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China faz jogada de mestre contra os EUA, aposta tudo no Brasil e revela commodity bilionária como carta na manga nas negociações

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 22/09/2025 às 14:58
China evita soja dos EUA, aposta no Brasil e pressiona agricultores americanos em meio à guerra comercial e tarifas elevadas.
China evita soja dos EUA, aposta no Brasil e pressiona agricultores americanos em meio à guerra comercial e tarifas elevadas.
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China amplia pressão sobre os EUA ao evitar soja americana e reforçar compras no Brasil, enquanto disputa comercial se mistura a tensões tecnológicas e deixa agricultores dos EUA em alerta diante de tarifas e incertezas.

A China iniciou a nova temporada de exportações sem reservar nenhuma carga de soja dos Estados Unidos, algo inédito desde pelo menos o fim dos anos 1990.

O movimento, sustentado por estoques domésticos confortáveis e compras antecipadas no Brasil, recoloca a agricultura no centro da disputa comercial entre Pequim e Washington, segundo reportagem publicada pela Bloomberg nesta segunda-feira (22).

Soja vira peça central e Brasil assume o protagonismo

Tradicionalmente, as tradings chinesas recorrem ao grão americano entre outubro e fevereiro, antes da chegada maciça da safra sul-americana.

Neste ano, porém, as encomendas estão concentradas no Brasil e em outros fornecedores da região, reduzindo a urgência de contratar nos EUA.

Dados oficiais norte-americanos de meados de setembro não registravam novas vendas para a China no início do ciclo 2025/26, sinal de que a janela que costuma favorecer embarques americanos perdeu tração.

Além da oferta brasileira, importadores chineses ampliaram o colchão de segurança.

Processadores, criadores de suínos e fabricantes de ração reforçaram estoques ao longo do ano, enquanto as reservas do Estado oferecem um amortecedor adicional.

O resultado é previsibilidade de abastecimento até o fim de 2025, com menor exposição a oscilações de preço nos EUA e a riscos de tarifas.

Comércio sob tensão e tarifas seguem no radar

O pano de fundo permanece contencioso.

As tarifas retaliatórias aplicadas sobre a soja dos EUA tornam o produto menos competitivo para compradores chineses.

Mesmo com oscilações cambiais e de prêmios de exportação, a alíquota efetiva superior a 20% ajuda a deslocar demanda para a América do Sul.

Ainda que isenções pontuais existam, o grau de incerteza sobre a manutenção ou não dessas exceções sustenta a estratégia de evitar contratos americanos no curto prazo.

Enquanto isso, agricultores dos EUA acumulam produto com preços pressionados.

Associações do setor relatam risco de “precipício comercial e financeiro”, cobram previsibilidade e pedem remoção de tarifas para reabrir o mercado chinês.

A importância da China é direta: no ano passado, o país asiático absorveu cerca de um quinto das importações de soja americanas em valor, somando mais de US$ 12 bilhões, e historicamente responde por mais da metade da receita externa do complexo de soja dos EUA, de acordo com apuração da Bloomberg.

Trégua frágil: telefonema entre líderes e novas frentes no tech

As conversas entre os governos voltaram à cena.

Em 19 de setembro, o presidente Xi Jinping e o presidente Donald Trump fizeram uma ligação para discutir comércio, tecnologia e o impasse envolvendo o TikTok, em meio a negociações que também tratam de semicondutores e cadeias críticas.

Embora a chamada tenha sido descrita como produtiva pelos dois lados, não houve anúncio de acordo abrangente, e os desdobramentos ficaram para reuniões presenciais nas próximas semanas.

No campo regulatório, Pequim encerrou uma investigação antitruste sobre o domínio do Android, da Google, gesto interpretado por analistas como tentativa de reduzir ruídos antes de novos passos nas tratativas comerciais.

Em paralelo, autoridades chinesas abriram uma investigação preliminar sobre a Nvidia sob suspeitas de infração à lei antimonopólio.

O jornal Bloomberg também apontou que o tema semicondutores segue colado à agenda agrícola, reforçando a leitura de que soja e chips caminham juntos na mesa de negociação.

Estratégia chinesa: cautela calibrada e sinal político

Para especialistas, o recuo nas compras de origem americana combina planejamento e mensagem.

A consultora Even Pay, da Trivium China, avalia que o comportamento atual reflete aprendizado da primeira guerra comercial e o ambiente político:

“Os compradores respondem não apenas às tarifas que permanecem, mas também ao grau extremamente alto de incerteza sobre o curto prazo e aos sinais muito claros de que Pequim não quer que as compras aconteçam sem aval oficial”, disse em entrevista concedida à Bloomberg.

A leitura no mercado é de que, com estoques confortáveis e contratos fechados no Brasil, Pequim pode aguardar.

Caso as tensões se atenuem e haja clareza tarifária, a demanda por soja americana tende a reaparecer.

“Se for fechado um acordo, com certeza haverá algum nível de demanda por soja dos EUA por parte dos compradores chineses”, afirmou Even Pay.

“O problema é a guerra comercial, não a total falta de demanda.”

Impacto nos EUA e expectativa do setor

Nos estados produtores, a ausência de negócios com a China pesa no caixa e no humor.

Cooperativas e sindicatos alertam para margens comprimidas e riscos de queda adicional de preços de farelo e óleo de soja caso a oferta fique represada.

Em ano de colheita volumosa, a perda do principal cliente global repercute nas bases locais, nos fretes e nos prêmios nos portos do Golfo e do Noroeste do Pacífico.

A avaliação do ex-diplomata Andy Rothman, hoje à frente da Sinology, é que a agricultura permanecerá um ponto sensível nas conversas bilaterais, mas sem grandes avanços por telefone.

Segundo ele, metas “impossíveis”, como a quadruplicação de compras americanas pela China, tendem a ceder lugar a compromissos mais realistas, caso surja um entendimento.

Ainda assim, representantes do agro nos EUA pressionam a Casa Branca por uma solução que alivie tarifas e devolva previsibilidade ao calendário de vendas.

Riscos no horizonte: clima, preços e excesso de oferta

A decisão chinesa de privilegiar origens sul-americanas não está livre de contratempos.

Uma quebra de safra no Brasil ou na Argentina poderia apertar a oferta e reabrir espaço para cargas americanas.

Por outro lado, se um acordo político destravar compras nos EUA enquanto os estoques domésticos chineses ainda estiverem altos, processadores temem um excesso de oferta e queda nos preços internos do farelo, afetando estratégias de estocagem e hedge construídas nos últimos meses.

Entre gestores de compras na China, a palavra de ordem é prudência.

Parte dos esmagadores prefere avançar mês a mês, ajustando volumes conforme margens e custos logísticos.

Outros miram oportunidades de arbitragem entre origens, especialmente quando prêmios no Brasil oscilam com o ritmo de embarques.

Sem visibilidade sobre tarifas e sem uma sinalização política clara, o consenso é evitar compromissos que possam ser revertidos por um anúncio súbito.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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