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‘Cemitérios de carros elétricos’ se espalham na China após colapso de startups automotivas e falta de infraestrutura para descarte

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 07/05/2025 às 12:38
'Cemitérios de carros elétricos' se espalham na China após colapso de startups automotivas e falta de infraestrutura para descarte
Foto: IA
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Imagens de grandes terrenos tomados por veículos elétricos abandonados se espalharam nas redes sociais e chamaram a atenção para o resultado de subsídios excessivos, falência de fabricantes e infraestrutura de recarga insuficiente.

Carros elétricos abandonados na China: A China, maior mercado de veículos elétricos do mundo, agora enfrenta um cenário inesperado: o surgimento de verdadeiros “cemitérios de carros elétricos”. Imagens que mostram milhares de veículos estacionados em terrenos baldios ou campos agrícolas, sem uso ou manutenção, têm circulado nas redes sociais e impactado a opinião pública. A cena contrasta com a imagem futurista associada à transição energética chinesa e levanta dúvidas sobre os efeitos colaterais da rápida eletrificação da frota automotiva.

Os chamados “cemitérios de carros elétricos” não são casos isolados. Relatos e registros fotográficos surgiram em cidades como Hangzhou, Nanning e Chengdu. Em muitos desses locais, veículos abandonados ainda mantêm adesivos de serviços de compartilhamento ou transporte por aplicativo, revelando sua origem no mercado de mobilidade urbana.

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‘Boom’ de startups e subsídios alimentou bolha de produção

A origem do problema remonta ao início da década passada, quando o governo chinês promoveu subsídios agressivos para estimular a produção e adoção de veículos elétricos. Em paralelo, centenas de startups surgiram com a promessa de revolucionar o setor automotivo com modelos próprios de carros elétricos urbanos.

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Com apoio estatal e crédito facilitado, empresas como Xpeng, WM Motor, Bordrin e outras menos conhecidas produziram frotas inteiras voltadas para locação, transporte urbano e aplicativos de carona. No entanto, muitas dessas empresas não sobreviveram aos desafios do mercado, como a competição feroz com marcas estabelecidas, custos de manutenção elevados e a falta de uma infraestrutura robusta de recarga nas cidades menores.

Quando os subsídios começaram a ser cortados por volta de 2020, o cenário mudou: centenas de milhares de veículos ficaram sem uso, e os investidores abandonaram os projetos. Sem compradores, frota ativa ou planos de reciclagem em escala, os veículos foram empilhados ou largados em terrenos ociosos.

Carros elétricos abandonados evidenciam falhas estruturais

Os “cemitérios de carros elétricos” na China revelam não apenas o colapso de startups mal planejadas, mas também falhas estruturais na transição energética do setor automotivo. A ausência de políticas claras para descarte e reciclagem de baterias, por exemplo, agrava o problema.

Especialistas apontam que, ao contrário dos carros a combustão, os veículos elétricos possuem componentes que exigem logística reversa especializada, sobretudo as baterias de íon-lítio. O descarte incorreto desses materiais pode gerar impactos ambientais significativos, como contaminação do solo e riscos de incêndio.

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Além disso, a reutilização ou reaproveitamento das baterias ainda enfrenta barreiras tecnológicas e regulatórias, o que transforma milhares de veículos em passivos ambientais e logísticos.

Efeito dominó: o que levou ao colapso de parte do setor

A crise dos veículos abandonados tem origem em três fatores principais, segundo especialistas da Universidade de Tsinghua e do China Automotive Technology and Research Center:

  • Produção maior que a demanda real: o excesso de confiança no crescimento da mobilidade elétrica levou à fabricação de volumes acima da capacidade de absorção do mercado.
  • Modelos de negócios frágeis: muitas startups apostaram exclusivamente em locações e serviços de aplicativo, que perderam força com o tempo, especialmente após a pandemia.
  • Falta de infraestrutura e manutenção: em cidades menores, onde parte da frota foi deslocada, faltam pontos de recarga e oficinas especializadas, o que inviabilizou a operação desses carros.

Impacto geopolítico e ambiental das terras raras e baterias

Outro fator que torna o problema delicado é a questão ambiental e geopolítica. A produção em massa de carros elétricos exige grandes volumes de lítio, níquel, cobalto e terras raras — elementos estratégicos na disputa global por tecnologias verdes.

Com tantos carros elétricos fora de uso, parte desses materiais preciosos está tecnicamente “encalhada” sem destinação adequada. Países como os Estados Unidos e membros da União Europeia acompanham com atenção o que acontece na China, pois o gerenciamento incorreto desses resíduos pode comprometer o argumento ecológico da eletrificação automotiva.

Possíveis soluções e novo ciclo regulatório

O governo chinês já iniciou uma nova fase de regulamentações voltadas para a reciclagem obrigatória de veículos elétricos fora de uso, incluindo incentivos para empresas que consigam recuperar e reaproveitar baterias.

Além disso, grandes montadoras como BYD, Nio e Geely já estão adotando políticas de economia circular, com centros de recondicionamento e reaproveitamento de materiais. A expectativa é que a próxima geração de veículos elétricos chineses seja mais durável, padronizada e compatível com redes de reciclagem e manutenção nacionais.

Mais do que um retrato de desperdício, os “cemitérios de carros elétricos” expõem os desafios de uma transição tecnológica acelerada sem planejamento completo. Eles mostram que, além da inovação, a mobilidade elétrica exige infraestrutura, política industrial de longo prazo, regulação ambiental e modelos de negócio sustentáveis.

A China, pioneira nessa transformação, também é agora um laboratório de erros e acertos que podem guiar outros países em busca da descarbonização de suas frotas.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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