Diferença de preços entre China e Brasil nos carros elétricos expõe problemas estruturais. Saiba o que encarece tanto e como isso pode ser resolvido
A BYD já virou uma gigante dos carros elétricos na China. A marca domina o mercado por lá e exporta seus modelos para o mundo todo. Mas quem compara os preços dos modelos vendidos na China com os que chegam aqui no Brasil leva um susto: a diferença é enorme.
Afinal, por que um mesmo carro custa menos de R$ 100 mil na China e mais de R$ 230 mil no Brasil? Vamos entender o que está por trás disso — com dados atuais e sem enrolação.
O caso do BYD Atto 3
Vamos começar com um exemplo prático. O BYD Atto 3, chamado de Yuan Plus na China, custa entre US$ 15.940 e US$ 20.070 no país asiático, o que dá mais ou menos R$ 85 mil a R$ 106 mil na conversão direta, dependendo da versão (fonte: Car News China).
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Agora segura: no Brasil, esse mesmo carro é vendido por cerca de R$ 230 mil.
É o mesmo modelo, com as mesmas baterias, a mesma carroceria e o mesmo sistema de segurança. Então… por que essa diferença brutal?
Por que o preço dobra (ou triplica) no Brasil?
A resposta está em uma combinação de fatores que encarecem praticamente qualquer carro importado que chega ao nosso país. Veja os principais:
- Impostos: aqui tem IPI, ICMS, PIS, Cofins e, no caso de carros que vêm de fora, ainda tem o imposto de importação. Isso pode representar quase 100% de acréscimo no preço.
- Frete e logística: trazer veículos da Ásia até o Brasil tem um custo alto. E esse custo vai direto para o preço final.
- Poucos incentivos fiscais: países como China, Noruega e até EUA têm políticas fortes para incentivar a venda de elétricos. No Brasil, isso ainda engatinha.
- Mercado pequeno: com menos gente comprando, o custo de operação por unidade é maior. Ou seja, o carro acaba mais caro por falta de escala.
E não é só aqui…
Esse fenômeno não acontece só no Brasil. Na Alemanha, por exemplo, o mesmo BYD Atto 3 custa cerca de € 38 mil (R$ 220 mil), mostrando que essa estratégia de preço da empresa é global — a diferença é que, nesses mercados, há mais poder de compra e políticas públicas que ajudam o consumidor a bancar o carro.
A fábrica da BYD no Brasil: promessa de alívio no preço?
Para tentar contornar isso, a BYD anunciou a construção de uma fábrica em Camaçari, na Bahia, onde antes funcionava a planta da Ford. A promessa é começar a montar veículos aqui a partir de kits semiacabados ainda em 2025, com produção 100% nacional até o fim de 2026. A capacidade total será de 150 mil carros por ano.
Com isso, a expectativa é de que os preços comecem a cair, já que a produção local reduz impostos e custos de logística.
Uma polêmica no meio do caminho
Só que nem tudo são flores. Em dezembro de 2024, a obra da fábrica enfrentou um escândalo sério: autoridades brasileiras encontraram 163 trabalhadores chineses em situação análoga à escravidão, vivendo em condições precárias e trabalhando exaustivamente. Após a denúncia, a BYD cancelou o contrato com a empreiteira responsável e transferiu os operários para hotéis enquanto prometia rever todo o processo (fonte: The Guardian).
Aposta nos modelos mais acessíveis
Mesmo com os preços altos dos SUVs, a BYD decidiu investir em modelos populares. Um bom exemplo é o Dolphin Mini, que chegou recentemente com preços entre R$ 115.800 e R$ 119.800 — já bem mais acessível. O modelo, que é conhecido como Seagull em outros países, tem autonomia de mais de 300 km e mira diretamente o consumidor urbano brasileiro (fonte: SUVCar Brasil).
O futuro dos elétricos da BYD por aqui
Com a produção local prestes a começar, novos modelos mais baratos chegando e o crescimento gradual do mercado, é provável que a BYD vá ajustando seus preços com o tempo. Mas, enquanto isso, o consumidor brasileiro ainda paga caro para dirigir um carro que, em outros países, é quase metade do preço.
A boa notícia é que o jogo pode virar. E se os governos ajudarem com incentivos reais, talvez o carro elétrico deixe de ser coisa de nicho para virar opção de verdade nas ruas do Brasil.