Decisão inédita revela nova fase da estratégia chinesa no controle de preços
A suspensão das compras de minério de ferro da BHP pela estatal chinesa CMRG foi confirmada nesta terça-feira (30), segundo a Bloomberg.
A medida surpreendeu o mercado internacional. A mineradora australiana responde por cerca de 20% do fornecimento global e exporta 70% de sua produção para a China.
Esses números foram destacados em relatório do banco UBS, que avaliou a decisão como um marco importante no mercado mundial de commodities minerais.
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Impasse em negociações e impacto imediato no mercado
O impasse surgiu após semanas de reuniões sem avanço entre representantes chineses e a BHP. O motivo principal está no controle de preços internacionais.
A China busca reduzir os custos diante da queda da demanda interna por aço. A mineradora australiana, por outro lado, resiste às pressões chinesas.
A decisão da CMRG, criada em 2021 para centralizar importações, atinge contratos em andamento e suspende novas negociações. O bloqueio inclui cargas já embarcadas na Austrália.
Além disso, a paralisação ocorre em um momento de maior assertividade chinesa no setor mineral. Em setembro, o país também restringiu exportações de terras raras.
Esses elementos são essenciais para tecnologias avançadas. Analistas apontam que o movimento amplia a influência de Pequim em mercados estratégicos e reforça seu poder econômico global.
Pressão sobre Vale, Rio Tinto e Fortescue
A suspensão abre espaço para concorrentes como Vale e Rio Tinto absorverem parte da demanda chinesa. Entretanto, produtos da BHP não possuem substituição imediata.
O analista Daniel Sasson, do Itaú BBA, explica que, ainda que a China redirecione compras, o corte de fornecimento pode provocar alta significativa nos preços.
Segundo ele, a BHP integra o grupo dos três maiores exportadores mundiais. Dessa forma, qualquer suspensão prolongada causa pressão inflacionária em escala global.
Para Artur Bontempo Filho, consultor da Wood Mackenzie, a decisão representa mais do que uma disputa de preços. Trata-se de uma mudança estrutural relevante.
Segundo ele, a centralização das compras pela CMRG altera o equilíbrio de poder, colocando mineradoras globais sob pressão crescente em negociações estratégicas.
Dependência mútua e horizonte incerto
Embora a suspensão tenha impacto imediato, analistas acreditam que dificilmente será prolongada. As siderúrgicas chinesas não conseguiriam sustentar a ausência da BHP por muito tempo.
Mesmo com queda da demanda interna, a China aumentou exportações de aço nos últimos anos. Isso mantém elevada a necessidade de insumos minerais.
O UBS avaliou que as negociações tendem a ser retomadas em breve. Isso ocorre porque a dependência mútua limita alternativas sustentáveis de longo prazo.
Ainda de acordo com Sasson, substituir integralmente a produção australiana seria custoso e ineficiente. Por isso, o consenso aponta para uma solução relativamente rápida.
Repercussões estratégicas para o setor de mineração
O episódio reflete a crescente capacidade da China de moldar mercados globais. Além disso, a CMRG reforça o papel chinês como consumidora e reguladora indireta de preços.
Por outro lado, a disputa com a BHP ultrapassa o âmbito bilateral. Consequentemente, seus efeitos alcançam mineradoras globais, inclusive a Vale, que observa os movimentos chineses com atenção.
Enquanto isso, investidores acompanham os desdobramentos. Para analistas, a interrupção reforça a percepção de que o mercado de minério entrou, portanto, em uma fase instável.
Esse mercado é avaliado em trilhões de dólares. Agora, contudo, ele se mostra mais suscetível à intervenção política e também às estratégias de poder adotadas pela China.