Em uma trégua que expõe a dependência ocidental, os EUA fazem acordo sobre terras raras com a China após Pequim restringir a exportação de minerais essenciais para a indústria de defesa e tecnologia.
No final de junho de 2025, o mundo acompanhou o desfecho de uma crise que ameaçava paralisar a indústria global. Em uma demonstração de poder geopolítico, os EUA fazem acordo sobre terras raras com a China, cedendo a uma pressão que expôs uma de suas maiores vulnerabilidades estratégicas. O pacto encerrou semanas de tensão, mas deixou uma lição clara: a China não hesitará em usar seu domínio sobre minerais críticos como uma arma.
A história dessa “guerra” comercial é um estudo de caso sobre como o controle de uma cadeia de suprimentos se tornou uma das principais ferramentas de poder no século XXI. A trégua, embora bem-vinda, não resolve o problema de fundo e serve como um alerta para o Ocidente sobre sua perigosa dependência.
O que são as terras raras e por que a China domina este mercado?
As terras raras são um grupo de 17 metais indispensáveis para a tecnologia moderna. Elas são usadas em tudo, desde smartphones e carros elétricos até sistemas de mísseis e caças de combate, como o F-35, que precisa de mais de 400 kg desses materiais.
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O domínio da China neste setor é quase absoluto. O país não apenas extrai cerca de 70% das terras raras do mundo, mas, o mais importante, controla quase 90% de todo o processamento e refino. Isso significa que mesmo o minério extraído nos EUA ou na Austrália precisa, muitas vezes, ser enviado à China para ser transformado em produtos de alto valor, como os ímãs de neodímio.
A cronologia da crise: a escalada de tensões em 2025
A crise começou a se desenhar no início de 2025, com a imposição de novas tarifas americanas sobre produtos chineses. A China respondeu, mas seu movimento mais forte veio em 4 de abril de 2025. Naquele dia, Pequim impôs um novo e rigoroso regime de licenças para a exportação de sete tipos de terras raras pesadas e de ímãs.
Na prática, a medida congelou o fornecimento para o Ocidente. A falta desses componentes essenciais começou a causar paralisações em linhas de produção na Europa, no Japão e nos próprios Estados Unidos, especialmente nos setores automotivo e de defesa.
As negociações de emergência: a trégua de Genebra e o acordo de Londres
A pressão da indústria forçou os diplomatas a agirem. Em 10 e 11 de maio, uma reunião em Genebra, na Suíça, resultou em uma trégua de 90 dias. No entanto, a China não cumpriu totalmente o prometido, e as licenças de exportação continuaram bloqueadas.
Com a crise se agravando, uma nova rodada de negociações de emergência foi realizada em Londres, nos dias 9 e 10 de junho. As conversas, lideradas pelo Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e pelo Vice-Premier chinês, He Lifeng, estabeleceram as bases para o acordo final.
O que ficou acertado? Uma troca de commodities por tecnologia
O acordo foi formalmente anunciado entre os dias 26 e 27 de junho de 2025. A negociação foi, em essência, uma troca direta:
A China se comprometeu a “revisar e aprovar” os pedidos de licença de exportação, normalizando o fluxo de terras raras para o mercado global.
Os EUA, em contrapartida, concordaram em remover uma série de “medidas restritivas”, que, segundo fontes, incluem controles sobre a exportação de tecnologias sensíveis, como softwares para design de semicondutores e componentes para motores de aviação.
Uma vitória tática para a China e um alerta para o Ocidente
O fato de que os EUA fazem acordo sobre terras raras com a China foi visto por analistas como uma vitória tática de Pequim. A China não cedeu em sua principal arma: o regime de controle de exportações continua em vigor, e o país pode voltar a usá-lo como ferramenta de pressão no futuro.
Para os Estados Unidos e seus aliados, como a União Europeia e o Japão, a crise serviu como um alerta final. O episódio acelerou os planos de investimento em mineração e, principalmente, em capacidade de refino de terras raras em seus próprios territórios ou em países aliados. A busca pela “autonomia estratégica” e por uma cadeia de suprimentos livre da influência chinesa se tornou a maior prioridade para a segurança econômica e militar do Ocidente.