia, tem um custo estimado de US$ 1,7 bilhão por unidade. Mas esse investimento se paga em forma de presença geopolítica, dissuasão militar e capacidade de ataque global.

O Brasil, inclusive, está se aproximando desse clube exclusivo. Com o projeto do submarino Álvaro Alberto, parte do programa ProSub, o país se prepara para lançar seu primeiro submarino nuclear ainda nesta década. Se for concluído com sucesso, será a primeira nação da América do Sul a operar uma embarcação com esse nível de autonomia e poder.

A máquina perfeita para a guerra moderna

Quando olhamos para o futuro dos conflitos, tudo indica que a guerra silenciosa será cada vez mais importante. Drones, mísseis hipersônicos e inteligência artificial dividem os holofotes, mas os submarinos nucleares seguem sendo as peças mais difíceis de detectar e neutralizar.

Imagine um navio que pode se esconder no fundo do mar por anos, capaz de destruir uma cidade a milhares de quilômetros com um único comando — e depois desaparecer sem deixar rastros. É isso que um submarino nuclear representa.

Não é exagero dizer que eles são a face mais fria e calculista do poder militar contemporâneo. Invisíveis, constantes e letais.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x