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Carregadores rápidos de carros elétricos estão poluindo o ar e acendem alerta de saúde pública

Escrito por Geovane Souza
Publicado em 19/08/2025 às 22:13
Carregadores rápidos de carros elétricos elevam partículas finas e acendem alerta de saúde pública
Foto: Os ventiladores dos gabinetes, que resfriam eletrônicos de alta potência, agitam poeira e resíduos.
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Medições em 50 estações de recarga rápida encontraram partículas finas no ar acima do fundo urbano, o motivo principal é a ressuspensão de poeira pelos ventiladores dos gabinetes, levantando partículas de pneus e freios no entorno

Um levantamento conduzido por pesquisadores da UCLA analisou 50 estações de recarga rápida (DCFC) em 47 cidades do Condado de Los Angeles e comparou as leituras com áreas urbanas sem carregadores rápidos e com postos de gasolina. E a constatação é que os carregadores rápidos de carros elétricos elevam partículas finas que poluem o ar.

As concentrações de material particulado fino (PM2,5) nas proximidades imediatas dos gabinetes de potência ficaram significativamente acima do observado em outros locais urbanos. Em termos de intervalo, as médias diárias nas estações variaram de 7,3 a 39,0 µg/m³, enquanto os pontos urbanos de comparação oscilaram entre 3,6 e 12,4 µg/m³.

Segundo os autores, trata-se de hot spots localizados. A poucos metros do gabinete, as concentrações já caem de forma perceptível, e a algumas centenas de metros não há diferença em relação ao fundo urbano. Ainda assim, o nível medido próximo aos gabinetes ficou em torno de 15 µg/m³ em média, com picos instantâneos reportados que chegaram a ~200 µg/m³ em alguns pontos, o que reforça a necessidade de mitigação no local de exposição.

O artigo científico, publicado na revista Environment International, detalha a metodologia e confirma que o fator crítico é a área do gabinete de potência dos carregadores DC. A pesquisa revisada por pares dá respaldo técnico às recomendações de engenharia apresentadas pelos autores.

Por que isso acontece: ventiladores e “poeira de tráfego”

Diferentemente de carros a combustão, veículos elétricos não têm escapamento. O problema identificado é outro: os ventiladores dos gabinetes, que resfriam eletrônicos de alta potência, agitam poeira e resíduos previamente depositados nas superfícies, levantando partículas de pneus e freios que compõem parte relevante do PM2,5. É o fenômeno de ressuspensão mecânica, já conhecido em ambientes urbanos de tráfego intenso.

Nas comparações feitas pela equipe, postos de gasolina medidos chegaram a cerca de 12 µg/m³, enquanto os carregadores rápidos registraram, no ponto mais crítico, valores médios em torno de 15 µg/m³ junto aos gabinetes. A diferença não transforma os carregadores no principal vilão da poluição urbana, porém cria pontos de exposição que merecem controle.

Importante frisar: o estudo não contraria o consenso de que eletrificar a frota reduz emissões e melhora a qualidade do ar na escala da cidade. O alerta é para ajustes de projeto e operação das estações de alta potência para que a transição seja, de fato, mais limpa também no entorno imediato da recarga.

O que dizem as normas: OMS e padrões nacionais

A Organização Mundial da Saúde recomenda que a média anual de PM2,5 não ultrapasse 5 µg/m³ e que a média de 24 horas fique até 15 µg/m³. Esses valores funcionam como referência global para políticas públicas e avaliação de risco. Nos pontos analisados, quase metade das estações ultrapassou o guia diário, segundo as reportagens e materiais da universidade sobre o estudo.

No Brasil, a Resolução Conama 506/2024 atualizou os padrões nacionais de qualidade do ar e oferece diretrizes para aplicação por estados e municípios. Para equipamentos de recarga rápida, técnicos e reguladores podem usar esses parâmetros como base para licenciamento, monitoramento e eventual normatização específica sobre PM2,5 em áreas de permanência. Conama 506/2024 é a âncora regulatória mais recente no país.

Na prática, a incorporação do PM2,5 em projetos de infraestrutura elétrica já é coerente com a orientação da OMS e com a agenda de saúde ambiental, sobretudo em espaços com circulação de pessoas por vários minutos, como corredores de recarga.

Impacto para o Brasil: rede cresce e pede boas práticas

A expansão da recarga pública no Brasil é acelerada. Em fevereiro de 2025, havia 14.827 eletropostos públicos e semipúblicos mapeados, sendo 16% de recarga rápida (2.430 DC). O número de DCFC subiu cerca de 60% entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025, sinalizando que áreas de maior potência tendem a se multiplicar em vias urbanas, shoppings e rodovias. Esse crescimento torna o tema relevante já.

Do ponto de vista de planejamento urbano, a lição de Los Angeles é direta. Na expansão brasileira, vale posicionar gabinetes longe de pontos de espera, adotar filtros e vedações no fluxo de ar, e prever rotina de limpeza úmida do piso para reduzir poeira solta. A proteção de áreas sensíveis, como escolas e creches, também deve entrar no checklist de licenciamento.

Como ainda faltam estudos nacionais de mesma escala, há oportunidade para universidades e órgãos ambientais testarem metodologias semelhantes e, se necessário, definirem regras preventivas específicas para estações DC de alta potência.

Respostas da indústria e soluções imediatas

A UCLA sugere mitigação relativamente simples, como instalar filtros nos gabinetes para evitar que o ventilador redistribua partículas, além de ajustes no layout para direcionar a exaustão longe de áreas de permanência. Um porta-voz da ChargePoint afirmou que a empresa já impõe altura mínima para entrada e exaustão de ar nos DC atuais e que planeja adicionar filtros aos equipamentos para reduzir o risco de entrada e saída de poeira e partículas. Filtros de ar são, portanto, uma resposta concreta em avaliação.

Outras medidas operacionais incluem paisagismo como barreira, telamentos, monitoramento de PM2,5 em locais de maior movimento e orientação ao usuário para aguardar dentro do veículo com ar-condicionado em recirculação durante cargas rápidas em ambientes com poeira. São práticas alinhadas às recomendações dos autores e compatíveis com a manutenção rotineira de estações.

Nos Estados Unidos, a discussão ganha urgência porque a rede de DCFC superou 60 mil portas públicas neste ano, com crescimento projetado robusto até 2040. A escala amplifica o benefício de soluções rápidas e padronizadas.

O que muda para gestores, operadores e motoristas

Para gestores públicos, a recomendação é incluir PM2,5 nos processos de licenciamento de eletropostos rápidos, exigir planos de mitigação e priorizar implantação longe de áreas sensíveis. Operadores e fabricantes podem avançar com filtros, vedações, revisão do fluxo de ar e limpeza frequente do entorno, além de redesenhar a posição dos gabinetes para reduzir a exposição.

Motoristas podem optar por locais arejados, ficar no carro com recirculação ativada e evitar permanecer ao lado dos exaustores durante a carga.

Veículos elétricos continuam essenciais para reduzir poluentes e gases de efeito estufa em escala urbana. Para que a transição seja coerente com a promessa de ar mais limpo, a infraestrutura de recarga rápida precisa incorporar controles simples e eficazes já na fase de projeto e operação.

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Geovane Souza

Geovane Souza é especialista em criação de conteúdo na internet, ações de SEO e marketing digital. Nas horas vagas é Universitário de Sistemas de Informação no IFBA Campus de Vitória da Conquista.

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