Encomendas globais de novos navios caem ao menor nível em quatro anos, e estaleiros chineses buscam manter a liderança mundial diante de incertezas e pressões externas.
A indústria naval da China, líder mundial no setor, enfrenta um período de ajuste com queda expressiva nas encomendas de novos navios. Segundo dados divulgados pelo China Shipbuilding News, em maio deste ano foram encomendados globalmente apenas 71 navios, totalizando 1,66 milhão de toneladas brutas. Isso representa uma redução de 55% em relação ao mesmo período do ano anterior. O volume vem diminuindo há cinco meses consecutivos, com retração superior a 50% em toneladas brutas.
Indústria naval da China enfrenta menor demanda após pico em 2024
De acordo com especialistas, o setor atingiu um pico em 2024, após três anos de forte aquecimento no mercado global. Dados da Clarksons apontam que no ano passado foram feitos 2.390 pedidos de novos navios, somando 65,55 milhões de toneladas brutas — o maior volume em 17 anos. Este movimento ocorreu em um ciclo iniciado em 2021, impulsionado pela renovação de frotas e pela busca por embarcações mais eficientes e ambientalmente adequadas.
Chen Jun, vice-presidente da Sociedade de Construção Naval e Engenharia Oceânica de Xangai, explicou que, após o pico, a demanda dos armadores se estabilizou e passou por um processo de saturação, o que torna a atual fase de retração natural em ciclos de longo prazo como o da indústria naval.
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Políticas restritivas dos EUA ampliam incerteza no setor
Além da retração natural do ciclo, políticas restritivas adotadas pelos Estados Unidos contra a indústria naval da China contribuíram para aumentar a incerteza no mercado. As medidas, embasadas na chamada “investigação 301”, incluem taxas adicionais sobre navios construídos por estaleiros chineses, companhias de navegação chinesas e tipos específicos de embarcações.
Em paralelo, o projeto de lei “American Ships Act”, reapresentado no Congresso dos EUA, prevê cobranças portuárias adicionais para embarcações ligadas à China, o que afeta não apenas navios de propriedade chinesa, mas também aqueles operados por terceiros com histórico de construção ou manutenção em estaleiros chineses.
Estaleiros chineses mantêm liderança mundial apesar da queda
Mesmo diante do cenário desafiador, os estaleiros chineses mantêm sua posição de liderança. Nos primeiros cinco meses deste ano, receberam 274 pedidos de novos navios, somando 7,86 milhões de toneladas brutas modificadas e respondendo por cerca de 49% das encomendas globais. A China segue à frente da Coreia do Sul, que no mesmo período contabilizou 95 pedidos, representando 24% da participação global em tonelagem bruta modificada.
As vantagens competitivas da China, como capacidade produtiva, eficiência, custo e cadeia de suprimentos integrada, reforçam sua posição no mercado. A liderança no volume de entregas, novos pedidos e pedidos em carteira se mantém há 15 anos consecutivos.
Indústria naval da China busca estratégias para enfrentar desafios
Especialistas afirmam que, no atual contexto, os estaleiros chineses precisam adotar estratégias para reforçar sua posição e enfrentar o ambiente externo incerto. Chen Yang, editor-chefe da Xinde Maritime Network, destaca que o foco deve ser na modernização industrial, na construção de navios verdes e inteligentes e na consolidação de vantagens em custo e qualidade.
Ele avalia que, apesar dos desafios geopolíticos, as alternativas ao fornecimento chinês são limitadas. A Coreia do Sul e o Japão, tradicionais concorrentes na indústria naval, enfrentam limitações de capacidade e mão de obra. Já mercados emergentes como Índia e Sudeste Asiático ainda não possuem estrutura para absorver pedidos em grande escala.
Perspectivas para o mercado global
Analistas preveem que a demanda por novos navios continuará em ritmo moderado em 2025, com possibilidade de queda entre 20% e 25% nos pedidos globais em comparação com o ano passado. Apesar disso, a China deve manter uma participação superior a 50% no mercado mundial, com a Coreia do Sul ficando entre 30% e 40% e o Japão próximo de 10%.
Para Chen Jun, o foco deve ser na continuidade do desenvolvimento de alta qualidade para superar as incertezas externas e manter a indústria naval chinesa competitiva no cenário internacional.