Um projeto ambicioso está em andamento: cientistas ao redor do mundo querem instalar painéis solares no espaço para capturar energia de forma contínua e transmiti-la para a Terra por meio de micro-ondas ou lasers, oferecendo uma nova alternativa energética ao planeta.
Uma equipe de cientistas da Califórnia está explorando um jeito diferente de pensar a energia limpa. A proposta deles vai além da atmosfera. Literalmente. Eles querem aproveitar a energia solar no espaço e trazer isso de forma mais eficiente para a Terra.
A ideia não é nova. Desde os anos 1940, ela aparece em livros de ficção científica. Mas agora, pesquisadores estão colocando o conceito à prova com testes reais, mesmo que ainda em pequena escala.
O desafio de trazer energia do espaço
Captar energia solar no espaço tem uma vantagem: o fornecimento seria constante. Ao contrário dos painéis solares terrestres, que dependem do clima, no espaço o sol brilha o tempo todo. Isso atrai cada vez mais o interesse de especialistas em energia.
Mas transmitir essa energia do espaço até a Terra não é tão simples. O feixe de energia, geralmente em forma de micro-ondas, precisa ser muito bem direcionado.
E como a distância é enorme, a energia tende a se dispersar. Isso exige transmissores gigantes no espaço e receptores grandes no solo, o que é caro e complexo.
A ideia dos relés espaciais
É aí que entra a proposta de Ali Hajimiri, professor do Instituto de Tecnologia da Califórnia, e sua equipe. Eles pensam em colocar transmissores intermediários orbitando a Terra.
Como se fossem relés espaciais (dispositivos eletromecânicos ou eletrônicos usados para controlar circuitos elétricos), eles ajudariam a redirecionar a energia do espaço até os receptores no solo com mais precisão.
Segundo Hajimiri, esse sistema de retransmissão permite usar transmissores e receptores menores. “Matrizes de transmissão programáveis colocadas em alguma órbita intermediária podem aliviar muito esse requisito de tamanho”, afirma o pesquisador.
Como funciona o sistema
O modelo proposto envolve uma constelação de antenas. Esses conjuntos de transmissores se revezam na tarefa de captar e redirecionar a energia.
Quando um grupo está se afastando do ponto ideal de transmissão, outro grupo se aproxima e assume o trabalho.
Esses relés orbitais ficam entre o painel solar espacial principal — o chamado conjunto ativo — e os receptores na Terra. Com isso, o feixe de energia pode ser ajustado no caminho, aumentando a chance de que mais energia chegue ao destino.
Resultados promissores nos testes
Para testar o conceito, os pesquisadores criaram protótipos simples e baratos. Em um experimento, colocaram um transmissor e um receptor a 3,8 metros de distância dentro de uma câmara anecóica, que simula o ambiente espacial ao evitar reflexos de ondas.
Com os relés, conseguiram transferir quase 2,5 vezes mais energia do que o método direto. Isso mostra que o sistema poderia funcionar melhor em distâncias maiores, ou permitir o uso de equipamentos menores.
Mesmo sendo um teste em escala pequena, os resultados empolgaram a equipe. Eles acreditam que o sistema pode ser uma boa solução para os desafios atuais da energia espacial.
Próximos passos e visão de futuro
Ainda há muito a ser feito. Um sistema completo de transmissão de energia do espaço para a Terra está longe de se tornar realidade. Mas Hajimiri e seus colegas já planejam os próximos testes. O objetivo agora é desenvolver conjuntos de transmissão em larga escala e verificar como eles se comportam em ambiente espacial.
O professor também reconhece que adicionar esses relés ao sistema aumentaria os custos iniciais. No entanto, ele acredita que o ganho de eficiência compensaria com o tempo. O sistema se tornaria mais econômico por unidade de energia gerada.
Enquanto o mundo busca formas mais limpas e confiáveis de produzir energia, ideias como essa mostram que pensar fora da Terra pode ser parte da solução.