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China está de olho no agronegócio brasileiro: compra de terras agrícolas, soja e carne pode redefinir produção, exportação e influência no campo

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 01/08/2025 às 06:57
China mira o agronegócio brasileiro: compra de terras agrícolas pode redefinir produção, exportação e influência no campo
Foto: China mira o agronegócio brasileiro: compra de terras agrícolas pode redefinir produção, exportação e influência no campo
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A presença chinesa no agronegócio brasileiro vai além das compras de soja e carne: investimentos em terras e infraestrutura levantam debate sobre soberania, exportação e o futuro do campo.

Pouco se fala sobre o tema fora dos círculos especializados, mas um movimento silencioso vem chamando a atenção de economistas, diplomatas e produtores rurais: a presença crescente da China no agronegócio brasileiro, incluindo a compra de terras agrícolas e investimentos diretos em produção e logística. Para Pequim, o objetivo é claro — garantir o abastecimento de alimentos para 1,4 bilhão de pessoas. Para o Brasil, a questão é mais complexa: como receber bilhões em investimentos sem abrir mão de soberania sobre o campo?

China já é a maior compradora, agora quer ser também produtora

Há anos, a China é o maior parceiro comercial do agronegócio brasileiro. Em 2024, o país asiático comprou mais de US$ 60 bilhões em soja, milho, carne bovina e frango.

Mas Pequim quer mais do que comprar: quer produzir. Empresas chinesas já adquiriram participações em tradings, cooperativas e até em armazéns e portos, criando um corredor logístico direto entre o Brasil e a Ásia.

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Agora, o movimento avança para as terras. Relatórios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e de consultorias privadas apontam um aumento expressivo na compra indireta de áreas agrícolas por empresas estrangeiras, muitas delas ligadas a capitais chineses.

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O modelo mais comum é a criação de subsidiárias brasileiras para adquirir propriedades legalmente — uma vez que a lei brasileira impõe restrições à compra direta por estrangeiros.

Investimentos bilionários em terras e infraestrutura

Levantamentos de mercado estimam que, desde 2010, investidores chineses já aportaram mais de US$ 15 bilhões no setor agro brasileiro, incluindo a aquisição de áreas de cultivo, parcerias com grandes produtores e investimentos em infraestrutura ligada ao campo, como silos, portos e ferrovias. O caso mais simbólico foi a compra do terminal portuário da Cofco International, no Porto de Santos, responsável por escoar grãos para a China.

Essa estratégia dá à China mais do que segurança alimentar: dá controle sobre cadeias produtivas inteiras, do plantio ao embarque. E levanta uma pergunta incômoda: até que ponto terras agrícolas brasileiras estão, na prática, sob influência estrangeira?

O debate sobre soberania agrária ganha força

A compra de terras por estrangeiros é um tema sensível no Brasil. Desde 1971, há uma lei que impõe restrições, mas as brechas legais permitem que empresas brasileiras com capital estrangeiro adquiram propriedades. O Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controladoria-Geral da União (CGU) já alertaram para a dificuldade de mapear a real extensão dessas áreas.

Para especialistas em geopolítica, o risco não é a venda de um sítio aqui ou ali, mas a possibilidade de criação de grandes blocos de terra sob controle indireto de capitais de um único país. “A China não está apenas investindo em commodities. Ela está desenhando uma rede de suprimentos global, e o Brasil é um elo central”, explica um pesquisador da Esalq-USP.

O que o produtor brasileiro ganha e o que pode perder?

Para produtores e cooperativas, a entrada de dinheiro chinês tem um lado positivo: capital para expandir, tecnologia para modernizar e contratos de compra garantidos. Em regiões como o Mato Grosso e a Bahia, há exemplos de fazendas que dobraram a produtividade após joint ventures com investidores chineses.

Mas há pontos de atenção. Ao vender terra para empresas estrangeiras, o produtor brasileiro pode perder poder de decisão sobre o que plantar, para quem vender e a que preço.

Em um cenário extremo, o Brasil poderia se tornar apenas uma plataforma de exportação para atender à demanda de um único mercado, limitando a diversificação e a autonomia do agronegócio.

Impactos no mercado interno e no dia a dia do brasileiro

A expansão do agronegócio chinês em solo brasileiro também levanta uma questão prática: isso pode afetar os preços dos alimentos no Brasil? Especialistas dizem que, se grandes áreas forem usadas para atender exclusivamente ao mercado chinês, a produção para consumo interno pode ficar em segundo plano, pressionando preços.

Outro ponto é o impacto ambiental. Há preocupações de que a busca por produtividade e exportação intensiva leve a uma maior pressão sobre biomas como o Cerrado e a Amazônia. ONGs ambientais e órgãos de fiscalização acompanham de perto as operações, especialmente em áreas de expansão agrícola.

O que o governo brasileiro faz diante desse avanço?

Nos últimos anos, diferentes governos discutiram a necessidade de revisar a lei de compra de terras por estrangeiros. Há projetos no Congresso que endurecem as regras e outros que flexibilizam, para atrair investimentos.

O debate é delicado: de um lado, há o interesse em trazer capital estrangeiro; de outro, o medo de ver áreas estratégicas do território sob controle indireto de potências globais.

Enquanto isso, Pequim segue expandindo seu mapa de influência. As compras e parcerias são discretas, muitas vezes mediadas por holdings brasileiras. Mas o efeito acumulado é claro: a presença chinesa no campo cresce a cada ano.

O futuro do agronegócio brasileiro está em disputa?

A tendência é que os investimentos chineses aumentem. A China precisa garantir fornecimento de soja, milho, algodão e carne para sua população e para sua indústria, e o Brasil é o parceiro natural. Mas até que ponto essa relação é benéfica para os dois lados?

Para alguns, a entrada de capital estrangeiro é inevitável e positiva: ajuda a modernizar, gera empregos e impulsiona a economia. Para outros, é preciso traçar limites claros para que o país não acorde um dia com blocos inteiros de seu território rural controlados por interesses externos.

O que está em jogo é mais do que dinheiro. É a soberania sobre a terra, a produção e o futuro de um dos setores mais importantes da economia brasileira. E, enquanto esse debate ganha força, uma coisa é certa: a China já não é apenas compradora do agro brasileiro. É também, cada vez mais, dona de parte dele.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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