A China mantém indicadores oficiais de dívida bem abaixo da realidade, usando empresas de fachada, estatais superendividadas e contabilidade inflada para sustentar o modelo de crescimento do Partido Comunista Chinês, Segundo especialista Ismar Becker.
A China divulga uma dívida pública em torno de 84% do PIB, número que, à primeira vista, parece mais confortável do que os 123% dos Estados Unidos. O problema é que esse percentual chinês está assentado em bases artificiais, com dívidas escondidas e um PIB turbinado para agradar ao Partido. Quando se somam os passivos fora do orçamento, o quadro muda de forma radical e revela um endividamento muito mais próximo de economias altamente alavancadas.
De acordo com especialista Ismar Becker, ao mesmo tempo, o país criou um sistema de expansão permanente via crédito estatal, infraestrutura e construção que precisa mostrar resultados a cada plano quinquenal. Quando a política exige crescimento e o número real não chega, entra a maquiagem. É assim que se forma o buraco trilionário do modelo econômico do PCC, que cresce, mas não mostra toda a conta.
Por que o número oficial não fecha
O ponto central é simples. Se o numerador da conta dívida/PIB está subdimensionado e o denominador está superdimensionado, o percentual final não representa a realidade. A China faz as duas coisas ao mesmo tempo. Esconde dívidas e aumenta o PIB.
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O resultado é um indicador oficial bonito, mas pouco crível para quem acompanha as finanças públicas de perto.
O dado divulgado de 84% do PIB não considera uma série de compromissos assumidos fora do orçamento central. Governos locais, empresas estatais e veículos criados apenas para tomar empréstimos ficam de fora da estatística principal.
Quando essas camadas são adicionadas, a relação dívida/PIB ultrapassa com folga os 200% e pode chegar à casa dos 300%, de acordo com as estimativas apresentadas. Isso coloca a China em patamar de risco bem diferente do discurso oficial.
Como funcionam os veículos de financiamento locais
Na China, somente o governo central pode se endividar de forma direta. Para driblar essa limitação, províncias e municípios passaram a criar empresas de fachada para captar recursos no mercado e bancar obras de infraestrutura.
São os chamados veículos de financiamento de governos locais, usados como um PAC turbinado que não aparece integralmente nas contas nacionais.
Essas empresas pegam empréstimos oferecendo terrenos e imóveis como garantia, muitas vezes para projetos cuja taxa de retorno é baixa ou nula. O volume estimado desses passivos chega a 12,6 trilhões de dólares, algo perto de 76% do PIB chinês.
Como não estão no orçamento central, não entram na dívida oficial, mas o risco econômico é o mesmo, porque o poder público está por trás delas.
Estatais como braço oculto do orçamento
Outro canal de endividamento é o gigantesco setor estatal chinês. O país conta com mais de 391 mil empresas estatais e ainda participa parcialmente de mais de 1 milhão de companhias. A função delas não é maximizar lucro, mas executar a agenda de construir, expandir e obedecer.
Em outras palavras, elas fazem política econômica disfarçada de atividade empresarial.
Quando essas estatais tomam empréstimos para cumprir metas de expansão, o passivo fica no CNPJ da empresa, não na conta do Tesouro. As estimativas apontam para dívidas acima de 30 trilhões de dólares, algo como 60% a mais do que o próprio PIB chinês.
É um número incompatível com a imagem de um Estado enxuto e controlado que o regime tenta projetar.
PIB inflado e metas impostas pelo Partido
O Partido Comunista trabalha com planos quinquenais que definem quanto cada região precisa crescer. Quem não bate a meta perde poder, prestígio e, em última instância, pode perder a liberdade. Esse ambiente cria um incentivo direto para inflar resultados, antecipar receitas e registrar obras ainda não concluídas como progresso econômico.
Estimativas independentes apontam que o PIB chinês pode estar inflado entre 20% e 60%. Isso significa que o denominador da conta dívida/PIB é maior do que a economia real consegue sustentar.
Se o PIB real é menor do que o divulgado e a dívida real é maior do que a divulgada, o indicador de 84% deixa de ser defensável. É a mesma lógica vista em experiências de contabilidade criativa em outros países, só que em escala muito maior.
A conta de um modelo baseado em excesso
Quando se juntam dívidas de governos locais, passivos de estatais e inflação estatística do PIB, o quadro apontado é de uma China com endividamento superior a 300% do PIB.
Isso coloca o país no grupo das economias que dependem de rolagem constante, crescimento permanente e narrativa positiva para evitar uma freada brusca. Enquanto há crédito barato e obras para mostrar, o sistema se mantém.
A pergunta que fica é até quando esse modelo pode ser sustentado sem uma reprecificação do risco. A manipulação de números pode adiar o problema, mas não elimina o fato de que há ativos superavaliados, imóveis usados como garantia e projetos de baixa produtividade financiados a crédito. Em algum momento, a economia real precisa validar os números da contabilidade.
A experiência histórica mostra que modelos de economia centralizada recorrem à maquiagem quando a realidade se distancia do plano.
Na China, o uso de empresas fantasmas, estatais endividadas e PIB inflado sinaliza que o ponto de tensão já chegou. A diferença é que o país tem escala, reservas e controle político para alongar o jogo por mais tempo do que outros conseguiram.
Agora a bola está com você. Diante desses números e da forma como o regime organiza suas contas, você acredita que a China ainda consegue empurrar esse ajuste por vários anos ou o modelo já entrou na fase de esgotamento silencioso? Comente e diga qual cenário lhe parece mais provável.



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