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China avança sobre o Brasil com megaprojetos bilionários: ferrovias, portos e energia em jogo

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 07/11/2025 às 11:53
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A China intensifica sua presença no Brasil com megaprojetos bilionários em ferrovias, portos e energia, transformando o país em peça-chave da Nova Rota da Seda e no centro da disputa logística global

Em um movimento que reforça a presença da China na América do Sul, um novo acordo logístico pode mudar o mapa econômico do Brasil nos próximos anos. O país asiático assinou, em julho de 2025, um memorando de entendimento com o governo brasileiro para desenvolver estudos sobre um sistema integrado de transporte multimodal, conectando ferrovias, rodovias, portos e hidrovias em todo o território nacional.

A iniciativa faz parte de uma estratégia maior de Pequim: consolidar rotas comerciais seguras fora do eixo tradicional controlado pelos Estados Unidos e pela Europa, em um momento em que a disputa global por energia, minérios e alimentos se intensifica.

O corredor que ligará o Atlântico ao Pacífico

O projeto mais emblemático é a chamada Ferrovia Bioceânica Brasil–Peru, que pretende conectar o Centro-Oeste brasileiro ao Oceano Pacífico, passando pelos Andes e chegando ao porto de Chancay, no Peru. Esse megaprojeto, orçado em bilhões de dólares, encurtaria o caminho das exportações brasileiras e diminuiria a dependência do Canal do Panamá e das rotas atlânticas.

Segundo o governo federal, o acordo foi firmado entre a Infra S.A., vinculada ao Ministério dos Transportes, e o China Railway Economic and Planning Research Institute, responsável pela parte técnica. A parceria está na fase inicial de estudos de viabilidade, mas já é vista como uma das principais apostas logísticas do novo PAC e um eixo central da política de integração sul-americana.

Mapa del trazado previsto da Ferrovia Bioceânica Brasil–Peru, conectando o Atlântico ao Pacífico por meio dos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre até chegar ao litoral peruano, no porto de Chancay

Uma nova era de influência chinesa no Brasil

Nos últimos anos, a presença da China no setor de infraestrutura brasileira tem crescido em ritmo acelerado. Empresas estatais e fundos de investimento do país asiático já participam de projetos em energia, portos e ferrovias, incluindo concessões e parcerias público-privadas em estados como Bahia, Mato Grosso e Pará.

Analistas veem nessa expansão um reposicionamento estratégico do Brasil dentro da chamada Nova Rota da Seda, a iniciativa global de infraestrutura lançada por Xi Jinping em 2013. A proposta é transformar a América do Sul em um corredor seguro para escoar commodities agrícolas, minérios e energia, além de abrir espaço para novas rotas tecnológicas e industriais.

Mas essa aproximação também desperta alertas. Economistas apontam que, embora os investimentos chineses tragam recursos e empregos, eles podem ampliar a dependência de capital externo e reduzir a autonomia logística nacional, caso o controle sobre os corredores de exportação fique nas mãos de empresas estrangeiras.

Vista aérea do Porto de São Luís (MA), um dos principais polos logísticos do Norte e alvo de investimentos chineses para ampliar a capacidade de exportação de grãos, minérios e combustíveis do Brasil.

O jogo de interesses e os desafios ambientais

A Ferrovia Bioceânica atravessará áreas ambientalmente sensíveis, incluindo regiões próximas à Amazônia e fronteiras internacionais. Isso levanta preocupações quanto ao impacto ambiental e social de uma obra desse porte. Ambientalistas pedem garantias de que o traçado não afetará comunidades indígenas nem biomas frágeis.

O governo brasileiro afirma que o projeto seguirá critérios de sustentabilidade e que o objetivo é reduzir o custo e o impacto do transporte rodoviário, hoje responsável pela maior parte da emissão de CO₂ no país. Mesmo assim, especialistas destacam que o licenciamento e o financiamento ainda são pontos críticos que podem atrasar a execução.

Além do componente ambiental, há um forte elemento geopolítico: enquanto a China amplia sua influência na América Latina, os Estados Unidos buscam contrabalançar esse avanço com programas de infraestrutura próprios, como a Parceria pelas Américas para Prosperidade Econômica.

Mapa oficial da State Grid Brazil Holding S.A., mostrando as principais linhas de transmissão de energia controladas pela empresa chinesa no país, responsáveis por interligar regiões do Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul e fortalecer o sistema elétrico brasileiro

O Brasil no centro da disputa global por logística e energia

A nova onda de investimentos chineses no Brasil vai além das ferrovias. Pequim também está envolvida em projetos de energia solar, eólica e portos inteligentes, como o de São Luís (MA) e o megacomplexo industrial do porto de Suape (PE). Em paralelo, a estatal State Grid expandiu sua atuação no setor elétrico, conectando linhas de transmissão que cruzam o país de norte a sul.

Para o governo Lula, essas parcerias são estratégicas para acelerar o desenvolvimento e cumprir as metas do Plano de Transformação Ecológica e da Nova Indústria Brasil. Já para os observadores internacionais, trata-se de um movimento de xadrez econômico que pode reposicionar o país entre as maiores potências logísticas do planeta.

Se der certo, a ferrovia bioceânica poderá ser o marco de uma nova era de integração continental. Mas, se falhar, deixará como legado um alerta sobre o risco de apostar demais em um único parceiro econômico.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, vivendo no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Escrevo artigos sobre temas complexos em uma linguagem acessível, mantendo rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico

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