Com 23 mil km² e até 10 mil cabeças de gado, a Anna Creek Station é a maior fazenda de carne do mundo e supera o tamanho de países como Israel e El Salvador.
No coração do deserto australiano existe uma propriedade rural tão vasta que parece não ter fim. São 23.677 quilômetros quadrados de extensão, um território maior do que países como Israel, El Salvador ou o Kuwait, e mais de três vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Essa imensidão define a Anna Creek Station, reconhecida como a maior fazenda de gado do mundo ou a maior fazenda de carne do mundo, um colosso da pecuária que simboliza a força e a resiliência da agroindústria australiana em um dos ambientes mais inóspitos do planeta.
Localizada no estado da Austrália Meridional, a Anna Creek foi fundada em 1863, em plena era da colonização britânica, quando pecuaristas se aventuravam por áreas áridas em busca de novas fronteiras produtivas. A fazenda é tão remota que o acesso só é possível por estradas de terra que cruzam centenas de quilômetros de deserto, e em muitos períodos do ano, a principal forma de transporte é o avião.
Um império no deserto australiano
Hoje a fazenda pertence à empresa Williams Cattle Company, um dos maiores grupos agropecuários da Austrália. O tamanho da propriedade impressiona não apenas pela dimensão territorial, mas também pelo desafio logístico de manter operações pecuárias em um dos locais mais áridos do planeta.
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A região da Anna Creek Station é marcada por temperaturas extremas, chuvas escassas e vastas planícies de areia e rocha. Por isso, o gado é criado em regime extensivo, disperso em imensos pastos naturais, onde cada animal chega a dispor de mais de 2 km² de área para pastar. Em períodos de seca, os rebanhos são reduzidos para evitar o colapso dos ecossistemas e preservar os recursos hídricos.
Mesmo com essas limitações, a fazenda mantém uma média de 6 a 10 mil cabeças de gado, dependendo das condições climáticas. Todo o rebanho é composto majoritariamente por gado da raça Santa Gertrudis, conhecida por sua resistência ao calor e à escassez de água — uma adaptação crucial para a sobrevivência no interior australiano.
Uma operação maior que cidades inteiras
Dentro da Anna Creek Station há vilas residenciais, oficinas, hangares, depósitos de combustível e pistas de pouso. A propriedade opera praticamente como uma cidade autossuficiente, com infraestrutura própria para comunicação por rádio, manutenção de veículos e abastecimento.
Os funcionários vivem em alojamentos isolados e trabalham em turnos longos, mantendo o gado distribuído em dezenas de currais e pontos de manejo espalhados por centenas de quilômetros.
A logística é tão complexa que a empresa utiliza helicópteros e aviões leves para localizar o rebanho, realizar o manejo e transportar suprimentos e equipamentos.
O abastecimento de água, por sua vez, depende de poços subterrâneos profundos e sistemas de bombeamento movidos a energia solar, uma das poucas alternativas viáveis em meio à aridez do deserto.
Um legado histórico de pioneirismo
A história da Anna Creek está ligada à própria formação da pecuária australiana. No século XIX, os colonos britânicos trouxeram gado para explorar as vastas terras do outback, e muitas dessas propriedades se tornaram lendárias. A Anna Creek, no entanto, sempre se destacou pela escala e pela perseverança.
Ela já pertenceu ao grupo S. Kidman & Co., do lendário empresário Sir Sidney Kidman, conhecido como “o rei do gado” na Austrália. Durante o auge de seu império, no início do século XX, Kidman chegou a controlar mais de 260 mil km² de terras — quase o tamanho da Itália. A Anna Creek era uma das joias de sua coroa pecuária.
Em 2016, após décadas de negociações, a propriedade foi adquirida pela Williams Cattle Company, que mantém o modelo de manejo tradicional, aliado a tecnologias modernas de rastreamento, irrigação e monitoramento ambiental.
A engenharia por trás do sucesso
A produção na Anna Creek não se baseia apenas em carne bovina. A fazenda também é um laboratório a céu aberto de manejo sustentável em regiões áridas, com estudos sobre adaptação de raças, recuperação de solo e equilíbrio ecológico em ambientes extremos.
O uso de tecnologia é essencial. Drones, sensores e softwares de monitoramento climático ajudam a identificar áreas degradadas, mapear o rebanho e planejar rotações de pastagem. Essa abordagem faz com que a Anna Creek seja reconhecida internacionalmente como um modelo de gestão integrada em grande escala, equilibrando produção e preservação.
O sucesso da fazenda também reforça o papel da Austrália como uma das maiores potências agropecuárias do planeta. O país exporta cerca de 70% de toda a carne que produz, com mercados fortes no Japão, China e Oriente Médio, e mantém rígidos padrões de rastreabilidade animal — algo que faz da carne australiana uma das mais valorizadas do mundo.
Um monumento à pecuária mundial
Mais do que uma fazenda, a Anna Creek Station é um símbolo da capacidade humana de transformar ambientes extremos em centros produtivos. A combinação de tradição centenária, tecnologia e respeito ao meio ambiente faz dela um exemplo único da engenharia agropecuária moderna.
Enquanto o Brasil domina o cenário mundial em volume e exportação, a Austrália ostenta o recorde em extensão territorial. Juntas, as duas nações definem o ritmo da pecuária global.
Vista do alto, a Anna Creek parece uma mancha verde em meio a um mar de areia avermelhada — uma prova viva de que o agro australiano não conhece limites.