Novo levantamento aponta 13,8% das residências sem uso no Japão, corrida por “akiyas” atrai estrangeiros, porém só uma parte está realmente à venda e há custos ocultos.
O Japão convive com um estoque recorde de casas vazias. O dado mais recente, da pesquisa nacional de Habitação e Terras, indica cerca de 9 milhões de imóveis desocupados e uma taxa de vacância de 13,8%, o maior nível em 30 anos. Os números divulgados são de 2024 pela estatística oficial japonesa.
O quadro combina envelhecimento populacional, êxodo de áreas rurais e heranças complicadas. O tema ganhou visibilidade global ao mostrar que, apesar da abundância de imóveis ociosos, apenas uma fração está no mercado.
A lacuna entre oferta e procura abriu espaço para a “corrida das akiyas”, imóveis antigos, muitas vezes rurais, anunciados a preços baixos. Estrangeiros passaram a olhar o país como moradia acessível ou chance de negócio, impulsionados pelo iene fraco. Mas há regras fiscais, reformas estruturais e burocracias que exigem planejamento.
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O que os dados oficiais revelam sobre as casas vazias no Japão
A pesquisa registrou aproximadamente 9,0 milhões de moradias antigas desocupadas no país e vacância de 13,8%, superando 2018. O crescimento vem desde os anos 1990 e inclui imóveis sem uso definido, além de unidades para aluguel que permanecem sem inquilino. É o retrato mais completo da vacância japonesa.
Os números ajudam a calibrar expectativas. Nem toda akiya está baratas ou à venda, um levantamento jornalístico com base na mesma pesquisa apontou que apenas cerca de 330 mil das 9 milhões estavam listadas para venda no período, milhões eram de aluguel ou sem status claro.
Para brasileiros, a mensagem é direta: há oportunidade, mas o universo de imóveis realmente negociáveis é menor que o volume total costuma sugerir. Filtrar por região e status de oferta é essencial.
Como funcionam as “akiya banks” e as políticas públicas
Muitos municípios mantêm “akiya banks”, catálogos locais com casas ociosas. Há ainda um banco nacional em fase operacional que integra anúncios de diversas localidades, parte da estratégia do governo para dar visibilidade e reaproveitar imóveis.
As listas variam, algumas trazem residências urbanas antigas, outras kominka (casas tradicionais de madeira). Em paralelo, o governo e agências públicas criaram linhas de apoio, como a parceria do financiamento Flat 35 voltada a projetos com reuso de vazios urbanos. Subsídios municipais para reforma também aparecem em certas cidades.
Na prática, o passo a passo costuma envolver inscrição na akiya bank local, visita técnica e negociação direta com proprietário ou imobiliária da região. Documentação em japonês e exigências de obras são comuns.
Estrangeiros entram no radar por causa de moradia barata, turismo e iene fraco
Reportagens e relatórios de mercado indicam interesse crescente de estrangeiros por akiyas e por imóveis japoneses em geral. Motivos, moeda desvalorizada, custos comparáveis menores e apelo de hospedagens tradicionais para turismo.
Consultorias imobiliárias como a Savills apontam que, com o iene fraco, ativos residenciais seguem atrativos para não residentes, o que sustenta a liquidez em cidades grandes e incentiva projetos em destinos turísticos.
Estrangeiros podem comprar imóveis no Japão em bases similares às de cidadãos japoneses, inclusive a propriedade do terreno, embora compra de casa não conceda visto. O desafio maior costuma ser financiamento e execução de reforma em regiões com escassez de mão de obra especializada.
Há custos invisíveis como impostos, regras e reformas que mudam a conta
Quem pensa em “casa barata no Japão” precisa olhar o custo total. Reforma estrutural, adequação sísmica e atualização de instalações podem superar o preço de compra, sobretudo em kominka antigas. Profissionais especializados são disputados em zonas rurais.
Há também o fator tributário. Em dezembro de 2023, entrou em vigor uma reforma da Lei de Medidas Especiais sobre Casas Vazias. Agora, imóveis classificados como “gestão inadequada” (etapa anterior ao “risco grave”) perdem a redução do IPTU local aplicável a terrenos com casa, que normalmente corta a base de cálculo a 1/6 ou 1/3. Imposto pode subir várias vezes se a prefeitura emitir advertência formal e o dono não corrigir.
Em paralelo, políticas federais e locais apoiam demolição segura, reforma e ocupação para reduzir riscos de desabamento, pragas e incêndios. A linha é clara: premiar quem cuida e reutiliza, punir abandono.
Quando a “akiya” faz sentido para brasileiros
A equação melhora quando o comprador busca moradia própria simples, ateliê ou pequeno negócio local e tem orçamento para obra faseada. Também pode funcionar para aluguel de temporada onde a prefeitura permite e o turismo sustenta demanda. Checar licenças de hospedagem é obrigatório.
Para investimento financeiro puro, é prudente comparar com mercados urbanos mais líquidos do Japão. A atratividade das akiyas depende de logística, emprego na região e custo de manutenção no longo prazo.
Você acha que o Japão deveria flexibilizar ainda mais a venda de akiyas para estrangeiros ou proteger comunidades locais de compras “especulativas”? Sua visão ajuda a entender se a corrida das casas vazias é solução de moradia ou só um novo nicho de investimento. Deixe seu comentário.