Um investimento bilionário da China no porto de Santos promete mudar a rota global do agronegócio, ampliando a presença da estatal COFCO no Brasil e reacendendo disputas comerciais entre chineses, brasileiros e norte-americanos.
China coloca mais de R$ 1 bilhão na mesa para construção de terminal no Brasil e deixa os EUA em alerta com ameaça direta ao seu domínio agrícola, diz canal Construction Time
O novo terminal graneleiro que a estatal chinesa COFCO International implanta no porto de Santos (SP) entrou em fase operacional em 2025 e tem previsão de aumento progressivo até 2026.
A capacidade própria da companhia no Brasil deve passar de cerca de 3 milhões para até 14 milhões de toneladas por ano, conforme o plano de ramp-up divulgado pela empresa.
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Segundo reportagem publicada pelo canal Construction Time, a iniciativa integra a estratégia chinesa de ampliar rotas de suprimento agrícola com ativos dedicados fora da Ásia.
O canal atribui ao projeto um papel central na diversificação logística de grãos, com foco em soja e milho embarcados no litoral paulista.
Expansão no maior porto da América Latina
Localizado no litoral de São Paulo, o porto de Santos encerrou 2024 com 179,8 milhões de toneladas movimentadas, recorde histórico da autoridade portuária.
Em 2025, o complexo manteve ritmo elevado, sustentado por safras volumosas e pelo reforço da oferta de berços e armazenagem para granéis sólidos vegetais.

Ainda de acordo com apuração do Construction Time, o avanço do terminal ocorre em um contexto de alta utilização da infraestrutura existente e de busca por ganhos de eficiência no escoamento do Centro-Oeste.
Especialistas ouvidos pelo setor portuário apontam que novas capacidades em Santos tendem a reduzir filas em janelas de pico e a dar previsibilidade de embarque.
Estrutura do terminal da COFCO em Santos
O empreendimento corresponde ao STS-11, um dos maiores terminais de granéis sólidos vegetais do porto.
Documentos públicos indicam capacidade anual projetada em torno de 14,3 milhões de toneladas, armazenagem estática próxima de 490 mil toneladas e dois berços com integração rodoferroviária.
As obras começaram em 2023, com operação por fases a partir de 2025 e plena carga estimada para 2026.
Para alimentar o terminal, a COFCO adquiriu 979 vagões e 23 locomotivas e firmou estrutura operacional com a Rumo, ampliando o fluxo ferroviário entre polos produtores do Centro-Oeste e a Baixada Santista.
Segundo a empresa, esse pacote adiciona até 4 milhões de toneladas por ano de capacidade de transporte dedicada ao STS-11.
Por que Santos é estratégico
Santos concentra retroáreas e conexões às malhas ferroviária e rodoviária que ligam Mato Grosso, Goiás e Paraná, estados com forte produção de soja e milho.
Especialistas em logística portuária afirmam que a localização e a escala do complexo funcionam como amortecedor de gargalos sazonais, ao distribuir volumes entre diferentes terminais e ampliar a vazão de carregamento de navios.
O canal Construction Time também apontou que, com ativos de grande porte e berços dedicados, operadores conseguem reduzir tempos médios de atracação e padronizar janelas de operação, o que tende a diminuir custos logísticos por tonelada em períodos de maior pressão de safra.
Impacto na geopolítica do agro

Desde 2018, quando se intensificou a disputa comercial entre China e Estados Unidos, analistas de comércio exterior registram maior diversificação de origens por parte de importadores chineses.
Em linha com essa tendência, o terminal de Santos é apresentado por fontes do setor como elemento de segurança de abastecimento, por reduzir a exposição a rotas alternativas mais longas e a operadores sem integração ferroviária no interior do Brasil.
Segundo o Construction Time, a ampliação de infraestrutura sob gestão de uma estatal chinesa em território brasileiro é acompanhada por agentes do agronegócio norte-americano, que monitoram efeitos potenciais sobre a participação dos EUA nas vendas à Ásia.
A avaliação corrente entre consultorias é que novos terminais fortalecem a competitividade brasileira quando câmbio, prêmios portuários e safra são favoráveis.
Números do agro brasileiro
O Brasil exportou mais de 100 milhões de toneladas de soja em grão em 2023, segundo dados consolidados por órgãos oficiais e entidades setoriais.
Em 2024, houve leve recuo, mas 2025 retomou o crescimento e projeta-se volume anual novamente acima de 100 milhões de toneladas, a depender da confirmação do ritmo no quarto trimestre.
A China permanece como principal destino, de acordo com as séries estatísticas de comércio exterior.
Investimento e financiamento
Os valores associados ao terminal variam conforme o recorte metodológico.
A COFCO divulgou R$ 1,64 bilhão para o ativo portuário e cerca de R$ 1,2 bilhão no pacote ferroviário relacionado à operação, incluindo material rodante.
Em comunicações setoriais, o escopo portuário também aparece traduzido como US$ 285 milhões, diferença explicada por câmbio e etapas de obra consideradas em cada publicação.
Apesar de metodologias distintas, as cifras convergem para um aporte bilionário em infraestrutura de exportação.
Operação e critérios ambientais
Materiais técnicos do projeto e da autoridade portuária mencionam carregadores de alta vazão, esteiras enclausuradas, mitigação de particulados e ruído e aproveitamento de águas pluviais.
Segundo especialistas em engenharia portuária, essas soluções estão alinhadas às práticas de ESG adotadas em terminais graneleiros de grande porte, com foco em controle ambiental e eficiência operacional.


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