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Cientistas criam a primeira língua artificial do mundo capaz de sentir e memorizar sabores por mais de 2 minutos

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 12/08/2025 às 18:14
Cientistas criam a primeira língua artificial do mundo capaz de sentir e memorizar sabores por mais de 2 minutos
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Cientistas desenvolvem a primeira língua artificial do mundo, feita com óxido de grafeno, capaz de identificar sabores com até 96% de precisão e revolucionar saúde e indústria alimentícia.

Cientistas deram um passo inédito no campo da bioeletrônica ao desenvolverem a primeira língua artificial do mundo capaz de sentir e processar sabores diretamente dentro de líquidos. A descoberta, publicada no último dia 15 na revista científica PNAS, promete abrir novas fronteiras na detecção química, tanto na área médica quanto na indústria de alimentos e no monitoramento ambiental.

O protótipo utiliza membranas de óxido de grafeno — lâminas ultrafinas de carbono que funcionam como filtros moleculares — para controlar o movimento de íons, retardando-o em até 500 vezes. Esse atraso é fundamental para que o sistema crie “memórias de sabor” que duram cerca de 140 segundos, permitindo que a máquina reconheça e diferencie diferentes padrões gustativos.

Como funciona a primeira língua artificial do mundo

Inspirado no funcionamento das papilas gustativas humanas, o dispositivo consegue identificar quatro sabores básicos: doce, azedo, salgado e amargo. Nos testes com líquidos simples, a taxa de acerto variou de 72,5% a 87,5%. Porém, em bebidas mais complexas, como café e refrigerantes, a precisão chegou a impressionantes 96%.

A grande inovação está no fato de que, ao contrário de sistemas anteriores, essa língua artificial não depende exclusivamente de computadores externos para processar os dados. Parte da análise é feita dentro do próprio ambiente líquido, o que mantém os sabores em seu estado iônico natural, aumentando a precisão da leitura.

O sistema aprende com o uso, tornando-se mais eficiente com o tempo para diferenciar sabores parecidos — algo essencial para aplicações na indústria alimentícia e na detecção de adulterações.

Potenciais aplicações médicas e industriais

Os pesquisadores acreditam que o alcance dessa tecnologia vai muito além de simplesmente “provar” alimentos. Na área médica, a primeira língua artificial do mundo poderia ser usada para detectar precocemente doenças através da análise química de fluidos corporais, como saliva ou sangue. Pacientes que perderam o paladar após um acidente vascular cerebral (AVC) ou doenças neurológicas também poderiam se beneficiar, recuperando parte da capacidade de identificar sabores.

Já na indústria alimentícia, a tecnologia poderia revolucionar o controle de qualidade de bebidas e alimentos, garantindo mais segurança e uniformidade no sabor. Com precisão próxima de 100%, seria possível detectar variações mínimas que passariam despercebidas por provadores humanos.

Outra aplicação promissora está no monitoramento ambiental, onde a língua artificial poderia identificar alterações no sabor da água causadas por contaminação, funcionando como um alerta rápido para evitar problemas de saúde pública.

Desafios para tornar a tecnologia prática

Apesar do potencial transformador, a primeira língua artificial do mundo ainda enfrenta barreiras técnicas antes de chegar ao mercado. O equipamento atual é relativamente volumoso, consome mais energia do que o ideal e precisa aumentar sua sensibilidade para reconhecer concentrações muito baixas de determinadas substâncias.

Os cientistas apontam que melhorias na miniaturização dos componentes, na integração com hardware neuromórfico (capaz de imitar o funcionamento do cérebro) e na eficiência energética são passos essenciais para que o dispositivo se torne uma ferramenta prática e acessível. A expectativa é que, com avanços tecnológicos, o tamanho seja reduzido ao ponto de caber em dispositivos portáteis dentro da próxima década.

Óxido de grafeno: o coração da inovação

O uso de óxido de grafeno é outro destaque do projeto. Esse material é formado por camadas extremamente finas de átomos de carbono dispostos em uma rede hexagonal, com propriedades únicas de condutividade elétrica e resistência mecânica. Na língua artificial, ele atua como um filtro molecular seletivo, permitindo a passagem de íons de forma controlada.

Esse controle preciso é o que garante a “memória de sabor”, permitindo que o sistema compare o padrão detectado com registros anteriores, de forma semelhante ao que o cérebro humano faz quando reconhece sabores familiares.

Um passo rumo ao futuro

Para o professor responsável pelo estudo, o avanço não representa apenas uma curiosidade científica, mas um passo significativo para o desenvolvimento de sistemas sensoriais artificiais. “Estamos confiantes de que essa tecnologia poderá transformar a forma como analisamos e monitoramos líquidos, desde a água que bebemos até medicamentos e alimentos processados”, afirmou.

Se os próximos anos confirmarem o potencial previsto, a primeira língua artificial do mundo poderá estar presente em fábricas, hospitais e até mesmo em dispositivos domésticos, ajudando a garantir a qualidade e a segurança de tudo o que consumimos.

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Débora Araújo

Débora Araújo é redatora no Click Petróleo e Gás, com mais de dois anos de experiência em produção de conteúdo e mais de mil matérias publicadas sobre tecnologia, mercado de trabalho, geopolítica, indústria, construção, curiosidades e outros temas. Seu foco é produzir conteúdos acessíveis, bem apurados e de interesse coletivo. Para sugestões de pauta, correções ou contato direto: deborasthefanecruz@gmail.com

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