1. Início
  2. / Curiosidades
  3. / Coca-Cola avalia trocar xarope de milho por açúcar de cana, mas tarifas dos EUA ao Brasil e México ameaçam mudança
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

Coca-Cola avalia trocar xarope de milho por açúcar de cana, mas tarifas dos EUA ao Brasil e México ameaçam mudança

Escrito por Ana Alice
Publicado em 22/07/2025 às 23:13
Tarifas dos EUA ameaçam a troca do xarope de milho por açúcar de cana na Coca-Cola e dificultam a mudança prometida por Trump. (Imagem: Reprodução/IA)
Tarifas dos EUA ameaçam a troca do xarope de milho por açúcar de cana na Coca-Cola e dificultam a mudança prometida por Trump. (Imagem: Reprodução/IA)
  • Reação
  • Reação
2 pessoas reagiram a isso.
Reagir ao artigo

Mudança no adoçante da Coca-Cola enfrenta barreiras comerciais após decisão política dos EUA. Tarifas sobre o açúcar importado do Brasil e México dificultam a transição e colocam em risco a nova proposta da marca no país.

Planos da Coca-Cola para substituir o xarope de milho por açúcar de cana enfrentam obstáculos comerciais que podem inviabilizar a mudança

Uma proposta que poderia transformar um dos refrigerantes mais icônicos do mundo esbarra em questões comerciais delicadas.

Em julho de 2023, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou ter negociado um acordo com a Coca-Cola para substituir o uso do xarope de milho de alta frutose por açúcar de cana como adoçante principal em seus produtos.

A medida integrava a política “Make America Healthy Again” (Torne a América Saudável Novamente), cujo objetivo era promover hábitos alimentares mais saudáveis entre os cidadãos norte-americanos.

Apesar do impacto potencial positivo na saúde pública, a proposta enfrenta sérios entraves econômicos, principalmente devido à ameaça de tarifas sobre importações do México e do Brasil, dois dos maiores fornecedores de açúcar ao mercado americano.

Xarope de milho ainda domina mercado dos EUA

O xarope de milho se consolidou como adoçante predominante na indústria americana por ser amplamente disponível, barato e subsidiado pelo governo.

De acordo com dados da GlobalData, os Estados Unidos cultivaram cerca de 36,5 milhões de hectares de milho em 2023, ficando atrás apenas da China em extensão de produção agrícola.

Essa abundância permite ao país atender à demanda interna de xarope de milho sem recorrer a importações, o que reduz custos e riscos logísticos.

Por outro lado, a produção doméstica de açúcar não é suficiente para suprir o mercado, principalmente quando se trata do tipo derivado da cana.

A dependência externa e os impactos do “tarifaço”

A dependência americana de países exportadores para obter açúcar de cana pode comprometer a proposta de reformulação da Coca-Cola.

Conforme dados do Observatory of Economic Complexity, em 2023 os EUA importaram aproximadamente US$ 2,4 bilhões em açúcar bruto, mas exportaram apenas US$ 230 milhões.

O México foi responsável por cerca de 33% dessas importações, enquanto o Brasil forneceu 23%.

No entanto, nas semanas seguintes ao anúncio da medida, o governo dos EUA ameaçou impor tarifas de 30% sobre produtos mexicanos e de até 50% sobre os brasileiros, o que tornaria a substituição do adoçante muito mais cara para a Coca-Cola.

Rory Gopsill, analista sênior de consumo da GlobalData, ressalta que essa estratégia pode comprometer economicamente a reforma proposta.

O custo da reformulação: desafios para a Coca-Cola

Abandonar o xarope de milho, que possui forte apoio dos produtores agrícolas dos EUA, representa um movimento arriscado para a Coca-Cola.

Além dos custos associados à mudança de ingredientes, a empresa teria de reformular receitas, renegociar contratos com fornecedores e ajustar sua cadeia de produção.

Também há riscos de aceitação por parte do consumidor americano, acostumado há décadas com o sabor e a composição atual do refrigerante.

Com o risco adicional de tarifas encarecendo o açúcar importado, a estratégia pode acabar sendo financeiramente inviável, frustrando tanto os objetivos comerciais da marca quanto as metas da política pública defendida por Trump.

Alternativas viáveis: produção no México pode ser caminho

Uma solução cogitada pela própria Coca-Cola é transferir parte da produção para o México, onde o açúcar de cana já é o adoçante padrão na indústria de bebidas.

Com isso, seria possível minimizar os impactos da reformulação e evitar a complexa adaptação nos centros produtivos dos Estados Unidos, segundo análise de Gopsill.

No entanto, essa manobra também depende de fatores externos, como a manutenção das isenções tarifárias previstas no Acordo EUA-México-Canadá (USMCA).

Caso os produtos importados do México continuem isentos das novas tarifas, a Coca-Cola poderia aumentar o volume de bebidas ou insumos trazidos de lá, dentro dos parâmetros do acordo.

Se, por outro lado, os EUA impuserem mesmo os 30% de tarifa sobre as importações mexicanas, os custos logísticos e operacionais voltarão a subir, reduzindo as chances de viabilizar a transição para o açúcar de cana.

Implicações mais amplas para a indústria

A discussão em torno da Coca-Cola reflete um problema maior para o setor de bebidas e alimentos dos Estados Unidos.

O uso de adoçantes altamente processados, como o xarope de milho, é frequentemente criticado por especialistas em saúde, que associam o ingrediente a doenças como obesidade e diabetes.

A substituição por açúcar de cana é vista por muitos como um passo positivo, ainda que não resolva todos os problemas relacionados ao consumo excessivo de açúcar.

No entanto, o conflito entre políticas de saúde pública e práticas protecionistas na agricultura e comércio exterior cria uma contradição difícil de resolver.

Enquanto o governo tenta incentivar hábitos mais saudáveis, as medidas protecionistas acabam favorecendo os ingredientes menos saudáveis por serem mais baratos e abundantes.

Perspectivas para o futuro

A possibilidade de uma Coca-Cola adoçada com açúcar de cana vendida em larga escala nos Estados Unidos ainda é incerta.

O debate reúne questões econômicas, políticas, regulatórias e culturais, refletindo a complexidade da indústria de alimentos em tempos de mudanças globais.

Se por um lado há pressão por escolhas mais saudáveis, por outro, a logística, os custos e os interesses comerciais dificultam a implementação de mudanças substanciais.

A Coca-Cola, que já vende versões com açúcar de cana em outros mercados – como o México e o Brasil – pode continuar testando alternativas regionais até encontrar um modelo viável nos Estados Unidos.

Enquanto isso, os consumidores atentos à saúde seguem pressionando por maior transparência e opções mais naturais nas prateleiras dos supermercados.

E o futuro da alimentação continua sendo um campo de batalha entre interesses econômicos, políticas públicas e escolhas individuais.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Ana Alice

Redatora e analista de conteúdo. Escreve para o site Click Petróleo e Gás (CPG) desde 2024 e é especialista em criar textos sobre temas diversos como economia, empregos e forças armadas.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x