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Chineses querem ressuscitar seus “dragões” que previam terremotos há milênios, usando apenas materiais e técnicas do século II

Publicado em 31/07/2025 às 13:46
China, Terremotos, Sismógrafo, Dragões
Museu Chinês Calgary Alberta/Wikimedia Commons
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Pesquisadores chineses tentam recriar o lendário sismógrafo de Zhang Heng usando apenas materiais e técnicas do século II, como nos registros antigos

Há quase dois mil anos, a China assistiu à criação de um aparelho que, segundo registros da época, conseguia detectar terremotos a grandes distâncias. O responsável foi o erudito Zhang Heng, que viveu durante a dinastia Han do Leste.

Seu invento, chamado Houfeng Didong Yi, era um recipiente mecânico decorado com dragões e sapos de bronze, e teria sido capaz de identificar abalos sísmicos invisíveis aos sentidos humanos. Agora, esse objeto misterioso pode ganhar uma nova vida na China.

Uma máquina com aparência lendária

De acordo com textos antigos, o sismógrafo tinha o formato de uma urna cercada por oito dragões. Cada dragão segurava uma esfera de bronze voltada para a boca de um sapo.

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O funcionamento do aparelho impressionava: quando ocorria um terremoto, uma esfera caía da boca de um dragão, indicando a direção do epicentro.

O livro Han Posteriores relatou que o dispositivo era tão preciso que “tocava o divino”. Apesar disso, com o tempo, ele desapareceu dos registros históricos e passou a ser tratado como uma lenda.

Em 2017, seu estudo foi até retirado dos currículos escolares, por falta de provas concretas de que tivesse realmente existido ou funcionado como se dizia.

Pesquisadores querem trazer a máquina de volta

Uma equipe chinesa, liderada pelo professor Xu Guodong, do Instituto de Prevenção de Desastres de Hebei, está tentando recriar o antigo instrumento.

A missão é ambiciosa: reconstruir a máquina usando somente materiais e técnicas do século II. Para isso, os estudiosos combinaram descrições literárias com conhecimentos modernos sobre engenharia estrutural.

Eles acreditam que o aparelho era composto por três sistemas principais: um mecanismo de excitação, um de transmissão e outro de travamento.

O centro da estrutura teria um braço do tipo pêndulo que se movia ao menor sinal de vibração no solo. Com esse movimento, uma alavanca em formato de “L” seria ativada, liberando uma esfera que caía na boca do sapo na direção do terremoto.

Os outros dragões permaneciam imóveis, respeitando a lógica da máquina: “um dragão que fala e sete que se calam”.

Testes indicam que o sistema pode funcionar

As simulações feitas pela equipe mostraram que o mecanismo responde a movimentos de apenas 0,5 milímetro. Além disso, não emite falsos alarmes.

Mesmo com as limitações do conhecimento moderno sobre ondas sísmicas, Xu defende que os registros da época batem com as direções geológicas conhecidas hoje.

Como exemplo, ele cita o terremoto de Longxi, no ano 138 d.C. Na ocasião, o sismógrafo teria detectado um tremor a 850 km de distância.

Em Luoyang, capital do império na época, ninguém sentiu nada. Mas, dias depois, mensageiros confirmaram o abalo.

Outro dado citado por Xu é o aumento no número de terremotos registrados após a adoção do aparelho.

Nos 85 anos anteriores, só três sismos locais tinham sido anotados. Já nos 58 anos seguintes, o número saltou para 23.

A trajetória de Zhang Heng e os desafios políticos

Zhang Heng não era apenas inventor. Em 115 d.C., foi nomeado astrólogo imperial, um cargo importante ligado à observação do céu.

Criou uma esfera armilar — um modelo do universo — e demonstrou profundo conhecimento em astronomia e matemática.

Mas sua criação pode ter incomodado politicamente. Naquele tempo, desastres naturais eram vistos como avisos do céu, que podiam afetar a autoridade do imperador.

Um instrumento que “previsse” terremotos poderia ser interpretado como ameaça ao poder imperial. Zhang se aposentou em 138 e morreu no ano seguinte. Alguns estudiosos acham que isso não foi coincidência.

Além disso, Xu sugere que o sismógrafo original e seus desenhos técnicos podem ter desaparecido por causa de guerras, disputas políticas ou até por ação de famílias influentes que esconderam a invenção.

Um símbolo sagrado e um marco da ciência

Segundo Xu, apenas dois objetos de bronze foram considerados sagrados na história da China: os Nove Caldeirões da dinastia Xia e o sismógrafo de Zhang Heng. Por isso, restaurar a máquina também é um gesto simbólico.

O projeto não pretende apenas recuperar a estrutura física. A ideia é mostrar ao mundo que a engenhosidade da antiga China já buscava entender os terremotos muito antes da era moderna.

Se a reconstrução for bem-sucedida, a façanha de Zhang Heng pode deixar de ser tratada como lenda e voltar ao seu lugar na história da ciência.

Com informações de Xataka.

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Romário Pereira de Carvalho

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