Nos anos 1980, Coca-Cola e Pepsi competiram para levar refrigerantes ao espaço, em uma disputa que envolveu Nasa, política e estratégias de marketing
Coca-Cola e PepsiCo disputam o mercado mundial há décadas. Uma das batalhas mais curiosas ocorreu nos anos 1980, quando as empresas miraram um novo marco: ser o primeiro refrigerante no espaço. A corrida envolveu estratégias de marketing, disputas políticas e negociações diretas com a Nasa.
Oportunidade no espaço
No início dos anos 1980, a Nasa vivia a transição entre as missões Apollo e a era dos ônibus espaciais. Apesar do avanço tecnológico, a alimentação a bordo ainda era limitada.
Os astronautas recebiam alimentos liofilizados e termoestabilizados, e as bebidas também eram um desafio. A ausência de refrigeração dificultava o consumo de líquidos durante as missões.
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A Coca-Cola viu nisso uma chance de negócios. A empresa se ofereceu para testar refrigerantes em gravidade zero, buscando melhorar a experiência de consumo no espaço e fortalecer sua imagem.
Além do aspecto comercial, havia também uma motivação política: na época, Ronald Reagan, eleitor de Pepsi, havia derrotado Jimmy Carter, que preferia Coca-Cola.
A reação da Pepsi
Em 1984, Brian Dyson, presidente da Coca-Cola na América do Norte, anunciou negociações com a Nasa para instalar máquinas de venda automática no espaço.
A revelação provocou reação imediata da PepsiCo. Max Friedersdorf, vice-presidente da empresa e ex-assessor de Reagan, pressionou a Nasa para permitir sua participação.
Em carta, lembrou que a Pepsi era associada ao Partido Republicano, enquanto a Coca-Cola se ligava ao Partido Democrata.
A pressão surtiu efeito. Um mês depois, a Nasa suspendeu o projeto. No entanto, a agência manteve o interesse na proposta da Coca-Cola, impondo exigências técnicas para a embalagem: ela deveria ser pressurizada e ter válvula especial para uso em microgravidade.
Desenvolvimento das embalagens
Entre 1984 e 1985, a Coca-Cola investiu cerca de US$ 250 mil no desenvolvimento do recipiente. A empresa esperava participar de um voo em abril de 1985, mas o lançamento foi cancelado porque a Nasa alegou que o processo não seguiu as regras, deixando de notificar concorrentes.
Mesmo sem confirmação, a Coca-Cola anunciou presença em um voo previsto para julho. Isso irritou a agência, que interpretou a ação como publicidade.
O deslize abriu caminho para a inclusão da Pepsi. A Nasa proibiu propaganda e fechou contrato com ambas, impondo um prazo apertado para a Pepsi criar sua embalagem.
Astronautas compararam o protótipo da Pepsi a uma lata de creme de barbear.
Disputa na Casa Branca
A inclusão das duas empresas gerou novos conflitos. Duas semanas antes do lançamento, a Coca-Cola apelou à Casa Branca para excluir a Pepsi.
A questão envolveu senadores, executivos e lobistas, mas o governo transferiu a decisão à Nasa, que manteve as duas marcas na missão.
A disputa incomodou a tripulação. Para evitar favorecimento, os sete astronautas se dividiram em duas equipes: uma para testar a Coca-Cola e outra para a Pepsi. Eles também alternariam os registros de fotos e vídeos.
Primeiro refrigerante no espaço
Em julho de 1985, o ônibus espacial Challenger, na missão STS-51F, decolou com os refrigerantes a bordo.
A missão tinha como foco experimentos em física solar, astronomia e ciência atmosférica, mas também reservou momentos para os testes das bebidas.
A Coca-Cola foi avaliada primeiro. Os astronautas borrifaram a bebida diretamente na boca. Estava morna, com um pouco de espuma, mas com sabor parecido ao da Terra.
Depois, a equipe responsável pela Pepsi experimentou a sua versão. Pequenas esferas da bebida flutuavam pela nave, podendo ser sopradas e giradas no ar.
Resultado e esquecimento
Na volta à Terra, cada empresa reivindicou vitória. A Coca-Cola se apresentou como o primeiro refrigerante no espaço por ter sido testada antes. A Pepsi destacou seu desempenho e a inovação da experiência.
Apesar das disputas, o projeto não teve continuidade. Segundo o The New York Times, a iniciativa foi esquecida tanto pela Nasa quanto pelas fabricantes.
Quase 40 anos depois, refrigerantes gaseificados não integram o cardápio regular de astronautas em órbita.
Com informações de UOL.tilt.