A crescente tensão entre Irã e EUA pressiona a China a agir como mediadora, enquanto navios de petróleo já evitam o Estreito de Ormuz, rota crucial para o comércio global de energia.
Após uma série de bombardeios dos Estados Unidos contra instalações iranianas no último fim de semana, o Parlamento do Irã propôs o fechamento do Estreito de Ormuz — ponto estratégico por onde passa cerca de 20% do petróleo exportado no mundo. Diante dessa ameaça, navios chineses começaram a mudar suas rotas na região, segundo informações da conta especializada OilBandit. A China, maior parceira energética do Irã, acompanha de perto a escalada, enquanto pressões internacionais crescem para que o país atue como mediador no conflito.
A proposta de fechamento da passagem marítima ainda não é oficial, mas o impacto já se faz sentir nas rotas do petróleo. A China, que absorve até 90% das exportações de petróleo iraniano, vê com preocupação o risco de interrupções em seu fornecimento energético.
Estreito de Ormuz: uma rota vital para o petróleo global
O Estreito de Ormuz é uma via estreita, com apenas nove quilômetros de largura em seus trechos mais críticos. Ainda assim, é responsável pelo transporte diário de cerca de 20 milhões de barris de petróleo e 20% do gás natural liquefeito (GNL) global.
Além da China, países como Catar, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Kuwait também dependem da rota para exportar seus hidrocarbonetos. Qualquer bloqueio teria impactos imediatos no abastecimento energético da Ásia e do mundo.
China pressiona por estabilidade nas rotas marítimas
Diante do cenário, o Ministério das Relações Exteriores da China pediu que a comunidade internacional “mantenha a estabilidade nas rotas críticas do Golfo Pérsico”. O porta-voz Guo Jiakun afirmou que Pequim mantém diálogo com o Irã e outros países envolvidos, reforçando que a segurança das águas do Golfo é de interesse comum.
Ao mesmo tempo, os Estados Unidos pressionam a China a agir como intermediária. “Eles dependem fortemente do Estreito de Ormuz para seu petróleo”, afirmou o secretário de Estado Marco Rubio, que reforçou o papel estratégico de Pequim para conter a crise.
-
Sete blocos raros do pré-sal vão a leilão em outubro e prometem disputa acirrada entre gigantes do petróleo
-
Mercado de petróleo reage a queda de estoques dos EUA e sobe 2%
-
Petrobras avalia ampliar fatia na Braskem e exige protagonismo, após reação negativa a venda surpresa de ativos da empresa nos EUA
-
Bilhões do petróleo e gás sustentam a máquina pública e aliviam o caixa dos estados
Navios chineses desviam rotas e mercados reagem
Enquanto diplomatas discutem nos bastidores, as movimentações no mar já refletem o clima de incerteza. Pelo menos um petroleiro chinês já deu meia-volta, e outras embarcações estão redirecionando suas rotas, atrasando entregas e ajustando planos logísticos.
Os mercados também reagiram na semana passada, quando o barril de Brent ultrapassou os 80 dólares, e os custos de seguro para navegação no Golfo Pérsico estavam em alta, segundo a Lloyd’s List. Ainda sem um bloqueio oficial, os impactos econômicos já são reais.
Uma posição delicada para Pequim
Pequim assinou em 2021 um acordo de cooperação de US$ 400 bilhões com o Irã, garantindo acesso preferencial a petróleo e gás. No entanto, isso também coloca a China em uma situação diplomática sensível: precisa proteger seus interesses sem comprometer relações com outros atores globais.
Caso a tensão escale, a China poderá recorrer às suas reservas estratégicas de petróleo e gás. Além disso, pode redirecionar sua demanda energética para rotas alternativas — ou até mesmo assumir o controle da distribuição na Ásia, caso outros países fiquem temporariamente sem acesso.
Por enquanto, o Estreito de Ormuz segue aberto, mas a instabilidade é crescente. A China ainda adota cautela, mas o redirecionamento de navios e o alerta nos mercados indicam que o risco é sério.