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China é a maior potência em energia renovável, agora tem um problema: o que fazer com todas essas turbinas eólicas e placas solares usadas

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 19/07/2024 às 13:14
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China é a maior potência em energia renovável, agora tem um problema: o que fazer com todas essas turbinas eólicas e placas solares usadas
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China enfrenta um desafio energético: reciclar milhões de turbinas e painéis solares. Descubra como o gigante asiático planeja resolver esse problema e liderar em renováveis

A China enfrenta um enorme desafio com a energia renovável. O desafio não consiste em conseguir uma maior implantação das fontes renováveis ou avançar para uma economia descarbonizada, o que também é importante, mas em se preparar para a grande avalanche de resíduos tecnológicos que esse mesmo esforço gerará nos próximos anos. Afinal, os painéis solares e aerogeradores podem ser aliados ambientais quando estão em funcionamento, mas, uma vez que chegam ao fim de sua vida útil, tornam-se exatamente o oposto: resíduos enormes e difíceis de reciclar. E na China há muitos de ambos.

O que aconteceu exatamente? A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (NDRC) da China, juntamente com outras cinco agências estatais, publicou uma série de diretrizes com um propósito claro: acelerar a reciclagem de equipamentos eólicos e fotovoltaicos que já tenham cumprido sua vida útil. As diretrizes foram lançadas durante o verão de 2023 sem que fossem divulgados muitos detalhes sobre qual estratégia o país seguirá, mas no início deste ano, Pequim já delineava alguns padrões para a reciclagem das turbinas eólicas aposentadas.

As autoridades chinesas querem se antecipar ao “desmantelamento massivo de equipamentos” que se aproxima. E com esse propósito, pretendem ter já no final da década um sistema de reciclagem “basicamente maduro”, válido tanto para os painéis fotovoltaicos quanto para as instalações com turbinas eólicas.

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Resíduos acumulados em projetos de energia fotovoltaica, segundo as projeções da IRENA.

E como isso será conseguido? O que os especialistas do NDRC querem é elaborar padrões e regras industriais que detalhem como fechar, desmantelar e reciclar instalações renováveis. Dessa forma, segundo o South China Morning Post (SCMP), serão fornecidos uma série de parâmetros e diretrizes técnicas para que as indústrias fotovoltaica e eólica reciclem seus equipamentos descartados.

Entre suas diretrizes, consta que os fabricantes devem projetar equipamentos fáceis de desmontar e reciclar e que os operadores de energia também serão responsáveis por desmontar os equipamentos uma vez que tenham completado sua função. Os resíduos não poderão ser enterrados em aterros sanitários. Nesse esforço, a NDRC propõe que os fabricantes ofereçam serviços de reciclagem ou se aliem a empresas que o façam.

Mas… qual é o tamanho do desafio? Temos alguns números que nos ajudam a entender. Os especialistas citados pelas autoridades chinesas em seu estudo preveem — segundo a Reuters — que até 2030 a China deverá reciclar cerca de 1,5 milhões de toneladas métricas e a carga de resíduos disparará com o tempo até chegar a cerca de 20 milhões de toneladas em algumas décadas, em 2050.

Não são as únicas referências que temos. Estimativas da Greenpeace indicam que até 2040 o país retirará instalações correspondentes a cerca de 250 GW de capacidade solar e cerca de 280 GW de geração eólica.

Isso ocorre apenas na China? Não. Na Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), fizeram as contas e suas estimativas são contundentes: “À medida que o mercado fotovoltaico aumenta, também aumentará o volume de painéis retirados, e grandes quantidades de resíduos anuais são esperadas para o início da década de 2030”. Para ser mais preciso, seus técnicos esperam que os resíduos de instalações fotovoltaicas acumulados em nível internacional passem de 0,2 Mt em 2021 para 4 Mt em 2030, quase 50 Mt em 2040 e mais de 200 Mt em 2050. “Os países membros do G20 fornecerão a maior parte dos resíduos previstos”, concluem.

Temos mais dados? Sim. A WindEurope também alerta que já há turbinas eólicas chegando ao fim de sua vida útil e que, embora o número de pás retiradas até o momento tenha sido baixo, provavelmente aumentará nos próximos anos. “Espera-se que cerca de 25.000 toneladas de pás cheguem ao fim de sua vida útil anualmente até 2025”, calculam.

Suas estimativas preveem uma carga particularmente intensa na Alemanha, Espanha e Dinamarca. No final da década, prevê que também começarão a desmantelar aerogeradores em outros países da Europa, como Itália, França e Portugal, e o volume anual de pás descartadas se duplicará até 52.000 toneladas em 2030.

E por que agir na China? Por causa da ambição do país em termos de renováveis. O gigante asiático estabeleceu o objetivo de alcançar a neutralidade de carbono até 2060 e reduzir sua dependência do carvão, um propósito ambicioso para o qual está impulsionando as instalações renováveis.

Só durante este ano, propôs-se a instalar 160 GW de energia eólica e solar e quer dispor de 1.200 GW de capacidade em larga escala até 2030, uma ambição que, segundo o SCMP, poderia ser alcançada cinco anos antes do previsto. “A energia eólica e solar cresceram em escala pela primeira vez na China no início dos anos 2000 e a vida útil média dos painéis e turbinas é de cerca de 20 a 25 anos”, lembra ao jornal hongconguês Li Jiatong, ativista do Greenpeace no Leste da Ásia.

É um desafio simples? A China não é, nem de longe, a primeira a prestar atenção à reciclagem de aerogeradores e pás. A própria indústria já vem há algum tempo buscando estratégias eficientes para reciclar suas pás, turbinas e painéis solares, um esforço complexo para o qual tem proposto estratégias de todo tipo: processar os geradores para extrair metais raros, reutilizar as pás para criar pontes e mobiliário urbano, decompô-las e até recuperar parte de seus compostos para a elaboração de gomas de mascar. Tudo para evitar que, com a aposentadoria, as turbinas deixem de ser aliados ambientais para se tornar um problema.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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