China rompe tradição e evita contratos de soja com os Estados Unidos, reforçando estratégia política de pressão comercial antes de encontro crucial entre líderes
Pela primeira vez desde o final dos anos 1990, a China iniciou uma temporada de importação de soja sem comprar um único navio dos Estados Unidos. Esse movimento sinaliza que Pequim voltou a usar o grão como arma política em sua disputa com Washington. As informações são da Bloomberg.
O impacto é imediato. Os agricultores americanos, que colhem volumes recordes, enfrentam preços próximos dos mais baixos da década.
O vazio nas encomendas surpreendeu porque, tradicionalmente, os chineses garantem milhões de toneladas logo no início do período de exportação.
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Soja como moeda de troca
A ausência de contratos até 11 de setembro foi confirmada pelo Departamento de Agricultura dos EUA. No ano passado, os americanos representaram 20% das importações da China, equivalentes a mais de US$ 12 bilhões.
Mais da metade das exportações totais de soja dos EUA tiveram como destino o país asiático.
Agora, a mensagem é clara: Pequim usa os grãos como instrumento de pressão. Com estoques confortáveis, demonstra paciência e capacidade de esperar, em vez de reforçar a posição do rival em um momento de incerteza.
Pressão antes do encontro
O presidente Xi Jinping se prepara para conversar com Donald Trump. A reunião ocorre em meio a discussões sobre semicondutores e minerais estratégicos.
Antes do encontro, a China elevou a tensão ao divulgar que a Nvidia teria violado regras antitruste.
Para a analista agrícola Even Pay, da consultoria Trivium China, o caso da soja reflete planejamento de longo prazo.
A estratégia é semelhante ao uso das terras raras como ferramenta política. Além disso, os importadores reagem não apenas às tarifas de mais de 20% sobre a soja americana, mas também à incerteza sobre o futuro desses tributos.
Agricultores no limite
Nos Estados Unidos, produtores rurais pedem uma solução urgente. O temor é de um “precipício comercial e financeiro”.
Eles pressionam o governo para remover tarifas e garantir acordos. O setor é vital para Trump porque concentra apoio eleitoral.
Enquanto isso, a soja brasileira ganhou espaço. Os esmagadores e produtores de ração da China reforçaram seus estoques com cargas do Brasil.
Alguns até dobraram as reservas, reduzindo a necessidade de recorrer ao grão americano até 2026.
Tradição interrompida
Normalmente, entre outubro e fevereiro, a soja dos EUA abastece os chineses antes da chegada da safra da América do Sul.
Importadores costumam reservar volumes semanas antes, mas a atual guerra comercial alterou a rotina.
Agora, contratos que já deveriam estar firmados não ocorreram. A cautela reflete tanto o risco de tarifas quanto os sinais políticos vindos de Pequim, que mostra não estar disposta a liberar compras sem aval oficial.
Expansão da estratégia
A manobra não se restringe à soja. A China também reduziu as importações de milho, trigo e sorgo dos EUA.
Paralelamente, manteve aquisições de países como Brasil, Canadá e Austrália. A iniciativa reforça o objetivo de diversificar fornecedores e reduzir a dependência americana.
Segundo Andy Rothman, ex-diplomata dos EUA, a agricultura será central nas negociações entre Trump e Xi.
Ele avalia que dificilmente haverá um acordo imediato, mas reconhece que o tema voltará com força em reuniões futuras.
Pequenos gestos de alívio
Apesar da pressão, houve sinais de moderação. A China retomou compras de petróleo dos EUA após seis meses e suspendeu uma investigação contra o Google, apontada como antitruste.
Esses gestos sugerem uma tentativa de reduzir atritos antes de um encontro maior.
Ainda assim, especialistas acreditam que a soja continuará no centro das conversas. Em vez de metas irreais, como no acordo da chamada Fase Um, espera-se que os dois lados discutam compromissos mais viáveis.
Riscos internos para a China
A decisão de evitar a soja americana não é livre de riscos. Os preços no Brasil subiram bastante desde o início do ano.
Se a colheita sul-americana sofrer qualquer revés, a China pode ter que usar suas reservas mais cedo do que o planejado.
Além disso, um eventual excesso de importação, caso haja acordo repentino, pode derrubar os preços internos da ração.
Gestores de empresas chinesas ouvidos pela Bloomberg alertaram que um influxo inesperado de soja americana poderia desestabilizar o mercado doméstico.
O custo da espera
Sem tarifas, os EUA continuariam sendo um dos fornecedores mais competitivos. Portanto, cada mês sem compras representa um custo maior para a China, que paga mais caro ao evitar os grãos americanos.
Durante a primeira guerra comercial, mesmo impondo tarifas, Pequim concedeu exceções para volumes limitados. Agora, analistas acreditam que algo parecido pode ocorrer caso surja um novo acordo.
A disputa mostra como a soja deixou de ser apenas uma commodity agrícola e se tornou peça central de uma guerra econômica.
Trump precisa do apoio dos agricultores, enquanto Xi usa os grãos como alavanca estratégica.
No fim, especialistas lembram: a demanda chinesa continua forte. Se houver um entendimento, a soja americana voltará ao mercado. O problema é político, não de consumo.
Com informações de Bloomberg Línea.