Pesquisadores chineses desenvolvem método inédito de resfriamento de superliga que pode revolucionar os motores a jato e acelerar os programas furtivos e hipersônicos da aviação militar da China.
Um avanço metalúrgico anunciado por pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Dalian, no nordeste da China, pode reposicionar o país na disputa global pelo domínio da aviação militar de sexta geração e pelo controle da próxima era de armamentos hipersônicos.
Trata-se de uma nova técnica de resfriamento de superligas metálicas aplicadas em discos de turbina — componentes fundamentais para o funcionamento de motores a jato de alta temperatura, que alimentam tanto caças furtivos quanto veículos hipersônicos.
Segundo o jornal estatal Science and Technology Daily, a inovação pode melhorar consideravelmente o desempenho e a durabilidade dos motores chineses, encurtando a distância tecnológica entre o país e as potências ocidentais, como os Estados Unidos.
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Como funciona a técnica que pode mudar os motores chineses
O novo processo consiste em resfriar rapidamente discos metálicos com uma névoa de jatos d’água em alta velocidade, melhorando drasticamente o controle do tamanho dos grãos cristalinos no material.
De acordo com a equipe de pesquisa liderada por Shi Jinhe, o método permite uma velocidade de resfriamento 3,75 vezes maior e uma melhoria de quatro vezes na uniformidade do tamanho dos grãos em comparação com métodos convencionais.
Num teste de laboratório, um disco metálico a 1.200 °C foi resfriado para 673 °C por minuto — uma taxa incomum, mesmo para os padrões avançados da indústria chinesa.
Essa inovação permite fabricar discos de turbina com maior resistência térmica, menor desgaste e maior vida útil, essenciais para o desempenho de motores de alta pressão, alta rotação e longa duração, como os necessários em caças furtivos e mísseis hipersônicos.
O impacto direto nos jatos stealth e na nova geração de armas
A tecnologia desenvolvida em Dalian pode ser uma peça-chave no amadurecimento de programas estratégicos da China, como os motores WS-15, projetados para o caça J-20, e os futuros propulsores para aeronaves de sexta geração.
Discos de turbina mais resistentes são fundamentais em motores TBCC (ciclo combinado baseado em turbina), arquitetura promissora para voos hipersônicos, nos quais a transição de um motor convencional a jato para um ramjet ou scramjet exige que o conjunto suporte temperaturas extremas, choques térmicos e vibrações prolongadas.
O desempenho do motor depende diretamente da eficiência desses discos. Segundo analistas de defesa, melhorar a durabilidade desses componentes é crítico para manter empuxo elevado e reduzir falhas durante voos extremos — seja em aeronaves furtivas, drones de ataque ou mísseis com alcance intercontinental.
A “doença cardíaca” da China começa a ser tratada?
Durante anos, a China sofreu com um ponto fraco notório no desenvolvimento militar: a dificuldade de projetar e fabricar motores de qualidade internacional. A situação era tão crítica que os próprios militares chineses apelidaram esse gargalo de “doença cardíaca“.
O J-20, caça de quinta geração da China, foi lançado com motores WS-10 considerados fracos e pouco confiáveis. Apenas em julho de 2023, um protótipo do J-20 finalmente voou com dois motores WS-15, mais potentes e eficientes, após mais de uma década de atrasos.
A situação, no entanto, está mudando. A superliga DD6, já empregada no WS-15, e o desenvolvimento da superliga DD9, ainda mais resistente ao calor, mostram que a China está avançando rapidamente na ciência dos materiais — uma base crítica para motores mais modernos e confiáveis.
Da pesquisa à aplicação: um desafio industrial de larga escala
Embora a técnica de resfriamento desenvolvida pela equipe de Dalian represente um salto notável, transformar essa inovação em produção industrial viável ainda é um desafio.
A escalabilidade do processo, a repetibilidade dos resultados em ambientes industriais e a integração com as cadeias de montagem dos motores serão os próximos passos cruciais. Caso essa tecnologia seja adotada em massa, o país poderá reduzir:
- Os custos de manutenção dos motores,
- A frequência de falhas em voo,
- E ainda aumentar a autonomia e eficiência energética das futuras plataformas de guerra.
Com isso, Pequim avança sua ambição de liderar a próxima geração de jatos stealth, drones autônomos e veículos hipersônicos, com propulsores mais duráveis, confiáveis e tecnologicamente competitivos.
Corrida pela superioridade aérea do século 21
No contexto geopolítico, o avanço da China não é apenas técnico — é estratégico.
Enquanto os EUA investem bilhões em caças de sexta geração como o NGAD (Next-Generation Air Dominance) e o Reino Unido lidera o programa Tempest, a China busca responder com um sistema aéreo furtivo, hipersônico e impulsionado por inteligência artificial.
Neste cenário, dominar a tecnologia de motores — o “coração” de qualquer aeronave — é o último obstáculo para alcançar a autossuficiência militar de ponta.
Se conseguir transformar essa inovação metalúrgica em motores mais eficientes, a China pode finalmente se livrar da dependência de importações russas e avançar em direção à liderança tecnológica na aviação de defesa.