Nova tinta térmica para telhados, projetada com inteligência artificial, reduz aquecimento solar e emite calor para o “céu frio”, apontando economia de energia em climas quentes, segundo artigo na Nature.
Pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, China, Singapura e Suécia apresentaram materiais inovadores de resfriamento passivo, como uma nova tinta capaz de manter superfícies significativamente mais frias sob sol intenso. O estudo, publicado na Nature, detalha um método baseado em machine learning que acelera o design de “metaemissores térmicos”.
A proposta é reduzir a demanda por ar-condicionado em edifícios, ajudando também a mitigar o efeito de ilha de calor em áreas urbanas. De acordo com reportagem do The Guardian, há redução de 5 °C a 20 °C na temperatura de superfícies quando comparadas a tintas convencionais, além do potencial uso em outros setores.
Nos materiais de divulgação da Universidade do Texas em Austin, os autores destacam sete classes de metaemissores geradas pela plataforma de IA, com estimativa de economia de 15.800 kWh por ano em um prédio de quatro andares localizado em clima quente como Rio de Janeiro ou Bangcoc.
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Especialistas lembram que soluções de resfriamento passivo ganham tração porque podem reduzir consumo e picos de carga, trazendo conforto térmico sem depender apenas de sistemas mecânicos. A imprensa universitária e técnica tem acompanhado o avanço do tema desde julho.
O que é a tinta térmica criada com IA e como ela funciona
A “tinta térmica” é um revestimento projetado para refletir grande parte da luz solar e emitir calor de forma eficiente em comprimentos de onda que escapam pela atmosfera, fenômeno conhecido como resfriamento radiativo, em outras palavras, a tinta é capaz de jogar o calor de volta para o espaço. Em vez de ajustar fórmulas por tentativa e erro, os cientistas usaram IA para inverter o problema e gerar arquiteturas 3D e composições com desempenho otimizado.
O método resultou em metaemissores térmicos de diferentes perfis: alguns com alta refletância solar, outros com emissividade seletiva e outros que combinam as duas propriedades. Essa flexibilidade permite adaptar a solução a climas, substratos e aplicações distintos, do telhado residencial a componentes de eletrônicos.
Em termos práticos, o objetivo é manter a superfície mais fria que o ar em certas condições, reduzindo a transferência de calor para o interior. Relatos técnicos apontam para resfriamento de 5 °C a 20 °C em comparação a tintas convencionais expostas ao mesmo sol, o que, somado ao isolamento adequado, pode aliviar o esforço do ar-condicionado.
Segundo as universidades, a plataforma de IA acelera o ciclo de descoberta, encurtando o tempo entre a simulação e os testes de laboratório. Isso abre caminho para famílias de materiais que seriam difíceis de encontrar com métodos tradicionais.
Resultados medidos e o que esperar na economia de energia
A Nature e comunicados oficiais registram que a abordagem por IA gerou materiais com desempenho acima do estado da arte em provas de conceito. Em cenários simulados para climas quentes, a aplicação do revestimento no telhado de um edifício de quatro andares poderia economizar aproximadamente 15.800 kWh/ano de eletricidade. É um número indicativo que depende de projeto, ocupação e uso.
Para comparação direta, interlocutores citam um ar-condicionado típico consumindo algo na faixa de 1.500 kWh/ano, mas esse valor varia com capacidade, eficiência e hábitos. O importante é a redução da carga térmica do edifício, que encurta o tempo de compressor ligado e suaviza picos de demanda.
Em testes práticos divulgados pela imprensa, superfícies pintadas com as novas formulações mantiveram-se substancialmente mais frias sob sol de meio-dia do que concorrentes comerciais. Isso sinaliza ganhos potenciais de conforto nos ambientes internos, sem alterar a arquitetura.
Ainda assim, vale frisar, os números vêm de protótipos e simulações. A economia real depende de orientação solar, cor e material do telhado, isolamento e clima local, exigindo análise caso a caso por profissionais.
Além dos telhados: carros, roupas e eletrônicos
O consórcio de pesquisa aponta que os metaemissores térmicos não se limitam a edificações. Há interesse em têxteis com resfriamento para equipamentos ao ar livre, em veículos expostos ao sol e até em eletrônicos que exigem melhor gestão de calor. Essa versatilidade decorre da possibilidade de “customizar” as propriedades óptico-térmicas com IA.
Em veículos, um revestimento de alta refletância e emissividade pode reduzir a temperatura do teto e do painel, melhorando conforto térmico e diminuindo a necessidade de usar o ar-condicionado logo após estacionar ao sol. Pesquisas futuras devem avaliar aderência, abrasão e estética para uso automotivo.
Em têxteis, materiais finos e respiráveis com emissividade no infravermelho podem favorecer dissipação de calor do corpo, com aplicações em EPIs, esportes e ambientes industriais. Tais aplicações ainda passam por validação, mas já constam no radar dos grupos de pesquisa.
No setor eletrônico, superfícies emissivas ajudam a gerenciar hotspots sem partes móveis, o que interessa a empresas que buscam confiabilidade térmica. Esse é um uso onde a engenharia de bandas seletivas pode ser particularmente valiosa.
Mercado, prazos e alternativas já disponíveis no Brasil
Os autores descrevem a tecnologia como prova de conceito em fase acadêmica. Antes da comercialização ampla, será preciso comprovar escalabilidade, custo competitivo, durabilidade UV, aderência a normas e desempenho sustentado ao longo dos anos. Instituições parceiras reforçam que há potencial, mas não há anúncio de produto com data de lançamento.
Enquanto a “tinta de IA” amadurece, consumidores e síndicos podem recorrer a soluções já conhecidas, como tintas refletivas de alta refletância solar, telhas claras, mantas e barreiras térmicas combinadas a um bom isolamento. Essas medidas são disponíveis no mercado e já comprovam benefícios em climas quentes.
Outro campo em ascensão é o de tintas evaporativas que “suedam” água. Pesquisadores de Singapura publicaram resultados mostrando que um revestimento cimentício poroso refletiu 88 a 92% da luz solar e removeu até 95% do calor absorvido, com redução de 30 a 40% no uso de ar-condicionado em testes locais, inclusive em alta umidade. É uma via complementar ao resfriamento radiativo.