Jovem espanhola desenvolve técnica revolucionária para produzir cimento lunar usando suor e CO₂, destacada pela NASA. Inovação promete impacto na construção civil em ambientes extremos, como o espaço e regiões áridas da Terra.
A produção de cimento lunar sólido, desenvolvida sem o uso de água líquida e maquinaria pesada, já chama a atenção da NASA e especialistas internacionais pela possibilidade de transformar não apenas a exploração espacial, mas também a construção civil em regiões áridas da Terra.
A inovação, liderada por Palma Bejarano Rey, uma jovem espanhola de 16 anos, utiliza enzimas e regolito (pó mineral) como base para criar uma alternativa sustentável ao cimento tradicional.
O método, capaz de aproveitar até mesmo o suor humano e o dióxido de carbono (CO₂), foi apresentado em fóruns científicos de prestígio e abre novas perspectivas para construções em ambientes extremos.
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Origem do cimento lunar sustentável
O projeto Lithos Concrete nasceu da inquietação de Palma Bejarano Rey diante dos desafios apresentados pelo programa Artemis, da NASA, que prevê o retorno de missões tripuladas à Lua a partir de 2027.
Natural de Algeciras, Espanha, a estudante percebeu que o alto custo e a dificuldade de transportar água e materiais pesados até o solo lunar poderiam comprometer a viabilidade de construir uma base permanente no satélite.
Inspirada por pesquisas em biotecnologia e processos naturais, Palma desenvolveu um cimento enzimático seco, capaz de ser produzido a partir do regolito lunar, enzimas específicas e traços mínimos de vapor d’água – recurso que pode ser obtido do suor ou da respiração dos astronautas.
Segundo a criadora, a técnica dispensa completamente fornos industriais, microrganismos vivos e grandes volumes de energia, tornando-se viável em um ambiente onde os recursos são severamente limitados.
O resultado é a formação de carbonato de cálcio, o mesmo componente encontrado em conchas marinhas e formações rochosas como mármore e calcário, mas produzido de forma sustentável e adaptada à realidade lunar.
Processo inovador e uso de enzimas
O diferencial do Lithos Concrete está no processo bioquímico, projetado especificamente para funcionar sob as condições extremas da Lua.
O método utiliza a enzima anidrase carbônica (AC), um catalisador natural capaz de acelerar a conversão de CO₂ e vapor d’água em íons bicarbonato.
Esta etapa ocorre em um biorreator especialmente desenvolvido, dividido em duas câmaras interligadas: Alpha e Beta.
Na câmara Alpha, o CO₂, capturado do ar exalado pelos astronautas, e o vapor d’água são direcionados para uma matriz de sílica impregnada com enzimas imobilizadas.
O ambiente controlado garante estabilidade à enzima e facilita a reação química.
O produto dessa etapa, rico em bicarbonato, segue por microcanais até a câmara Beta, onde encontra íons de cálcio extraídos do regolito lunar, especialmente de minerais como a anortita.
O encontro desses elementos resulta na precipitação do carbonato de cálcio, que se solidifica sob baixa umidade e pode ser compactado em blocos estruturais.
O método, chamado de L-DEW (Lunar Dry Enzymatic Welding), representa um avanço importante ao permitir a fabricação de cimento seco sem depender de recursos importados ou processos de alta temperatura.
Tecnologias lunares e diferenciais da inovação
As pesquisas para construir na Lua evoluíram consideravelmente nas últimas décadas.
Métodos como a sinterização por micro-ondas ou laser, testados por agências como a NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, dos Estados Unidos) e a ESA (Agência Espacial Europeia), buscam fundir o regolito por meio de calor intenso, atingindo temperaturas superiores a 1.100°C.
Embora essas técnicas possam produzir blocos sólidos para construção, elas demandam grande quantidade de energia e apresentam desafios técnicos consideráveis, sobretudo no controle térmico em um ambiente de extremos como o lunar.
Outras alternativas incluem o uso de geopolímeros e misturas como o Lunarcrete, que combinam regolito e compostos ativadores para formar materiais resistentes.
No entanto, esses processos dependem de reagentes importados da Terra e, muitas vezes, enfrentam limitações quanto à durabilidade e comportamento sob variações de temperatura e pressão no espaço.
A solução proposta pela Lithos Concrete se destaca ao dispensar água líquida e grandes volumes de energia, além de utilizar exclusivamente recursos disponíveis no próprio ambiente lunar, em linha com o conceito de Utilização de Recursos In-Situ (ISRU, na sigla em inglês).
O potencial de produção modular, por meio do sistema de biorreatores interligados, representa também um ganho de escalabilidade e adaptação para futuras bases lunares.
Colaboração científica e inspiração biológica
O desenvolvimento do cimento lunar bioinspirado reflete a observação de fenômenos presentes em organismos marinhos, como corais e moluscos, que produzem suas estruturas a partir da transformação de minerais em ambientes aquáticos.
Adaptar esse conceito para um cenário seco e sem infraestrutura industrial exigiu pesquisa e colaboração internacional, envolvendo jovens cientistas de países como Canadá, Suíça, Emirados Árabes Unidos e Espanha.
De acordo com Palma Bejarano Rey, a equipe da Lithos Concrete mantém reuniões virtuais semanais, trabalhando de forma integrada apesar da distância física.
A participação de Palma em programas de excelência, como o Summer Science Program, no Colorado (EUA), reforça o perfil multidisciplinar da equipe, que conta com especialistas em astrofísica, biologia e computação.
O reconhecimento internacional incluiu a apresentação do projeto no CCIR Student Research Symposium 2025, realizado no King’s College de Londres, sob coordenação da Universidade de Cambridge, além do destaque no prestigiado Conrad Challenge, apoiado pela NASA.
Potencial do cimento enzimático seco em regiões áridas
Apesar de ter sido concebida para o contexto lunar, a tecnologia do cimento enzimático seco desperta grande interesse para uso em regiões áridas e vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.
Em áreas onde a escassez de água compromete a produção de cimento convencional, a alternativa apresentada pela Lithos Concrete pode oferecer benefícios ambientais e econômicos, reduzindo o consumo de recursos naturais e as emissões de carbono associadas à indústria da construção.
A proposta também alinha-se a debates atuais sobre sustentabilidade e inovação, ampliando as possibilidades de construções adaptadas a diferentes desafios planetários.
Para muitos especialistas, iniciativas como a da jovem espanhola reforçam a importância de investir em ciência e pesquisa como ferramentas para resolver problemas globais e preparar a humanidade para cenários cada vez mais complexos.