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China agora depende do Brasil? Terras raras, tarifaço e nova ordem global explicam virada histórica no comércio bilateral

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 02/08/2025 às 22:09
Entenda como a guerra comercial e as tarifas dos EUA fortaleceram a relação Brasil-China e impulsionaram exportações de terras raras e minérios.
Entenda como a guerra comercial e as tarifas dos EUA fortaleceram a relação Brasil-China e impulsionaram exportações de terras raras e minérios.
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Intensificação de tarifas entre Estados Unidos, China e Brasil altera o fluxo global de commodities e destaca novas oportunidades e desafios para a economia brasileira.

A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e diversas economias globais, a partir de abril de 2025, provocou uma reconfiguração inédita nas relações econômicas internacionais, especialmente no eixo Brasil-China.

O movimento recente do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre determinados produtos brasileiros reposicionou o Brasil como parceiro estratégico para a China, conforme avaliação de Wang Wen, reitor do Instituto de Estudos Financeiros da Universidade de Renmin, em Pequim.

Segundo dados divulgados pela Administração Geral das Alfândegas da China (AGA), o comércio bilateral entre Brasil e China apresentou crescimento significativo em maio e junho de 2025.

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No mês de maio, o volume comercializado entre os dois países registrou alta de 4,5% em relação ao mesmo período de 2024.

Em junho, o avanço foi de 2,4% sobre junho do ano anterior.

Esse aumento ocorre após um início de ano marcado por retração, quando, entre janeiro e abril, o comércio apresentou queda de 18,4%.

Os números refletem os efeitos diretos das novas tarifas impostas por Washington, especialmente após o chamado “Dia da Libertação” do então presidente Donald Trump.

De acordo com especialistas, o Brasil ganhou relevância como fonte alternativa de suprimentos agrícolas e minerais, especialmente em um cenário em que a China, impactada por tarifas norte-americanas de 30%, buscou diversificar fornecedores.

“Desde que os EUA lançaram sua guerra tarifária, a China aumentou suas importações do Brasil. Uma grande parte das importações agrícolas chinesas dos EUA foi substituída por importações brasileiras. Nessa perspectiva, o Brasil está se tornando cada vez mais importante para a China, e vice-versa”, explica Wang Wen.

A decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, oficializada em 30 de julho de 2025, deixou o Brasil com a maior alíquota entre os países atingidos pelo tarifaço norte-americano, ultrapassando até mesmo a taxação chinesa, atualmente em 30%.

Segundo o anúncio, 694 produtos brasileiros — incluindo suco de laranja e aviões — foram excluídos do tarifaço principal e seguem sujeitos à alíquota de 10%.

Contudo, a maioria dos itens exportados pelo Brasil foi atingida pela medida.

A resistência chinesa à política tarifária dos Estados Unidos ficou evidente nas negociações diplomáticas ao longo dos últimos meses.

Em determinado momento, as tarifas aplicadas pelos EUA sobre produtos chineses chegaram a 145%.

Após intensas rodadas de negociação, Pequim e Washington estabeleceram uma trégua, mas o embate comercial escancarou a disputa global por minérios estratégicos, principalmente as chamadas “terras raras”.

Disputa global por terras raras eleva importância do Brasil

O setor de terras raras — um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a fabricação de produtos de alta tecnologia, como smartphones, baterias e equipamentos militares — ganhou protagonismo na agenda bilateral Brasil-China em 2025.

A China segue como maior produtora mundial, sendo responsável por mais de 60% da oferta global.

Dados do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês) apresentados por uma matéria do site Poder 360 apontam que a China detém reservas estimadas em 44 milhões de toneladas desses minerais.

O Brasil, por sua vez, apesar de produzir atualmente cerca de 10 mil vezes menos terras raras do que a China, figura como detentor da segunda maior reserva mundial, estimada em 21 milhões de toneladas pelo USGS.

O país intensificou as exportações desses minerais para o mercado chinês no primeiro semestre de 2025, consolidando-se como fornecedor relevante, especialmente em um contexto de escalada tarifária e busca global por alternativas fora do eixo Estados Unidos-China.

Questionado sobre possíveis acordos exclusivos entre Brasil e Estados Unidos para a venda de terras raras, Wang Wen afirmou que tais movimentos não preocupam o governo chinês.

“As compras caras de minerais brasileiros pelos EUA elevarão os preços globais, aumentando assim a receita de direitos de mineração da China no exterior. No entanto, o principal mercado para os minerais brasileiros continua sendo a China. Alavancando seu capital, tecnologia e tamanho de mercado, a China pode manter sua influência aprofundando seus laços industriais com o Brasil”, avaliou o especialista.

Comércio Brasil-China: protagonismo agrícola, mineral e tecnológico

O avanço da relação comercial entre Brasil e China não se resume à dinâmica das tarifas e ao mercado de terras raras.

O Brasil consolidou-se como importante fornecedor de soja, milho, minério de ferro, carne e outros produtos agrícolas e minerais, setores impactados positivamente pela busca chinesa por diversificação de parceiros frente ao protecionismo norte-americano.

A posição do Brasil como protagonista no fornecimento de alimentos e minerais estratégicos, somada à relevância de suas reservas naturais, foi ressaltada por fontes do setor.

A intensificação das exportações brasileiras ao mercado chinês, especialmente de terras raras, insere o país em uma disputa tecnológica e industrial global, aumentando seu peso nas negociações multilaterais.

Enquanto a China adota postura de resistência ao protecionismo e defende uma agenda multilateral, o Brasil busca aproveitar o novo cenário para ampliar investimentos, atrair capital e fortalecer sua indústria de base.

A movimentação dos dois países reflete as transformações profundas na ordem econômica internacional, impulsionadas pelas disputas comerciais entre Estados Unidos, China e demais potências globais.

Perspectivas para os próximos meses na relação Brasil-China

Especialistas apontam que a tendência é de aprofundamento das relações comerciais sino-brasileiras, com destaque para o aumento das exportações de terras raras, produtos agrícolas e industriais.

O fortalecimento desses laços deve gerar impactos diretos na economia brasileira, criando oportunidades e desafios para diversos setores produtivos.

No entanto, o cenário permanece sujeito a incertezas, uma vez que a política tarifária dos Estados Unidos pode sofrer novos ajustes, e eventuais acordos bilaterais ou multilaterais poderão influenciar o fluxo de comércio entre as duas maiores economias emergentes do Hemisfério Sul e Leste Asiático.

Diante deste contexto de reconfiguração global e disputas por recursos estratégicos, uma questão permanece: como o Brasil pode se posicionar de forma soberana para extrair o máximo benefício da disputa entre Estados Unidos e China, sem comprometer sua autonomia e desenvolvimento sustentável?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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