Estrutura conecta os condados de Guanling e Zhenfeng e reduz o tempo de viagem de duas horas para apenas dois minutos.
A ponte mais alta do mundo, chamada de Huajiang Grand Canyon, localizada na província de Guizhou, no sudoeste da China, será inaugurada neste mês, consolidando a estratégia de investimentos maciços em infraestrutura da China.
Erguida a 625 metros acima do solo e com 2,9 quilômetros de extensão, a estrutura atravessa um cânion profundo conhecido localmente como “fenda da Terra” e estabelece um novo recorde global de altura.
Estrutura e dimensões da ponte Huajiang Grand Canyon
A ponte Huajiang Grand Canyon foi projetada para suportar condições geográficas e climáticas extremas. Elevando-se 2.050 pés (625 metros) acima do fundo do cânion, ela atinge quase o dobro da altura da Torre Eiffel, em Paris, e é nove vezes mais alta que a Tower Bridge de Londres. O vão principal foi construído com um arco mais leve, o que permitiu reduzir em 30% o peso total da estrutura e mitigar os efeitos de ventos fortes.
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O projeto foi iniciado em janeiro de 2022 e concluído em um tempo recorde de três anos, ao custo de US$ 283 milhões. A província de Guizhou, que abriga a obra, é conhecida como “o museu das pontes do mundo”, com mais de 30 mil estruturas, incluindo três das mais altas já construídas. A nova ponte reforça esse título ao estabelecer o recorde mundial em áreas montanhosas.
Testes de carga e certificação de segurança
Antes da inauguração, a ponte Huajiang Grand Canyon passou por um rigoroso processo de verificação de segurança. Entre 21 e 25 de agosto, foi submetida a um teste de carga de cinco dias, considerado a última etapa antes da liberação para tráfego.
Segundo a agência Xinhua, cerca de 96 caminhões pesados, cada um com aproximadamente 35 toneladas, foram posicionados em pontos estratégicos para avaliar a integridade da estrutura.
Mais de 400 sensores foram instalados ao longo do vão principal, torres, cabos e suspensórios para monitorar deslocamentos e movimentos mínimos durante o teste de 3.360 toneladas.
A BBC informou que o sucesso dessa etapa confirmou a estabilidade da ponte, permitindo a previsão de abertura oficial ainda no fim de setembro.
Benefícios logísticos e turísticos previstos
A ponte Huajiang Grand Canyon reduzirá drasticamente o tempo de deslocamento entre os condados de Guanling e Zhenfeng, que juntos somam cerca de 600 mil habitantes. A viagem, que atualmente leva duas horas, passará a ser feita em apenas dois minutos. Também encurtará o trajeto entre as cidades de Liuzhi e Anlong no mesmo corredor viário.
Além da função logística, o projeto incorpora elementos turísticos. Um elevador panorâmico de 213 metros conduzirá visitantes a uma torre de observação no topo da ponte, e um caminho de vidro de quase um quilômetro permitirá a travessia de pedestres sobre o cânion.
A emissora estatal CCTV destacou que a obra foi planejada para impulsionar o turismo regional, agregando uma atração de grande porte ao interior da China.
Integração à política de infraestrutura da China
A inauguração da ponte Huajiang Grand Canyon insere-se em um contexto mais amplo de expansão da infraestrutura da China. Segundo a pesquisadora Dan Wang, da Hoover Institution, “o Partido Comunista acredita em erguer projetos enormes para impulsionar a economia e reforçar o prestígio político”.
O jornal oficial People’s Daily classificou a obra como um novo “milagre chinês”, símbolo da “velocidade e sabedoria de Guizhou” e de uma nova etapa no desenvolvimento do setor.
O professor Li Mingshui, da Universidade de Jiaotong, em Chengdu, afirmou que regiões do oeste do país ainda apresentam baixa conectividade viária e que o objetivo é “preencher essas lacunas e fortalecer os pontos fracos”.
Segundo ele, “essas não são pontes para lugar nenhum”, defendendo que os benefícios econômicos de longo prazo superam os custos imediatos.
Orgulho técnico e desafios de construção
O engenheiro-chefe do projeto, Liu Hao, declarou que “inúmeros engenheiros como eu tiveram a sorte de viver a era dourada da infraestrutura de transporte da China”. Aos 42 anos, ele já supervisionou seis outras megapontes em Guizhou e afirmou que pretende mostrar a nova obra à filha como um marco de sua carreira. Entre os principais desafios técnicos, Liu citou as encostas íngremes do cânion e os ventos fortes da região.
Wu Zhaoming, gerente de projeto da Guizhou Transportation Investment Group Co., relatou que a equipe enfrentou dificuldades como o controle de temperatura durante grandes vazamentos de concreto e a proteção de encostas instáveis.
Segundo ele, as soluções implementadas garantiram a execução segura do projeto mesmo sob condições adversas.
Continuidade da estratégia de megaprojetos
A ponte Huajiang Grand Canyon sucede outras obras emblemáticas da infraestrutura da China. O país já detinha o recorde mundial de altura com a Ponte Beipanjiang, inaugurada em 2016 a 565 metros, e possui também a mais longa ponte sobre o oceano aberto, a Hangzhou Bay Bridge, com 35 quilômetros de extensão.
Apesar de acidentes recentes —como o desabamento de uma ponte em construção em Qinghai que causou a morte de 12 trabalhadores—, o ritmo de obras permanece elevado.
Um relatório da consultoria McKinsey de 2023 apontou que o crescimento econômico chinês das últimas quatro décadas foi fortemente sustentado por investimentos em infraestrutura financiados por governos locais, o que resultou em altos níveis de endividamento.
Mesmo assim, o presidente Xi Jinping defende uma “ofensiva abrangente” nesse setor para sustentar a recuperação pós-pandemia, e o premiê Li Qiang declarou em agosto que megaprojetos devem servir como “exemplo e motor” para investimentos e consumo.
Guizhou como polo de obras estratégicas
A província de Guizhou ocupa posição central nessa política. Apesar da geografia montanhosa e da baixa renda média, a região abriga hoje 11 aeroportos, uma extensa rede de estradas modernas e diversas pontes de grande porte.
A ponte Huajiang Grand Canyon amplia esse portfólio, reforçando o papel da província como vitrine da capacidade de engenharia chinesa.
Para a pesquisadora Dan Wang, a decisão de priorizar obras monumentais reflete uma preferência do governo central: “Em vez de distribuir recursos diretamente à população, os líderes em Pequim preferem canalizá-los para erguer projetos monumentais.”
A inauguração prevista para este mês sintetiza essa abordagem, simbolizando tanto a ambição técnica quanto a dimensão política da infraestrutura da China.