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China deixa 9 milhões de toneladas de soja do Brasil de lado e vai acionar reservas estatais; veja o motivo

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 20/10/2025 às 21:18
China retarda compras de soja brasileira devido a prêmios elevados e tensão comercial, e pode acionar reservas estatais para cumprir fornecimento imediato.
China retarda compras de soja brasileira devido a prêmios elevados e tensão comercial, e pode acionar reservas estatais para cumprir fornecimento imediato.
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A desaceleração das compras chinesas de soja brasileira, motivada por prêmios elevados e tensões comerciais, pode levar Pequim a recorrer às reservas estatais para suprir a demanda enquanto espera a chegada da nova safra sul-americana.

A China entrou em outubro sem fechar grande parte do abastecimento de soja para dezembro e janeiro.

Com os prêmios elevados da soja brasileira e margens de esmagamento no vermelho, tradings dizem que Pequim pode recorrer às reservas estatais para cobrir a demanda imediata.

Pelas contas de três fontes de mercado, ainda faltam 8 a 9 milhões de toneladas para embarque nesse bimestre, após compras volumosas da Argentina para entrega até novembro.

O pano de fundo é o congelamento das aquisições nos Estados Unidos em meio à escalada da disputa comercial.

Reservas estatais entram no radar

Sem acordo tarifário com Washington e diante de ofertas brasileiras consideradas “caras” pelos compradores, o uso de estoques públicos voltou à mesa.

Um trader que fornece grãos à China resumiu a paralisação: “A China não está comprando grão dos EUA por causa da guerra comercial e a soja brasileira está muito cara.”

Segundo ele, a liberação de parte das reservas pode ocorrer “no fim do ano e no começo do próximo, até a chegada da nova safra sul-americana.”

Prêmios no Brasil travam negócios

Os diferenciais pagos por cargas do Brasil permanceram entre US$ 2,8 e US$ 2,9 por bushel sobre o contrato de novembro em Chicago, ante cerca de US$ 1,7 por bushel nas ofertas dos Estados Unidos.

Nesta combinação, esmagadoras chinesas têm pouca motivação para garantir navios para dezembro e janeiro, já que a origem brasileira comprime margens que vêm negativas na maior parte do segundo semestre.

Um operador em Xangai descreveu o apetite como “fraco”, enquanto o mercado espera sinais de alívio nos custos.

Argentina ganha espaço no curto prazo

Para cobrir as próximas semanas, compradores chineses aumentaram os pedidos na Argentina, beneficiados por condições comerciais momentaneamente mais competitivas.

Desde o fim de agosto, relatos de mercado davam conta de lotes adicionais também do Uruguai, movimento que ajuda a compor o fluxo de chegada até novembro.

Pelo menos 2,43 milhões de toneladas de soja de Argentina e Uruguai teriam sido fechadas para embarque entre setembro e maio, segundo operadores consultados.

EUA fora do jogo e setembro sem embarques

A corrente comercial com os Estados Unidos segue travada.

Em setembro, a China não importou uma única tonelada de soja norte-americana, algo que não ocorria desde 2018, segundo dados mais recentes.

No mesmo período, as compras totais do país foram sustentadas por oferta sul-americana, com o Brasil respondendo pela fatia dominante.

O bloqueio às cargas dos EUA ocorreu em meio a tarifas e novos atritos entre os dois governos.

Enquanto isso, a retórica política aumentou.

Na terça-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, acusou Pequim de evitar “propositalmente” as compras de soja, chamando a atitude de “ato economicamente hostil” que trouxe dificuldades a produtores norte-americanos.

O tema tende a aparecer numa reunião prevista na Coreia do Sul entre Trump e o presidente Xi Jinping, embora Pequim ainda não tenha confirmado publicamente a conversa.

Janela para reaproximação segue aberta

Mesmo com o impasse, processadores chineses não descartam totalmente suprimentos dos Estados Unidos caso surja um acordo comercial.

Para o consultor Johnny Xiang, da AgRadar Consulting, se houver entendimento entre os governos, compras para dezembro e janeiro tendem a migrar para os EUA, “com preços mais atraentes do que as ofertas sul-americanas” naquele intervalo.

A avaliação circula entre tradings e analistas como um cenário condicional, dependente de gesto político bilateral.

Nova safra brasileira pode aliviar os preços

Do lado da oferta, a expectativa é de colheita recorde no Brasil em 2025/26.

A estatal Conab projeta 177,64 milhões de toneladas, cerca de 6 milhões acima do ciclo anterior.

Com clima favorável, partes do Centro-Oeste podem iniciar embarques no fim de janeiro, encurtando a entressafra chinesa e potencialmente reduzindo prêmios.

Até lá, porém, o custo elevado na origem brasileira deve continuar limitando fechamentos para dezembro e janeiro.

Participação dos EUA encolheu desde 2016

A recomposição do mix de fornecedores chineses é antiga e se acentuou desde a primeira gestão Trump.

Em 2016, os Estados Unidos respondiam por 41% das compras de soja da China.

Em 2024, essa fatia caiu para cerca de 20%, segundo dados aduaneiros.

A virada resultou em maior protagonismo do Brasil e, mais recentemente, em saltos pontuais de embarques da Argentina.

Em 2025, a dependência do Cone Sul ficou ainda mais visível.

Margens pressionadas e ritmo dos fechamentos

As margens de esmagamento negativas ajudam a explicar o compasso de espera dos compradores.

Quando o custo da matéria-prima sobe acima do retorno do farelo e do óleo, a indústria reduz o apetite por contratos futuros, empurrando decisões para “última hora” e privilegiando origens momentaneamente mais baratas.

Nesse ambiente, prêmios altos tendem a se corrigir apenas com maior disponibilidade física — o que, na visão de operadores, depende da chegada da nova safra brasileira no início de 2026.

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Harmon Brakus
Harmon Brakus
20/10/2025 21:41

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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