A arma invisível da China: Sem ele, fábricas fecham, não existe carro elétrico ou robôs no mundo. Como um único componente virou ameaça à indústria global
Enquanto o Ocidente se concentra em encontrar novos depósitos de terras raras, a China joga em outro tabuleiro: ela domina o jogo não apenas por possuir esses minérios, mas por saber o que fazer com eles. O verdadeiro trunfo chinês está no refino e, principalmente, na fabricação de ímãs de alto desempenho, componentes essenciais para setores como defesa, energia, veículos elétricos e tecnologia de ponta.
E é justamente aí que mora o problema: o mundo até pode minerar, mas sem saber refinar e transformar esse recurso, fica na dependência de Pequim.
Sanções, trégua e geopolítica: o cabo de guerra entre China e EUA
No início de abril de 2025, os Estados Unidos decidiram aumentar a pressão tarifária sobre produtos chineses. A resposta de Pequim foi rápida e direta: restringiu severamente a exportação de terras raras, abalando cadeias produtivas no mundo inteiro.
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A medida foi parcialmente suavizada apenas recentemente, quando a China passou a conceder licenças temporárias de exportação com validade de seis meses. Em troca, os norte-americanos ofereceram uma trégua simbólica: flexibilizaram a entrada de estudantes chineses em universidades dos EUA. É o tipo de escambo que revela como a educação e os recursos naturais se tornaram peças-chave da nova guerra fria econômica.
Terras raras: mais do que minérios, uma arma estratégica
Para quem ainda não está familiarizado, terras raras são um grupo de 17 elementos químicos fundamentais para a indústria moderna. São usados em turbinas eólicas, painéis solares, smartphones, carros elétricos, equipamentos militares e até reatores nucleares.
Apesar do nome, esses minerais não são exatamente raros na crosta terrestre. O que os torna estratégicos é a dificuldade e o alto custo de sua extração e, principalmente, do seu refinamento. E é aqui que a China lidera com folga.
Segundo relatório recente do U.S. Geological Survey, a China responde por cerca de 70% da produção global e por 90% da capacidade de refino. Quando falamos em terras raras pesadas – ainda mais escassas – o controle chinês sobre o refino sobe para espantosos 99%.
O gargalo está no refino, não na mineração
De que adianta encontrar terras raras se você não consegue processá-las? Países como Noruega e Suécia anunciaram novos depósitos e estimam iniciar a exploração até 2030. Mas não há tempo a perder: a escassez já está batendo na porta das montadoras, fabricantes de robôs e indústrias de alta tecnologia.
O Japão, por exemplo, viu a Suzuki suspender parte da produção de veículos por falta de peças com terras raras. Na Europa, o secretário-geral da CLA – Associação Europeia de Fornecedores de Automação – declarou em comunicado urgente:
“Com uma cadeia de suprimentos global profundamente interconectada, as restrições de exportação da China já estão paralisando a produção no setor de fornecedores europeus”.
Não se trata apenas de acesso ao minério, mas da capacidade de refiná-lo, tratá-lo e convertê-lo em produtos de alto valor agregado – como os poderosos ímãs de neodímio.
Ímãs: o tesouro invisível por trás da disputa
Não é exagero dizer que ímãs são hoje uma das armas geopolíticas mais eficazes da China. William Huo, ex-executivo da Intel e crítico da estratégia industrial ocidental, resumiu bem:
“O Ocidente ficou tão obcecado em otimizar planilhas que esqueceu das fábricas. Agora, não consegue produzir um único ímã sozinho.”
Ímãs de alto desempenho são indispensáveis para motores elétricos, turbinas, sistemas de guiagem em mísseis, aviões, satélites e reatores nucleares. A dependência é tão grande que, sem o fornecimento chinês, a indústria de veículos elétricos literalmente empaca.
E mesmo que países aliados dos EUA encontrem formas de minerar terras raras, o refino continua sendo o elo fraco. O processo é altamente tóxico, caro e demanda mão de obra extremamente qualificada, além de estrutura para lidar com resíduos perigosos.
Educação como arma silenciosa: a aposta da China
Enquanto o Ocidente hesita, a China forma engenheiros. De acordo com o The New York Times, o governo chinês mantém 39 programas universitários especializados na cadeia química das terras raras. O objetivo é claro: dominar todas as etapas, do campo de mineração à linha de montagem dos ímãs.
Essa é uma visão estratégica de longo prazo, alinhada com o pensamento de Deng Xiaoping, que já nos anos 90 resumiu tudo em uma frase profética:
“O Oriente Médio tem petróleo. A China tem terras raras.”
O futuro está preso ao ímã
O Ocidente tenta correr atrás do prejuízo, mas ainda esbarra em obstáculos. Os EUA planejam investir em refino local, e empresas como a MP Materials estão tentando construir cadeias internas de produção. No entanto, sem capacidade técnica e conhecimento acumulado, essas iniciativas ainda engatinham. Veja mais detalhes sobre isso nesta análise da Reuters.
Enquanto isso, a China segue ditando o ritmo global, controlando o fornecimento, o preço e até o timing da entrega de insumos essenciais à revolução energética e tecnológica.
A corrida que já começou! A briga por terras raras é muito mais do que uma disputa por minérios. É uma guerra silenciosa pelo domínio da próxima geração industrial e, nesse jogo, a China já largou com muita vantagem.
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