Pequim eleva o tom e, citando a história e a segurança regional, China exige retirada imediata do sistema de mísseis Typhon posicionado pelos EUA no Japão durante o exercício Resolute Dragon.
A frase “China exige retirada imediata do sistema de mísseis” ganhou força nesta semana após o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, criticar a presença do sistema norte-americano Typhon no Japão. Segundo o pronunciamento oficial, a instalação “prejudica os interesses legítimos de segurança”, aumenta o risco de corrida armamentista e representa “ameaça substancial” à estabilidade do Indo-Pacífico.
O posicionamento ocorreu após os Estados Unidos deslocarem o Typhon plataforma capaz de lançar mísseis de cruzeiro Tomahawk para a base do Corpo de Fuzileiros Navais em Iwakuni (Yamaguchi), no contexto do exercício anual Resolute Dragon, que reúne tropas americanas e japonesas desde 11 de setembro.
Como destaca a Gazeta do Povo, Pequim cobra que Washington e Tóquio “respeitem seriamente as preocupações de segurança de outros países” e “corrijam práticas erradas”.
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O que é o Typhon e por que o sistema irrita Pequim
O Typhon é uma plataforma terrestre de lançamento de mísseis, e sua presença no arquipélago japonês altera o cálculo de riscos na vizinhança.
Para a diplomacia chinesa, dispor de vetores de alcance intermediário tão perto do litoral eleva a pressão estratégica e estreita a janela de reação de rivais regionais.
Na leitura de Pequim, isso tende a estimular contramedidas, com mais armas, mais exercícios e menos espaço para diálogo.
Ao ecoar que a China exige retirada imediata do sistema de mísseis, Lin Jian aponta um efeito dominó: se uma potência projeta fogo mais perto das fronteiras alheias, as demais respondem com aumento de gasto militar e posturas mais duras.
Esse é o núcleo da crítica chinesa e é nele que o discurso sobre “ameaça substancial” se ancora.
Onde está o sistema e qual é o recado geopolítico
A base de Iwakuni, em Yamaguchi, é um ponto simbólico e logístico: acolhe ativos dos EUA e fica estrategicamente posicionada para projeção de poder sobre rotas marítimas sensíveis do Leste Asiático.
Ao levar o Typhon para lá, Washington sinaliza compromisso com a defesa do Japão e com a dissuasão no Indo-Pacífico.
Para a China, o recado é outro: um arco de contenção. Não por acaso, a chancelaria de Pequim liga o gesto americano à ideia de “confrontos militares na região”. Segundo Lin Jian, o pretexto de “exercícios e treinamentos” não minimiza a percepção de ameaça quando o equipamento deslocado pode alterar o equilíbrio.
O peso da história: memória, narrativa e legitimidade
No mesmo pronunciamento, Pequim resgatou a Segunda Guerra Mundial para criticar o Japão. “Devido à sua história de agressão militarista, os movimentos de segurança do Japão sempre foram vistos com grande vigilância”, disse Lin Jian, num apelo à memória do 80º aniversário da chamada “Guerra de Resistência do Povo Chinês contra a Agressão Japonesa”.
Essa narrativa reforça a legitimidade doméstica do discurso chinês e projeta cautela aos vizinhos: ao lembrar o passado, Pequim tenta enquadrar o presente como repetição de padrões perigosos. A Gazeta do Povo sublinha que o enquadramento histórico serve como argumento político, ao sustentar que “Tóquio deveria refletir profundamente” e evitar “auxiliar atos maléficos”.
Exercício Resolute Dragon: por que ele amplia a controvérsia
O Resolute Dragon é um exercício anual que eleva a interoperabilidade EUA-Japão. Em 2025, ganhou contornos mais sensíveis com a chegada do Typhon a Iwakuni. Para Washington, é rotina de treinamento com um aliado-chave; para Pequim, é sinal de escalada apoiada por um dispositivo com poder real de negação de área.
No plano prático, treinar com um sistema desse porte consolida procedimentos, logística e comando e controle. Quanto mais fluida a operação conjunta, menor a dúvida sobre uso em crise, e essa previsibilidade militar costuma produzir imprevisibilidade política porque adversários tendem a reagir antecipadamente. É esse efeito psicológico e estratégico que alimenta a demanda chinesa: China exige retirada imediata do sistema de mísseis justamente para remover o fator de pressão.
Como o Japão lê o momento e até onde vai
Apesar das críticas, o Japão segue ampliando sua estrutura de defesa, ancorado no pacto com os EUA e na percepção de que a presença militar chinesa cresce no entorno marítimo.
Aceitar operações com o Typhon transmite a ideia de que Tóquio não pretende ser o elo fraco da cadeia de segurança regional.
Ao mesmo tempo, Tóquio administra sensibilidades: equilibra dissuasão e diplomacia e evita narrativas que a associem a aventuras militares.
Apesar do pano de fundo histórico evocado pela China, o cálculo japonês é pragmático: mostrar prontidão ao lado de Washington para desestimular riscos reais.
Riscos imediatos: corrida armamentista e janela para incidentes
A crítica chinesa aponta para um risco clássico: ciclos de ação e reação. Um sistema de mísseis de alcance intermediário dispara atualizações de postura nos vizinhos, que, por sua vez, impulsionam novas rodadas de modernização. Cada passo defensivo de um lado é lido como ofensivo do outro, e o resultado é uma corrida cara e menos estável.
Além do gasto, há o risco operacional: mais equipamentos avançados, mais treinos e mais proximidade entre meios militares aumentam a chance de incidentes interceptações agressivas, leituras erradas de intenção, alarmismos que escalam rápido.
É nesse tabuleiro de nervos expostos que a frase “China exige retirada imediata do sistema de mísseis” funciona como sinal público de linha vermelha.
O que observar a seguir
No curto prazo, o caminho escolhido por Washington e Tóquio manter o Typhon como recurso de exercício ou reduzir sua presença indicará o tom para os próximos meses.
Se o sistema permanecer, Pequim tende a intensificar retórica e patrulhas; se houver recuo tático, abre-se janela para conversas sobre medidas de confiança.
Em paralelo, a diplomacia regional testará instrumentos como linhas diretas de crise, acordos de notificação prévia de exercícios e regras de engajamento para reduzir a margem de erro.
Como lembra a Gazeta do Povo, o ponto de atrito é menos “um exercício específico” e mais “o tipo de capacidade” que muda a matemática da dissuasão.
O endurecimento retórico “China exige retirada imediata do sistema de mísseis” traduz uma disputa de longo curso: dissuasão americana e japonesa de um lado, sensibilidade estratégica chinesa do outro.
Enquanto o Typhon permanecer como símbolo dessa fricção, o risco de choques e erros de cálculo permanece no radar. A Gazeta do Povo sintetiza a encruzilhada: ou se avança em mecanismos de contenção e confiança, ou se acelera a espiral armamentista.
Na sua leitura, manter o Typhon no Japão aumenta a segurança por dissuasão ou piora a estabilidade regional? Como você enxerga o papel do Japão entre a aliança com os EUA e a pressão da China?
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