Brasil observa novo tabuleiro global em formação liderado por China, Rússia e Índia
Com a cúpula da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) realizada em julho de 2025, a China intensificou sua influência geopolítica.
O encontro reuniu líderes de vinte países e apontou para uma nova ordem mundial.
Essa nova ordem é menos dependente dos Estados Unidos e mais ancorada no eixo eurasiático.
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O Brasil, diante desse cenário, avalia como pode se inserir estrategicamente.
Cúpula marca avanço da integração eurasiana
A reunião da OCX em Tianjin foi promovida por Pequim como o maior evento diplomático do ano.
Contou com a presença de Xi Jinping, Vladimir Putin e Narendra Modi, além do Irã.
O Irã ingressou como membro pleno da OCX em julho de 2023 e se tornou parte do BRICS Plus em janeiro de 2024.
A convergência desses blocos evidencia um reposicionamento estratégico na geopolítica mundial.
Esse reposicionamento impõe novos desafios e oportunidades.
Xi Jinping utilizou o evento para apresentar a China como potência estabilizadora diante da fragmentação global.
Ele destacou a importância de um multilateralismo prático e de alianças em áreas como energia, segurança e logística.
Putin defendeu a OCX como núcleo de uma arquitetura de segurança regional e exaltou Xi como um “verdadeiro estadista”.
A OCX reúne 42% da população mundial e 23% do PIB global, o que reforça a escala da transformação em curso.
Índia reforça sua autonomia estratégica
A participação de Narendra Modi marcou um momento crucial na dinâmica asiática.
Após sete anos sem pisar em solo chinês, o líder indiano viajou à Tianjin em julho de 2025.
A visita ocorreu em meio às tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos às exportações indianas, consideradas retaliatórias.
Apesar de tensões anteriores com a China, a Índia sinalizou independência diplomática e interesse em manter o diálogo com potências como China e Rússia.
Essa atitude reforça a lógica de equilíbrio entre os blocos ocidental e eurasiano, característica da atual política externa indiana.
Além disso, o país se posiciona como grande consumidor de petróleo russo, o que fortalece seus laços econômicos.
Para o Brasil, essa autonomia indiana serve como modelo de articulação entre interesses diversos sem se submeter a um único eixo geopolítico.
Brasil tem base legal e espaço para aproximação
Diante do novo cenário, o Brasil possui instrumentos legais e diplomáticos para participar das transformações.
O artigo 4º da Constituição Federal orienta a política externa com base na cooperação internacional e na rejeição a sanções unilaterais.
Além disso, prevê a solução pacífica de conflitos.
Uma declaração oficial reafirmando esses princípios já posicionaria o Brasil no debate global, sem compromissos irreversíveis.
O país pode solicitar status de “observador” ou “parceiro de diálogo” dentro da OCX, como já ocorreu com outros países.
Egito, Turquia e Arábia Saudita já receberam essas designações.
Esse movimento exigiria apenas um memorando de entendimento e posterior aprovação pelo Congresso Nacional.
A exigência está prevista nos artigos 49 e 84 da Constituição.
Essa ação fortaleceria o elo entre o Brasil e o BRICS Plus sem gerar obrigações militares ou políticas de alinhamento.
Desafios incluem sanções e recalibragem diplomática
Contudo, o Brasil enfrenta riscos evidentes ao se aproximar de Rússia e China. Por essa razão, os Estados Unidos podem adotar retaliações comerciais severas contra o país.
Além disso, o Congresso norte-americano aprovou o CAATSA em agosto de 2017. Essa lei permite sanções contra países com laços próximos a adversários de Washington.
Portanto, para evitar danos econômicos, o Itamaraty deveria priorizar cooperações civis. Entre elas, destacam-se áreas como energia, infraestrutura e comércio bilateral.
Ao mesmo tempo, o Brasil deve evitar envolver-se com temas sensíveis. Isso inclui setores estratégicos como defesa e segurança militar.
A estratégia exige máxima cautela. Por isso, diplomacia e análise precisa do cenário global tornam-se essenciais. Enquanto isso, a União Europeia observa de perto a postura brasileira e mantém sanções ativas contra Moscou.
Brasil pode ampliar protagonismo sem abandonar autonomia
O entrelaçamento entre a OCX, o BRICS e o BRICS Plus amplia significativamente as oportunidades para o Brasil, que busca se posicionar nesse novo cenário geopolítico.
Além disso, a entrada de países como Egito, Arábia Saudita e Irã reforça, de maneira decisiva, os laços institucionais que conectam esses blocos emergentes.
Fundado em 2003, o Fórum IBAS (Índia-Brasil-África do Sul) surgiu como instrumento estratégico de cooperação política entre países do Sul Global, com foco em articulação multilateral.
Embora tenha se tornado menos ativo nos últimos anos, o IBAS continua relevante, principalmente por ainda oferecer espaço diplomático para pautas comuns e diálogo político direto.
A Índia, ao participar simultaneamente dos três fóruns (OCX, BRICS e IBAS), proporciona ao Brasil uma posição geopolítica que pode ser altamente estratégica.
Graças a isso, o Brasil consegue transitar entre continentes e agendas distintas, mantendo sua vocação atlântica e africana sem comprometer parcerias emergentes.
Recentemente, a cúpula de Tianjin reforçou a percepção de que o centro do poder global está se deslocando gradualmente em direção à Eurásia.
Diante disso, o Brasil tem uma chance concreta de ampliar sua presença internacional, valendo-se de sua tradição diplomática e de uma base jurídica consolidada.
O principal desafio, portanto, será equilibrar a profundidade do envolvimento, conciliando a ampliação da cooperação com estratégias prudentes e bem dosadas.
Hoje, vivemos em um contexto internacional onde tarifas e sanções se tornaram ferramentas centrais e recorrentes da política externa global.