Uma super barragem gigante, um território instável e milhões em risco: A China está brincando com o perigo?
A China está desenvolvendo um dos projetos de infraestrutura mais ousados de sua história: a superbarragem de Motuo, localizada no Tibete. Essa construção promete se tornar a maior usina hidrelétrica do mundo, superando até mesmo a gigantesca Barragem das Três Gargantas. No entanto, essa obra colossál tem um problema grave: está situada em uma região altamente sísmica, onde o risco de terremotos é constante.
A barragem de Motuo está sendo erguida no Grand Canyon de Yarlung Tsangpo, um dos locais mais remotos e desafiadores da China. Com um desnível de 2.800 metros, a estrutura deverá aproveitar a queda d’água do rio Brahmaputra para gerar três vezes mais energia que a Barragem das Três Gargantas.
Enquanto a Barragem das Três Gargantas foi considerada um marco na engenharia chinesa, a superbarragem de Motuo deve superá-la em capacidade de geração elétrica. No entanto, diferentemente da primeira, que já gerou diversas controvérsias, Motuo está localizada em uma região ainda mais sensível geologicamente.
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Além da produção de energia, a China também visa aumentar seu controle sobre os recursos hídricos da região. O Brahmaputra é um rio vital para a Índia e Bangladesh, e o domínio chinês sobre ele levanta preocupações geopolíticas e ambientais.
Ameaça sísmica na região
O Tibete está localizado na interseção da Placa Indiana com a Placa Eurasiática, uma das zonas mais sismicamente ativas do mundo. Recentemente, um terremoto de magnitude 7,1 em Shigatse causou danos a cinco barragens na região e deixou mais de 130 mortos, reforçando o alerta sobre os riscos estruturais.
Além dos tremores naturais, existe um risco adicional: a sismicidade induzida por reservatórios (RTS). Esse fenômeno ocorre quando o peso da água armazenada em grandes barragens altera a pressão nas falhas geológicas, podendo provocar terremotos. A Barragem de Zipingpu, por exemplo, foi associada ao terremoto de Sichuan em 2008, que matou 87 mil pessoas.
Caso um forte terremoto atinja a região, a ruptura da superbarragem de Motuo poderia liberar uma quantidade devastadora de água, afetando milhões de pessoas na China, Índia e Bangladesh. O impacto humanitário e ambiental seria sem precedentes.
Impactos ambientais e geopolíticos
A retenção de sedimentos pela barragem pode reduzir a fertilidade do solo rio abaixo, prejudicando a agricultura e acelerando a erosão costeira na Índia e Bangladesh. Além disso, o Tibete é uma região de alta biodiversidade, e qualquer alteração no fluxo dos rios pode impactar significativamente o ecossistema local.
Especialistas alertam que o projeto pode influenciar o padrão das monções, afetando as chuvas essenciais para a agricultura. Situações semelhantes já foram registradas em outras barragens chinesas, como no rio Mekong, onde houve secas severas e intrusão de água salgada em terras agrícolas.
A falta de transparência da China sobre o projeto preocupa seus vizinhos. A Índia teme que Pequim possa manipular o fluxo do Brahmaputra em caso de conflito, transformando a água em uma ferramenta geopolítica.
O silêncio do governo da China e a população local
O governo chinês não divulgou detalhes sobre os custos, as empresas envolvidas nem quantas pessoas precisarão ser deslocadas para dar lugar à obra. Estima-se que o projeto possa ultrapassar 130 bilhões de euros, tornando-se um dos mais caros do mundo.
Qualquer tentativa de protesto contra grandes obras na China tende a ser fortemente reprimida, especialmente no Tibete, onde o controle do Partido Comunista Chinês é ainda mais rigoroso.
A Índia e Bangladesh solicitaram acesso a dados hidrológicos sobre o projeto, mas Pequim tem se mostrado reticente. Isso aumenta a desconfiança e pode gerar uma reação diplomática caso o projeto prossiga sem esclarecimentos adequados.
O risco de um colapso
A China possui um histórico preocupante de colapsos de barragens. Entre os mais graves está o desastre da Barragem de Banqiao, em 1975, que resultou na morte de 85 mil pessoas e deixou 11 milhões desabrigadas.
O colapso dessa barragem ocorreu devido a chuvas intensas que superaram sua capacidade, algo que poderia acontecer com Motuo, caso os riscos sísmicos sejam subestimados.
Mesmo a Barragem das Três Gargantas, considerada uma maravilha da engenharia, enfrentou problemas estruturais em 2020, levantando preocupações sobre sua estabilidade e os impactos ambientais.