As importações argentinas de carne do Brasil saltaram 724% entre janeiro e julho, chegando a US$ 146 milhões e 52 mil toneladas. Com frango ganhando espaço e a bovina ainda cara, parte da proteína que perdeu atratividade em outros destinos encontra rota natural no Cone Sul.
A Argentina acelerou as importações de carne do Brasil entre janeiro e julho de 2025, somando US$ 146 milhões em compras e 52 mil toneladas no período, um avanço de 724% em valor e 536% em volume na comparação com 2024. Os números, compilados a partir da Secex, mostram que o país vizinho abriu mais espaço para proteína brasileira num momento de recomposição de oferta interna e ajuste de preços no mercado local.
Na leitura regional, o movimento é reforçado por um quadro em que o Brasil já responde por cerca de um quarto das importações totais argentinas em 2025, segundo o Indec. Esse ganho de participação ajuda a explicar por que as compras de alimentos — e de carnes, em particular — ficaram mais visíveis nas estatísticas desde o início do ano.
Parte da carne que perdeu atratividade nos EUA ou em outros destinos encontra, no curto prazo, uma rota natural no Cone Sul. O resultado é mais demanda argentina por proteína brasileira, melhora no uso de capacidade dos frigoríficos e maior diversidade de destinos para o exportador nacional.
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Quais proteínas puxam a demanda: frango, carne bovina e suína
Os dados por categoria sugerem que a alta ocorre nas três proteínas. No frango, as compras argentinas somaram cerca de 13 mil t no acumulado até julho, +528% versus 2024, ainda um volume pequeno frente aos grandes clientes do Brasil, mas suficiente para mexer no balanço local de oferta.
Na carne bovina, o salto é chamativo porque partiu de uma base muito baixa. No primeiro semestre, a Argentina importou cerca de 6,2 mil t de carne bovina brasileira, contra menos de 200 t um ano antes. Em valor, as compras de bovina brasileira no período de janeiro a julho chegaram a US$ 25 milhões, evidenciando recomposição tática de abastecimento.
A carne suína também ganhou terreno. Leitura setorial aponta avanço expressivo da suinocultura brasileira no mercado vizinho em 2025, com volumes acumulados próximos de 30–32 mil t no primeiro semestre e início do terceiro trimestre, na esteira de preço competitivo, regularidade sanitária e logística curta.
Para quem acompanha o setor, a fotografia é esta: frango cresce porque substitui e cabe no bolso; bovina entra como alívio pontual de oferta; e suína amplia espaço com custo relativo atrativo e cadeia brasileira muito eficiente.
Por que a Argentina mudou o consumo: renda, preços e oferta interna
O pano de fundo está no carrinho de compras do argentino. Em 2024, o consumo per capita de frango (≈49,3 kg) superou o de carne bovina (≈48,5 kg) pela primeira vez em décadas, um marco histórico associado a inflação elevada, queda de renda real e encarecimento da bovina. Em 2025, mesmo com desinflação gradual, a troca de proteína ainda é visível — frango mais barato entra, bovina recua e suína sobe alguns degraus.
Essa migração de consumo se soma a uma oferta doméstica pressionada por custos e por ajustes de rebanho, criando janelas de importação. É aí que o Brasil aparece: escala, sanidade reconhecida, capilaridade logística e diversificação de mercados colocam o produto brasileiro como primeira opção quando a Argentina precisa repor estoques ou suavizar preços.
Para o leitor brasileiro, vale notar que movimentos cíclicos na Argentina costumam ter efeito rápido nas estatísticas do comércio bilateral, ampliando ou reduzindo o efeito-preço ao produtor e a gordura de margens da indústria exportadora.
Impactos para Brasil e Argentina: preços internos, indústria e câmbio
Para o Brasil, a guinada argentina é boas-vindas: ajuda a amortecer choques em destinos tradicionais, sustenta preços ao produtor e melhora a utilização de plantas num ano de agenda internacional desafiadora. Ao diversificar destinos e equilibrar mix de proteínas, a indústria reduz riscos e melhora previsibilidade de fluxo de caixa.
Para a Argentina, o efeito é misto. De um lado, importar mais carnes ajuda a temperar picos de preço e garantir abastecimento; de outro, aperta o caixa em dólar e eleva a dependência de um fornecedor próximo — embora com câmbio e logística favoráveis. Com 25% das importações vindas do Brasil neste ano, qualquer oscilação cambial ou barreira temporária pode repercutir nos preços ao consumidor.
No comércio bilateral, a fotografia de 2025 mostra a Argentina aumentando compras do Brasil, enquanto as vendas argentinas ao Brasil tiveram fases de queda interanual, algo típico de momentos em que a demanda doméstica se recompõe com apoio do parceiro regional.
O que acompanhar nos próximos meses, sinais para o produtor e para o varejo
Acompanhe o ritmo de recomposição da oferta interna argentina. Se frigoríficos locais normalizarem o abate e custos melhorarem, a pressão importadora pode desacelerar.
Segundo, olho nas séries mensais de Secex e Indec. A manutenção do share do Brasil nas importações argentinas e novas leituras de volume por proteína dirão se o pico atual vai virar novo patamar ou ajuste transitório.
Monitore preços ao consumidor. Se a carne bovina continuar cara frente ao frango, a substituição tende a persistir, sustentando um corredor firme para frango e suína brasileiras.
Por fim, vale seguir a agenda sanitária e logística. Regularidade de habilitações, fretes previsíveis e câmbio menos volátil são os ingredientes que mantêm o Brasil competitivo e asseguram estoque ao vizinho.
Palnoku do trump epstein