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Cientistas utilizaram satélites muito antigos para localizar aquedutos subterrâneos de 3.000 anos. Veja como essa tecnologia está revelando segredos do passado

Escrito por Lucas Carvalho
Publicado em 23/09/2024 às 19:21
satélites, aquedutos subterrâneos
Foto: Reprodução

Utilizando satélites antigos, cientistas fizeram uma descoberta incrível: aquedutos subterrâneos com mais de 3.000 anos foram revelados

Cientistas têm utilizado uma ferramenta improvável para localizar aquedutos subterrâneos de mais de 3.000 anos: satélites americanos da época da Guerra Fria. Uma equipe de pesquisadores na Espanha, liderada pelo Instituto Catalão de Arqueologia Clássica, está aproveitando as imagens de satélites da série HEXAGON, conhecidos como Big Bird, para aprimorar a detecção de sistemas antigos de irrigação subterrânea, conhecidos como qanats, em regiões áridas do Oriente Médio e Norte da África.

Esses aquedutos subterrâneos, essenciais para a distribuição de água em ambientes desérticos, são formados por uma série de poços de ventilação espaçados regularmente, o que os torna visíveis em imagens aéreas.

Para melhorar a precisão da identificação desses aquedutos subterrâneos, a equipe de pesquisadores desenvolveu um modelo de aprendizado de máquina que combina as imagens capturadas pelos satélites HEXAGON com imagens geradas por inteligência artificial (IA).

O que são os Qanats?

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Os qanats são sistemas de canais subterrâneos projetados para transportar água de áreas de terras altas ou montanhosas para regiões mais áridas.

Esses sistemas permitiram que civilizações antigas florescessem em áreas onde a água seria escassa. Com origem há cerca de 3.000 anos, muitos qanats ainda estão em uso até hoje. Eles representam um avanço tecnológico impressionante para a época, sendo construídos com base em princípios hidráulicos e geológicos que garantiam um fluxo constante de água sem o uso de bombas.

A inovação dos qanats reside na sua simplicidade e eficiência. Poços verticais escavados ao longo do trajeto do canal fornecem ventilação e acesso para manutenção, enquanto o túnel subterrâneo transporta água fresca para áreas onde seria impossível viver sem essa fonte de irrigação.

Em alguns lugares, como no Irã, esses sistemas foram tão importantes que alguns foram incluídos na lista do Patrimônio Mundial da UNESCO, reconhecendo seu valor histórico e cultural.

A reutilização de satélites da Guerra Fria para encontrar os aquedutos subterrâneos

Os satélites HEXAGON, construídos pela Lockheed Corp. e utilizados pelos Estados Unidos entre 1971 e 1986, foram originalmente projetados para missões de reconhecimento durante a Guerra Fria.

Esses satélites eram equipados com duas câmeras de filme de alta resolução que produziam imagens estéreo. Com a capacidade de captar objetos menores que dois pés de largura, a partir de uma altitude de 100 milhas, os satélites capturaram imagens detalhadas de 877 milhões de milhas quadradas da superfície da Terra.

Essas imagens, apesar de antigas, continuam a ser uma fonte valiosa de dados. Ao alimentar essas imagens em um modelo de aprendizado de máquina, a equipe de pesquisadores espanhóis conseguiu aprimorar a detecção de qanats, que aparecem como linhas de poços de ventilação circulares vistos de cima.

Ao combinar imagens reais com imagens geradas por IA, o modelo foi capaz de generalizar a representação dos qanats em diferentes paisagens, resultando em uma taxa de sucesso de 88% na identificação dos sistemas subterrâneos.

Aplicação do modelo em diferentes regiões

Para demonstrar a eficácia do modelo, a equipe escolheu três regiões conhecidas por seus antigos sistemas de qanats: Maiwand, no Afeganistão; a planície de Gorgan, no Irã; e uma área ao oeste de Rissani, no Marrocos.

Essas áreas apresentam paisagens diversas, desde desertos áridos até planícies montanhosas, tornando-as ideais para testar a capacidade do modelo de identificar qanats em diferentes tipos de terreno.

Ao analisar as imagens de satélite e de IA, o modelo foi treinado para reconhecer as linhas de poços de ventilação que indicam a presença de qanats. Esses poços de acesso, usados tanto para ventilação quanto para manutenção, são essenciais para o funcionamento dos sistemas subterrâneos e são um dos principais indicadores da existência de um qanat.

A combinação de dados reais e gerados por IA permitiu que o modelo eliminasse a maioria dos falsos positivos, tornando o processo de identificação mais eficiente.

Importância histórica e futura dos qanats

Os qanats representam um dos maiores feitos da engenharia hidráulica do mundo antigo. Sua importância vai além da distribuição de água; eles permitiram o desenvolvimento de cidades e assentamentos em regiões inóspitas, mudando o curso da história em áreas como o Oriente Médio e o Norte da África.

O estudo da equipe espanhola não apenas ajuda a identificar esses sistemas antigos, mas também fornece uma nova ferramenta para arqueólogos e historiadores estudarem a expansão e o impacto das civilizações antigas em regiões áridas.

A reutilização de tecnologias da Guerra Fria, como os satélites HEXAGON, para estudar estruturas de 3.000 anos, demonstra como a ciência moderna pode oferecer novas perspectivas sobre o passado.

Além disso, a aplicação desse modelo em diferentes regiões pode abrir portas para a identificação de outros sistemas qanat ainda não mapeados, fornecendo informações valiosas sobre a história do uso da água em regiões áridas.

Esse conhecimento pode ser crucial para enfrentar os desafios modernos relacionados à escassez de água, especialmente em áreas que ainda dependem de sistemas de irrigação tradicionais.

A descoberta e mapeamento de qanats usando satélites da Guerra Fria e inteligência artificial representam um avanço significativo no campo da arqueologia. Ao combinar imagens históricas com tecnologias modernas, a equipe de pesquisadores espanhóis conseguiu desenvolver um modelo eficaz para identificar esses sistemas antigos em diferentes paisagens.

Esse estudo não apenas ilumina o passado, mas também pode fornecer soluções para problemas atuais relacionados ao uso sustentável da água em regiões áridas.

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Lucas Carvalho

Jornalista experiente com ampla atuação na cobertura de temas relacionados a petróleo, gás e energia renovável. Especialista em análises aprofundadas e tendências do setor, com enfoque em inovações tecnológicas e impacto ambiental. Autor de artigos relevantes na área.

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