Fenômeno detectado sobre o Atlântico intriga cientistas
Em 2007, satélites da missão GRACE, da Nasa e do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), detectaram uma anomalia na gravidade da Terra sobre o leste do Oceano Atlântico. Embora o fenômeno tenha passado despercebido à superfície, ele intrigou cientistas ao redor do mundo por quase duas décadas. Agora, em 2025, pesquisadoras francesas finalmente apresentaram uma explicação convincente, apoiada em dados espaciais e modelos de dinâmica interna do planeta.
O evento que abalou o campo gravitacional terrestre
Entre 2006 e 2008, os instrumentos da missão GRACE registraram mudanças intensas no campo gravitacional da Terra. Essas variações atingiram o auge em janeiro de 2007, quando uma faixa de mais de 7 mil quilômetros apresentou comportamento anômalo. Enquanto as hipóteses iniciais apontavam para movimentos oceânicos ou marés, nenhuma delas resistiu à análise detalhada. Consequentemente, o mistério se manteve vivo, gerando novas teorias a cada ano.
Contudo, à medida que os dados foram revisados, ficou claro que a anomalia era profundamente diferente de qualquer evento superficial já documentado. Portanto, os cientistas precisavam olhar mais fundo — literalmente.
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A reviravolta científica veio do interior do planeta
Em 2025, uma equipe do Instituto Geográfico Nacional da França (IGN), com apoio do Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES), decidiu reabrir o caso. Para isso, cruzou os dados originais da GRACE com novos modelos computacionais que simulam o comportamento do manto inferior da Terra. Essa camada, localizada entre 660 e 2.900 quilômetros de profundidade, é onde temperaturas e pressões extremas transformam minerais em novas estruturas.
Foi ali que surgiu o elemento-chave: o mineral bridgmanita, pertencente à família das perovskitas. Sob condições específicas, ele altera sua estrutura cristalina e muda de densidade, redistribuindo a massa ao redor. Assim, essa mudança seria suficiente para modificar o campo gravitacional globalmente. Essa hipótese, liderada pela geofísica Charlotte Gaugne Gouranton, é a primeira a vincular o fenômeno de 2007 a um processo interno da Terra.
Além disso, o estudo mostra que micromovimentos subterrâneos podem gerar efeitos globais perceptíveis por satélites. Por isso, a pesquisa representa uma virada de paradigma na compreensão da gravidade terrestre.
Linha do tempo do fenômeno e suas descobertas
- 2002: A missão GRACE é lançada pela Nasa e pelo DLR, com o objetivo de mapear variações gravitacionais em tempo real.
- 2006–2008: O campo gravitacional terrestre sofre uma anomalia detectada sobre o Atlântico Leste, com pico em janeiro de 2007.
- 2017: A missão é encerrada, mas seus dados continuam sendo analisados por universidades e centros de pesquisa globais.
- 2025: Pesquisadoras do IGN e do CNES publicam um estudo em Geophysical Research Letters identificando a bridgmanita como o agente causador da anomalia.
Essa sequência de eventos comprova como a ciência evolui com base em revisões contínuas. Cada nova geração de cientistas acrescenta camadas de compreensão que reconstroem a história do planeta.
O impacto da descoberta para a geofísica moderna
De acordo com especialistas da Nasa e do IGN, essa descoberta altera a forma como o mundo compreende a dinâmica interna da Terra. Além de resolver um mistério antigo, o estudo reforça que a gravidade terrestre é sensível a processos microscópicos. Dessa forma, ele abre caminho para futuras missões de observação, como a GRACE-FO (Follow-On), que continua a monitorar o equilíbrio gravitacional global.
Por conseguinte, essa revelação tem implicações diretas para áreas como mudanças climáticas, monitoramento de oceanos e previsões sísmicas. Afinal, se o interior da Terra é capaz de alterar o campo gravitacional, ele também pode influenciar outros fenômenos naturais em escala global.
O que o futuro reserva para a ciência da gravidade
A explicação para o evento de 2007 encerra um dos capítulos mais intrigantes da geofísica moderna. No entanto, ela também abre novas perguntas: quantas outras anomalias ainda escondem segredos nas profundezas do planeta? E como a bridgmanita reage sob diferentes condições de pressão e temperatura ao longo de milhões de anos?
Enquanto essas respostas não chegam, os cientistas celebram um feito notável. Após 18 anos de incerteza, o mistério gravitacional da Terra finalmente foi resolvido. Mas, inevitavelmente, cada descoberta revela também o quanto ainda falta entender sobre a força que mantém tudo no lugar.