China diz que quer cooperar com Brasil e Brics para defender comércio global diante das tarifas de Trump, enquanto governo brasileiro busca reverter sobretaxa de 50% que entra em vigor em agosto.
A China afirmou nesta segunda-feira (28) estar disposta a trabalhar com países da América Latina e dos Brics, incluindo o Brasil, para “defender conjuntamente o sistema multilateral de comércio, centrado na OMC, e proteger a justiça e a equidade internacional”. A declaração foi feita pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Guo Jiakun, durante coletiva de imprensa em Pequim.
A sinalização ocorre no momento em que o governo dos Estados Unidos, presidido por Donald Trump, prepara a entrada em vigor de novas tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. O Brasil está entre os países mais afetados pela medida.
China cita possibilidade de ampliar comércio com o Brasil
Questionado sobre a possibilidade de o país asiático abrir mais seu mercado para produtos brasileiros que hoje têm os EUA como principal destino, Jiakun afirmou que Pequim valoriza a parceria comercial com Brasília. Ele destacou setores como aviação e outros segmentos estratégicos e disse que qualquer avanço se dará “com base em princípios de mercado”.
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Sobre a hipótese de um acordo similar ao fechado recentemente com a União Europeia, alvo de críticas internas, o porta-voz respondeu que a China defende a resolução de diferenças econômicas “por meio do diálogo e da consulta em igualdade de condições”.
Brasil tenta reverter tarifa de 50%
No Brasil, a semana começou com intensa mobilização diplomática para tentar reverter o tarifaço de Trump. O presidente norte-americano descartou no domingo (27) qualquer possibilidade de acordo ou adiamento da medida, que passa a valer na sexta-feira (1º).
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, desembarcou em Nova York no domingo para um compromisso na ONU, mas sinalizou que pode ir a Washington caso a Casa Branca manifeste interesse em dialogar. Segundo integrantes do governo brasileiro, até o momento não houve resposta clara por parte dos EUA.
Senadores buscam abrir diálogo nos Estados Unidos
Uma comitiva de oito senadores brasileiros de diferentes partidos está em Washington em busca de interlocução. Na manhã desta segunda-feira (28), o grupo se reuniu com a embaixadora Maria Luiza Viotti e diplomatas brasileiros. À tarde, os parlamentares têm encontros com representantes da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
O senador Nelsinho Trad (PSD-MS) reconheceu a dificuldade de negociação. “Pelo que a gente está observando, não se tem canal de diálogo. E agora estamos na expectativa de que se retome o diálogo para a gente poder fazer com que esse entendimento venha tão logo, antes do que a gente pode vir a esperar do prolongamento dessa sobretarifa, que vai ser muito ruim para toda a economia brasileira”, afirmou.
Já Rogério Carvalho (PT-SE) defendeu que o Brasil mantenha firmeza e serenidade diante da posição norte-americana. “Mesmo com parceiros históricos, como o Canadá, o México e a Europa, a relação foi dura. Não vai ser diferente com o Brasil, e a gente precisa ter paciência e resiliência”, disse.
Brics e América Latina podem ser alternativa comercial
A declaração da China reforça a possibilidade de maior aproximação econômica com países dos Brics e da América Latina caso as tarifas norte-americanas entrem em vigor. O governo chinês tem defendido a preservação das regras multilaterais de comércio e manifestado interesse em ampliar relações com mercados emergentes.
O cenário coloca o Brasil em posição delicada, com prazos curtos para tentar evitar a sobretaxa norte-americana e, ao mesmo tempo, avaliar novas frentes de cooperação internacional.