Professor de geopolítica e instituições de pesca denunciam que navios pesqueiros vindos da China invadem território marítimo da América do Sul há anos
Todos os países costeiros têm o direito de explorar suas Zonas Econômicas Exclusivas. Tratam-se da faixa marítima de até 200 milhas náuticas (370 km) para além das águas territoriais de cada país. Sobre essas zonas, cada nação tem prioridade para aproveitar os recursos naturais do mar, tanto vivos como não-vivos, sendo responsabilidade da sua gestão ambiental. No entanto, ao longo do tempo, existem vários relatos de que navios de pesca da China teriam invadido essas áreas pelo mundo, sendo que de uns tempos pra cá, a ameaça ao território sul-americano aumenta.
Em vídeo publicado em seu canal no YouTude, o professor de Geopolítica Heni Ozi Cukier afirma que a biodiversidade da vida marinha na América do Sul, em especial os peixes, estaria fortemente ameaçada por navios invasores chineses. Cukier, que também é conhecido como professor HOC, lembrou o episódio ocorrido em 2020 quando mais de 300 navios vindos da China cruzaram o Estreito de Magalhães, no extremo sul do Chile, e chegado ao Atlântico Sul.
“Quando essas embarcações de pesca chegam mais perto da costa, elas estão, na verdade, invadindo uma zona exclusiva de um país. Essa pesca ilegal nas águas sul-americanas representa um desafio para manutenção da soberania dos países costeiros do Cone Sul (Brasil, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai)”, disse HOC. Ainda segundo o estudioso, as frotas chinesas representam 70% dos países que praticam pesca ilegal no mundo.
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A China lidera o ranking mundial de países produtores de pescado, sendo responsável por 15% da média de produção total. Os chineses pescam 15,2 milhões de toneladas por ano. Nenhum outro país ou continente chega perto desses números. Indonésia (6,11 milhões), Estados Unidos (4,9 milhões), Rússia (4,47 milhões), Peru (3,77 milhões), Índia (3,60 milhões), e Japão (3,17 milhões) vêm em seguida.
Sindicato diz que pesca ilegal promovida por chineses se tornou rotina
Segundo o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp), os navios pesqueiros da China procuram litorais menos fiscalizados. Assim acontecia no continente africano, porém a situação se tornou amplamente conhecida e os chineses passaram a sofrer pressões.
Ainda segundo a Sopesp, em um artigo publicado em seu site, a China mudou seu destino nos últimos anos. Então, as frotas ilegais de pesca predatória passaram a ser avistadas com maior frequência no Atlântico e Pacífico Sul.
O Sindicato lembra o episódio ocorrido em 2019 no qual cerca de 7 toneladas de peixes da pesca ilegal foram apreendidos numa operação conjunta entre a Marinha do Brasil e da França entre a foz do rio Oiapoque (Amapá) e as águas territoriais da Guiana Francesa. “É sabido que a maior parte dos barcos são chineses, país que investe fortemente nos países da região. Ou seja, com uma mão são aliados, com outra…”, diz o órgão.
A pesca em águas internacionais não é ilegal, porém também não é regulamentada. O que preocupa o Brasil é que, diante do contexto, há uma tendência de que os chineses possam se aproximar cada vez mais da costa brasileira e interferir negativamente na natureza marinha. Brasil e China são parceiros comerciais.
Casos de conflito envolvendo embarcações chinesas e sul-americanas ao longo da história
Em 2018, um navio atuneiro do Rio Grande do Norte (RN), com apenas 10 tripulantes e 22 metros de comprimento, foi atacado por uma embarcação chinesa com o dobro do tamanho. O ataque aconteceua 420 milhas da costa brasileira (676 quilômetros), sem feridos.
Na Argentina, em 2016, a guarda costeira local abriu fogo até provocar o naufrágio de um barco de pesca vindo da China e que estava dentro do território marítimo argentino. A intenção dos chineses era capturar lulas.
Em novembro de 2020, Equador, Chile, Peru e Colômbia emitiram uma declaração conjunta sobre a frota pesqueira chinesa que estava operando no Pacífico, especialmente frente à costa chilena.
Propostas polêmicas
Algumas imensas frotas chinesas passam anos no mar internacional, sendo reabastecidas por navios tanque, e transferem a carga para navios-fábrica para que continuem pescando. Em 2013, a China apresentou um projeto ao governo do Uruguai para construir um terminal de pesca como uma base de reparo e fornecimento de recursos para todos os navios da China e Taiwan. Porém, ambientalistas e países vizinhos reagiram contra.
Fala-se também que os chineses teriam interesse em construir um polo marítimo na cidade de Rio Grande (RS). O Projeto de Pesca Integrada foi previsto em US$ 30 milhões para a construção de 400 navios de pesca de arrasto marinho, uma planta de congelamento com capacidade de 500 toneladas por dia, além de um porto de até 100 hectares.